MIPIM 2025: Portugal continua a viver um boom imobiliário pós-pandemia

Regresso de Cannes após a edição 2025 da MIPIM, o mais prestigiado evento do setor imobiliário mundial, com várias conclusões e perspetivas que merecem reflexão.

Este ano, o sol mediterrânico habitual deu lugar a um céu cinzento e chuvas frias. Apesar disso, a atmosfera em Cannes manteve-se aquecida pelos negócios e pelas oportunidades geradas. Portugal destacou-se, mais uma vez, como um dos mercados imobiliários mais dinâmicos da Europa, atraindo atenção significativa devido à estabilidade, qualidade de vida e abertura aos investidores internacionais.

Uma prova concreta do sucesso português foi a atribuição do prémio "Best New Mega Development" ao projeto EntreCampos, em Lisboa, promovido pela Fidelidade Property. Este projeto, desenvolvido em colaboração com grandes nomes da arquitetura portuguesa como Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura, confirma a excelência e o prestígio da arquitetura nacional no panorama internacional.

Portugal continua a viver um boom imobiliário pós-pandemia, impulsionado por expatriados, reformados e nómadas digitais. No entanto, este crescimento vem acompanhado de desafios significativos, como o agravamento da crise habitacional em Lisboa e Porto. A necessidade de soluções inovadoras para habitação acessível e sustentável é evidente, sendo que Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, sublinhou na conferência "Road to Zero" a importância de revitalizar edifícios municipais, densificar os centros urbanos e apostar em comunidades energéticas renováveis e edifícios de emissões zero como modelo para futuras intervenções urbanas.

A descarbonização tornou-se a norma, e quase todos os promotores já contam com equipas próprias de sustentabilidade ou parceiros externos especializados. Contudo, apesar dos avanços, a complexidade das exigências de reporte ESG continua a ser um grande desafio. Como salientou um orador do evento: "quando terminamos o reporte deste ano, já estamos atrasados no do próximo". Neste campo, as Proptechs ganham destaque, oferecendo ferramentas essenciais para a monitorização e cumprimento destas metas.

Outro aspeto relevante observado nesta edição da MIPIM foi o crescente interesse pelo co-living e pelos alojamentos estudantis modernos, refletindo as novas necessidades habitacionais da população jovem. Os estudantes já não aceitam os modelos tradicionais, preferindo espaços privados mais reduzidos com áreas comuns bem equipadas. Este modelo poderá futuramente evoluir para cooperativas de habitação intergeracionais, abordando a diversidade das necessidades habitacionais.

Portugal, claramente alinhado com estas tendências internacionais, posiciona-se como um exemplo a seguir. O futuro passa inevitavelmente por projetos cada vez mais sustentáveis, pela inovação tecnológica aplicada à gestão imobiliária e por modelos urbanos mais inclusivos e ambientalmente conscientes.

Apesar de uma edição aparentemente reduzida da MIPIM, devido à conjuntura económica, Portugal e outros mercados emergentes, como a Polónia, continuam a ganhar destaque internacional. O interesse global por projetos portugueses confirma que, mesmo num contexto desafiante, o país mantém-se forte e altamente atrativo para investidores e profissionais do setor.

Adrian Krezlik

Co-founder de Dosta Tec

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico