
Lisboa
Lisboa está no top 6 das cidades mundiais mais caras para arrendar um apartamento de um quarto em função do salário médio
Como podem as cidades promover a inovação e atrair talento quando os custos e a inflação estão a colocar as novas empresas nas periferias? Como estão as cidades a abordar a acessibilidade residencial e a qualidade de vida de forma a atrair talento?
O aumento dos custos está a afetar todos os aspectos da vida em 2023 e o sector imobiliário não é excepção. As elevadas taxas de inflação impactam fortemente as empresas – especialmente as de menor dimensão e as startups. À medida que os seus custos de funcionamento aumentam, é também provável que exista uma maior dificuldade em adquirir espaços comerciais nas localizações pretendidas, o que poderá limitar a sua capacidade de crescimento.
Ao mesmo tempo, a procura por espaços de escritórios de elevada qualidade tem vindo a aumentar nos últimos anos, colocando uma maior pressão sobre os valores de renda praticados. Por outro lado, o período dos sucessivos confinamentos, consequência da Covid-19, reduziu o número de obras concluídas, atrasando os prazos de construção e causando escassez de material.
A Savills Research mostra que, entre 2019 e 2022, as rendas dos escritórios prime aumentaram na maioria dos principais centros urbanos globais, apesar da perturbação causada pela pandemia. As pequenas e médias empresas (PMEs) estão, novamente, a ser as mais atingidas por esta tendência de subida de valores. Em muitas cidades, o aumento das rendas tem-se propagado para fora dos históricos distritos centrais de negócios, pelo que se verifica uma deslocação das PMEs para zonas mais remotas e edifícios menos atractivos.
A Savills questiona: Quais as opções para proteger e fomentar as pequenas e médias empresas que, segundo o Banco Mundial, representam cerca de 90% do tecido empresarial e mais de 50% do emprego a nível mundial?
Soluções Off-the-shelf
O aparecimento de espaços coworking, que oferecem uma gama completa de serviços sem contratos de arrendamento a longo prazo tem sido uma tendência crescente.
Em termos de comparação de custos de um espaço de coworking em relação ao valor líquido efetivo de um escritório prime convencional, a Savills Research concluiu que um espaço flex é, em média, 40% mais barato, embora exista uma variação considerável entre localizações.
Reforçar o ecossistema das startups
As soluções flex podem, no entanto, ser dispendiosas para startups de menor dimensão. Neste tipo de situações, são utilizados fundos públicos que, juntamente com o investimento privado, promovem a criação de hubs.
Incubadoras e Aceleradoras
Da mesma forma, as incubadoras universitárias apoiam empresas e startups impulsionadas pela comunidade universitária, potenciado o talento académico. Para as empresas que apoiam estas iniciativas, é uma oportunidade valiosa de se envolverem em startups inovadoras e no talento que estas atraem.
Pushed up e priced out
Também no setor do imobiliário residencial, as pressões sobre a acessibilidade dos preços são agudas. O envelhecimento da população e o aumento dos agregados familiares isolados significam uma intensificação da concorrência por uma oferta limitada de habitação urbana a preços acessíveis. Tanto o valor do capital como o valor das rendas têm vindo a subir, com a procura de alojamento para arrendamento a ser exacerbada pelos recentes aumentos das taxas de juro das hipotecas.
Um novo propósito para o stock comercial
Outras oportunidades que visam aumentar a disponibilidade de habitação a preços acessíveis nos centros urbanos, incluem a reconversão do antigo parque comercial em novas habitações assim como a regeneração de bairros desfavorecidos através de uma combinação de habitação a preços acessíveis, juntamente com propriedades comerciais.
De acordo com Alexandra Portugal Gomes, Head of Research da Savills Portugal, “Lisboa é o exemplo perfeito de um destino em que o processo de internacionalização por via do turismo, numa primeira instância, e posteriormente do ecossistema empresarial, vieram colocar uma pressão muito significativa nos preços habitacionais, no volume de procura de espaços de escritórios e na sua qualidade. É muito curioso observar que no pós-pandemia, a abertura de mentalidades à prática de modelos de trabalho mais híbridos ou mesmo 100% em regime remoto, trouxe à capital uma nova dinâmica. Só em Lisboa, estima-se que estejam cerca de 15.200 nómadas digitais atualmente, que procuram usufruir de um ritmo de vida mais desacelerado, bom clima, boa gastronomia e um ambiente de networking inovador. Os espaços de coworking, em elevado ritmo de expansão, misturam agora também outros conceitos na sua oferta, como Coliving ou vice-versa. Quando uma cidade como Lisboa, uma cidade de pequena dimensão com uma oferta de espaços escassa, recebe um movimento ininterrupto de entradas de novos residentes, a pressão sob os custos é inevitável e é necessário que se encontrem novas soluções que permitam que o mercado se mantenha na corrida e seja competitivo. Soluções que passem por incrementar a oferta de casas a preços mais acessíveis face ao salário médio nacional com o aumento de promoção residencial em áreas mais periféricas, mas também, e ao nível dos escritórios, é necessário que o seu stock ganhe nova vida e consiga acompanhar estas novas tendências, muito ligadas às questões de flexibilidade, modelos de trabalho híbridos e bem-estar“.