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Mais de 2600 arquitectos portugueses pediram certificados para trabalhar no estrangeiro numa década

25 de outubro de 2024

Entre 2014 e 2023, 2609 arquitectos solicitaram à Ordem dos Arquitectos (OA) certificados para a prática da profissão no estrangeiro. Este valor equivale a mais de 10% do total de inscritos activos nesta ordem profissional. No mesmo período, 510 estrangeiros pediram admissão à OA.

Estes dados são revelados pela OA na semana em que se realiza, na sua sede, em Lisboa, a reunião da ENACA - European Network of Architects’ Competent Authorities, entidade que apoia o acesso dos arquitectos à profissão nos países europeus, possível através do reconhecimento das competências e qualificações.

“Portugal está na cauda da Europa quanto à regulação do exercício dos serviços de arquitetura e à inexistente regulamentação dos seguros de responsabilidade civil. Daí a relevância desta reunião em Lisboa, permitindo aos colegas arquitectos europeus conhecerem a realidade portuguesa para que, em conjunto, possamos reflectir sobre as melhores soluções”, refere Avelino Oliveira, presidente da OA. “A OA está em linha com o que é defendido na Europa quanto à integração dos jovens arquitectos na prática profissional e queremos debater formas de facilitar a entrada dos recém-formados no mercado de trabalho nacional e de garantir a mobilidade dos arquitectos neste nosso espaço comum”, explica o responsável.

A OA indica que este será também um momento para reflexão sobre a regulação profissional, as transposições legislativas de directivas europeias, a formação contínua profissional tendencialmente obrigatória e as potencialidades e desafios da Inteligência Artificial. Entre os presentes nesta reunião, a 25 de Outubro, estarão a chair da ENACA, Olga Mihalikova e Ruth Schagemann, presidente do CAE – o Conselho dos Arquitectos da Europa.

De acordo com os dados coligidos pela OA, salienta-se uma profissão em que 51% dos membros tem menos de 40 anos, 46% são mulheres e que teve um crescimento acelerado no século XXI, com a duplicação em 20 anos do número de membros inscritos.

Relativamente a saídas de arquitectos para o estrangeiro, a OA assinala que o ano de 2014 foi aquele que registou o maior número de solicitações de certificados para a prática no estrangeiro (535). Desde então, ocorreu uma tendência descendente em quase todos os anos – com uma média anual de 260 arquitectos que manifestaram a intenção de exercer lá fora. O Reino Unido foi o destino com mais indicações dessa intenção, de acordo com os dados recolhidos pela Ordem dos Arquitectos. Angola e Brasil que estavam entre os cinco países mais procurados nos primeiros anos deste período em análise, deixaram, entretanto, esse top, que agora inclui apenas países do continente europeu.

2024: mais entradas do que potenciais saídas

Até 30 de Setembro do corrente ano, 85 arquitectos solicitaram este certificado para prática no estrangeiro – um valor que corresponde a cerca de 10% do total de novos arquitetos inscritos anualmente na Ordem. Estes dados não correspondem ao número de arquitetos portugueses que trabalham no estrangeiro, mas sim aqueles que solicitaram a certificação com esse intuito.

Em sentido contrário, numa década, 510 arquitectos estrangeiros pediram para ser admitidos na Ordem dos Arquitectos em Portugal. Só neste ano de 2024, o número de solicitações ascende já às 104, um valor muito superior a qualquer um dos anos da década passada.

“Os números da última década revelam que os arquitectos portugueses conseguem mobilidade laboral no espaço europeu, mas a capacidade das empresas de serviços de arquitetura não conseguem competir nesses mercados, muito por culpa do enfraquecimento do tecido empresarial destes serviços que as políticas públicas impuseram”, diz Avelino Oliveira. O presidente da OA reforça: “Os arquitetos que saíram na sua maioria não voltaram, nem conseguiram ajudar as empresas-ateliers portuguesas a competirem no mercado europeu, pelo que é premente abordarmos e termos mecanismos que facilitem a prática dos nossos colegas noutros países europeus e também a instalação dos arquitectos estrangeiros e o seu exercício por cá”, diz Avelino Oliveira.