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Opinião

Francisco Mota Ferreira

A importância de uma placa

7 de abril de 2025

No contexto atual do mercado imobiliário em Portugal, ainda faz sentido a presença das tradicionais placas “vende-se”?

Os seus mais acérrimos defensores alegam que a placa ainda exerce o seu papel, visível e imediato, servindo também como um sinal local e permanente que pode atingir o público que circula pela zona, sem a necessidade de acesso à internet ou de familiaridade com plataformas digitais. Essa característica torna-a particularmente útil em áreas com menor penetração digital ou para captar a atenção de vizinhos e visitantes ocasionais que podem estar interessados na oportunidade, seja por vontade de mudança ou por razões de investimento.

Acresce ainda que uma placa ainda é, nos dias de hoje, é uma ferramenta poderosa que pode ajudar a concretizar o objetivo comum que une proprietário e consultor: vender o imóvel o mais rapidamente possível pelo melhor preço.

Mas a exposição inerente à utilização da placa levanta questões sensíveis tanto para o consultor como para o proprietário. O consultor imobiliário pode sentir uma espécie de “vergonha” ao ter o seu contacto e imagem expostos publicamente, o que, por vezes, o coloca numa posição vulnerável perante um público potencialmente crítico ou saturado de informações.

De igual modo, o proprietário enfrenta o dilema de revelar publicamente a intenção de vender o imóvel, o que pode ser interpretado de forma ambígua pela comunidade local. Se a decisão de venda se dá por uma melhoria de vida, como a mudança para uma nova etapa ou a busca de melhores condições habitacionais, o estigma é minimizado. Contudo, quando a venda é motivada por questões mais delicadas – problemas familiares, dificuldades financeiras ou conflitos pessoais – a exposição pode gerar um sentimento de constrangimento e até de falhanço pessoal.

Esta dicotomia põe a nu que, apesar da vasta gama de meios digitais disponíveis, a placa “vende-se” mantém a sua pertinência ao oferecer uma forma direta e complementar de publicidade. A sua eficácia depende, entretanto, do contexto e da sensibilidade dos envolvidos, o que exige uma ponderação cuidadosa entre a visibilidade desejada e a preservação da privacidade.

Consultor e proprietário devem avaliar os objetivos da venda, o perfil do público-alvo e a situação pessoal antes de optar pela utilização da placa, podendo optar por estratégias híbridas que combinem a tradição com as inovações tecnológicas, de forma a maximizar a divulgação sem sacrificar a intimidade e o respeito pelo sentimento de cada parte envolvida.

Francisco Mota Ferreira

francisco.mota.ferreira@gmail.com

Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022), “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) e “Conversas sobre o Imobiliário” (2024) | Editora Caleidoscópio.

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico