
Imagem 3D da estrutura global do complexo
Japão: antiga Prisão de Nara renasce como hotel e museu de charme
A histórica Prisão de Nara, um dos marcos arquitectónicos da era Meiji (1868 -1912), no Japão, prepara-se para uma segunda vida. O emblemático edifício de tijolos vermelhos, classificado como Propriedade Cultural Importante, será reaberto em Abril de 2026 como o primeiro hotel de luxo do país instalado numa antiga prisão, complementado por um museu temático que recriará o quotidiano da vida carcerária.
O projecto — baptizado “Hoshinoya Nara Prison” — resulta de uma parceria entre a cadeia hoteleira Hoshino Resorts e a Former Nara Prison Preservation and Utilization Co., entidade responsável pela preservação e requalificação do imóvel desde o seu encerramento, em 2017.
Com uma área total de mais de 10 mil metros quadrados, o complexo contará com 48 quartos de luxo, restaurante, lounge e o novo Museu da Prisão de Nara, que ficará aberto também a visitantes.
Uma prisão modelo da era Meiji
Construída em 1908, a Prisão de Nara foi uma das cinco grandes penitenciárias japonesas concebidas pelo governo Meiji para alinhar o sistema prisional com os padrões internacionais da época.
O edifício é um exemplo notável da arquitectura moderna japonesa, com o seu plano radial — conhecido como sistema Haviland — que permitia a vigilância de várias alas a partir de uma torre central.
Durante mais de um século, o edifício serviu como prisão e, mais tarde, como centro de correcção juvenil, até ser desactivado por razões de segurança estrutural. Desde então, foi alvo de um cuidadoso reforço sísmico e de obras de reabilitação destinadas a preservar a sua identidade arquitectónica e histórica.
Um luxo com memória
Segundo a Hoshino Resorts, o novo hotel pretende oferecer uma “experiência de estadia imersiva e reflexiva”, respeitando a herança do local. O museu, com o tema “Questões de uma Bela Prisão”, apresentará exposições sobre a vida dos reclusos, incluindo celas de isolamento restauradas, com o objectivo de promover a compreensão da história penal do Japão.
Com este projecto, a cidade de Nara — berço do património budista japonês e destino de milhões de turistas anuais — procura diversificar a sua oferta e atrair visitantes que procurem experiências culturais mais profundas.
As autoridades locais esperam que o investimento contribua para a transição de um turismo “barato e superficial” para um modelo “elevado, profundo e amplo”, inspirado no recente crescimento de hotéis de luxo em Osaka, a poucos quilómetros de distância.
Ficha do projecto
Nome: Hoshinoya Nara Prison
Localização: 18 Hannyaji-cho, Nara, Japão
Número de quartos: 48
Área total: 10.343 m²
Arquitetura: Azuma Architect & Associates
Paisagismo: Studio on Site
Abertura prevista: Primavera de 2026
Outros exemplos
A transformação da antiga Prisão de Nara, no Japão — em breve o primeiro hotel-prisão classificado como Propriedade Cultural Importante — junta-se a uma lista crescente de projectos onde a história e o turismo se cruzam de forma inusitada por esse mundo fora. Recordamos aqui alguns:
Het Arresthuis — Roermond, Países Baixos
Construída em 1862, a prisão de Roermond renasceu em 2011 como um hotel de design contemporâneo. Os hóspedes dormem em antigas celas — agora suites espaçosas — e podem reservar quartos com nomes sugestivos como The Judge ou The Warden. O contraste entre o minimalismo moderno e as portas de ferro originais cria uma experiência que mistura humor e sofisticação.
Malmaison Oxford — Reino Unido
Em plena fortaleza medieval de Oxford, o antigo estabelecimento prisional foi transformado em 2006 num dos hotéis mais emblemáticos da cadeia Malmaison. As celas, agora convertidas em suítes, conservam as pesadas portas metálicas e os longos corredores com grades, enquanto o antigo pátio central se tornou num átrio elegante. É hoje uma das unidades mais fotografadas do turismo britânico.
Långholmen Hotel — Estocolmo, Suécia
Antiga prisão feminina activa até 1975, este hotel preserva a autenticidade das celas e o ambiente austero do edifício original, mas com conforto contemporâneo. Além do alojamento, o complexo inclui um museu sobre a história penal sueca e um jardim aberto ao público — exemplo de integração cultural e turística.
The Old Mount Gambier Gaol — Austrália
Construída em 1866, a prisão australiana foi reconvertida num espaço multifuncional com alojamento, eventos e concertos. Mantém muralhas e torres originais, mas a atmosfera é hoje comunitária e festiva. Um exemplo de reabilitação que alia preservação e criatividade.
HI Ottawa Jail Hostel — Canadá
Encerrada em 1972, esta prisão do século XIX tornou-se um hostel histórico onde é possível dormir em celas autênticas e participar em visitas guiadas nocturnas. A experiência é deliberadamente imersiva — há quem diga que ainda paira o espírito dos antigos reclusos.
Património, turismo e ironia
De Oxford a Nara, a reinvenção das prisões como hotéis de luxo é mais do que uma curiosidade arquitectónica — é um exercício de memória e reconciliação, onde os espaços de repressão se transformam em locais de contemplação e prazer. Entre o passado sombrio e o conforto moderno, estes hotéis-prisão recordam que, por vezes, a liberdade começa quando se fecham as portas certas.