Investidores são forçados a reconsiderar as suas estratégias de investimento
Investidores são forçados a reconsiderar as suas estratégias de investimento face à inflação e às incertezas geopolíticas, revela o Estudo de Investidores Globais 2023 da Schroders.
O estudo anual da Schroders, que inquiriu mais de 23 000 investidores em 33 locais do mundo, identificou que quase 80% dos investidores acredita agora que entrámos numa nova era de política e de comportamento do mercado, em resultado do aumento da inflação e das taxas de juro. Em Portugal, a percentagem é ainda mais elevada: 86%.
Com a subida da inflação e das taxas de juro, estaremos a assistir a uma mudança de regime na política e nos mercados?
Este facto contrasta fortemente com o estudo do ano passado, no qual alguns inquiridos acreditavam que os desafios do mercado eram um episódio isolado e previam um regresso rápido a um ambiente melhor, de baixa inflação e baixas taxas. Consequentemente, mais de metade já ajustou as suas estratégias de investimento e um terço tenciona fazê-lo. 55% dos portugueses já efectuou os seus ajustes estratégicos, e 30% tenciona fazê-lo.
As pessoas estão a adaptar a sua estratégia de investimento a esta nova era?
O estudo mostra que as pessoas que classificaram os seus conhecimentos de investimento como "peritos" foram as mais rápidas a reagir, com 77% a nível mundial e 76% em Portugal a já terem adaptado a sua estratégia, enquanto mais de um terço (37% a nível mundial e 45% em Portugal) que classificaram os seus conhecimentos de investimento como "principiantes", ainda não o fizeram.A nível mundial, o estudo sublinha igualmente a importância da gestão activa dos fundos para muitos investidores, enquanto os ativos privados foram reconhecidos como um instrumento de diversificação essencial, numa altura em que a tendência de democratização continua a acelerar. Para os investidores portugueses inquiridos, as obrigações do tesouro foram o activo que se tornou mais atractivo recentemente para 49% dos investidores, o valor mais elevado do mundo, seguido de perto por Espanha e Itália, onde as obrigações do tesouro se tornaram mais atrativas para 47% e 46% dos investidores.
Que investimentos se tornaram mais atrativos nos últimos seis meses?
Apesar de reconhecerem que entraram numa nova era de políticas e comportamentos de mercado, a grande maioria dos investidores mantém-se otimista quando questionados sobre as suas expectativas de retorno: globalmente, quase 90% espera que os retornos sejam idênticos ou superiores aos do ano passado, um pouco mais do que os europeus (86%) e os portugueses (82%). Entre os portugueses, cerca de metade espera obter retornos superiores ou significativamente superiores nos próximos 12 meses, 9 p.p. abaixo da marca global.
Como é que as pessoas pensam que os seus rendimentos nos próximos 12 meses serão comparados com os dos 12 meses anteriores
Este foi o caso entre os investidores "especialistas", com apenas 4% a esperar que os retornos do próximo ano sejam inferiores - a mesma percentagem a nível global e entre os portugueses.De forma surpreendente, a maioria dos investidores espera uma rendibilidade anual de 11,5%, semelhante aos resultados do ano passado. Uma percentagem semelhante é esperada pelos investidores portugueses (11,2%) para os próximos cinco anos, apenas um pouco acima dos 11% registados no ano passado. Estes valores são superiores ao rendimento anual de 9,46% do índice MSCI World de ações mundiais entre 1987 e setembro de 2023. As expectativas europeias de rendibilidade futura não estão muito longe (9,9%), mas são inferiores às expectativas do ano passado (10,3%). Em alguns países específicos, esta expectativa é significativamente mais elevada - na África do Sul, os investidores foram os mais otimistas, tendo identificado um retorno de 16,8%. O mesmo acontece noutros países emergentes, como o Brasil (15,7%) ou a Indonésia (15,2%).
Johanna Kyrklund, Schroders' Group CIO and Co-Head of Investment, refere:"Num cenário de investimento cada vez mais moldado pelos "3Ds" da desglobalização, descarbonização e demografia, os investidores ainda estão a habituar-se ao facto de que uma inflação e taxas de juro mais elevadas vieram para ficar. Todos os ativos tiveram de ser reavaliados para competir com o rendimento do dinheiro no banco. A avaliação volta a ser importante. Em comparação com os últimos 15 anos, pode ser necessário ser mais flexível e ativo na forma como se investe. Os resultados do estudo mostram que alguns investidores estão a adaptar-se mais rapidamente do que outros".
Os activos privados como cobertura num contexto económico difícil
Nos últimos anos, os reguladores e os gestores de ativos têm trabalhado ativamente na democratização dos activos privados, nomeadamente com o lançamento de estruturas como os ELTIFs na Europa ou os LTAFs no Reino Unido.
No entanto, quase dois terços dos investidores (64% a nível global e em Portugal) assumem que ainda têm um conhecimento limitado desta classe de activos, o que indica que é necessária uma maior educação para apoiar o crescimento contínuo destes investimentos.
Barreiras sentidas ao investimento em activos privados
Além disso, quase dois terços dos investidores (63% a nível mundial e 65% em Portugal) salientaram também que a natureza ilíquida destes ativos e o período de detenção mais longo exigido constituíam um obstáculo ao investimento.No entanto, em média, os investidores admitiram que considerariam a possibilidade de alocar 16,4% (12% em Portugal) dos seus fundos em ativos privados. Para os investidores mais "experientes", este valor subiu para 23,1% (18,2% em Portugal).Especificamente, cerca de um terço (30% a nível mundial e 32% em Portugal) sente-se mais atraído pelo investimento em ações privadas. Mais uma vez, no caso dos investidores "especializados", esta percentagem aumentou consideravelmente, com 46% e 48%, a nível mundial e em Portugal, a afirmarem que desejam investir em capitais não abertos à subscrição pública.
O activo privado que as pessoas mais escolheriam se pudessem investir
O sector imobiliário foi a segunda classe de ativos mais popular, enquanto as infraestruturas e as energias renováveis ocuparam o terceiro lugar.De um modo geral, os ativos privados são vistos como um importante instrumento de diversificação e uma forma de melhorar o desempenho da carteira por metade dos inquiridos (respetivamente 49% e 57% dos inquiridos portugueses).
Razões que levam as pessoas a investir em activos privados
Curiosamente, 27% dos investidores portugueses são também atraídos pela perceção das credenciais de sustentabilidade dos ativos privados.
Nils Rode, Schroders Capital's Chief Investment Officer, refere:"Há alguns anos, um investidor típico em activos privados seria o que os gestores de ativos designam por "institucional". Trata-se de grandes investidores, como os regimes de pensões com benefícios definidos ou os grandes fundos de dotações. Como mostra o GIS deste ano, é provável que a situação se altere muito nos próximos anos. A gama de opções de acesso aos mercados privados está a alargar-se e os pequenos investidores estão a tomar nota. É uma altura difícil para interpretar os mercados e os investidores procuram todas as ferramentas disponíveis para alcançar os resultados desejados. Os ativos privados representam um conjunto incrivelmente variado de oportunidades e um grande número de fatores de retorno.Acreditamos que o alargamento das opções para os pequenos investidores é uma evolução muito positiva. Acreditamos também que os argumentos a favor da inclusão de uma alocação de activos privados - quando apropriado - são mais fortes do que nunca".
Investimento sustentável: chegou a altura de nos empenharmos
Os investidores são atraídos para investir de forma sustentável devido ao potencial de gerar um impacto ambiental positivo e alinhar os investimentos com os seus princípios sociais. Estas foram as duas principais razões apontadas pelos investidores a nível global e em Portugal. O impacto ambiental é o principal foco para os investidores globais (55%) e para os portugueses (57%).
Porque é que as pessoas são atraídas por fundos sustentáveis
É importante referir que um terço dos investidores portugueses (33%) reconheceu que os fundos sustentáveis são suscetíveis de oferecer retornos mais elevados. Globalmente, a proporção de investidores que evitam o investimento sustentável devido a preocupações com o desempenho caiu para metade em comparação com o inquérito do ano passado.Um elemento-chave do investimento sustentável é a propriedade ativa, ou seja, o envolvimento direto com as empresas para melhorar os resultados comerciais, com o objetivo final de apoiar os rendimentos do investimento. A grande maioria das pessoas (83% globalmente e 86% em Portugal) reconhece e apoia o conceito de propriedade ativa, com esta visão a ganhar força entre os investidores mais experientes.
Se incentivar as empresas a actuar de forma sustentável as ajuda a gerar valor a longo prazo
Especificamente, os principais tópicos em que os investidores querem ver um envolvimento activo são os relacionados com o clima, o capital natural e a gestão dos trabalhadores.
As áreas que as pessoas consideram mais importantes para os gestores de ativos colaborarem com as empresas são:
Andy Howard, Schroders' Global Head of Sustainable Investment, salienta: "Os resultados deste ano sublinham o reconhecimento generalizado e crescente da importância da propriedade ativa para o investimento sustentável. As empresas de todos os sectores enfrentam uma vasta gama de desafios e oportunidades, bem como pressões cada vez mais intensas para se adaptarem e evoluírem. Enquanto gestores ativos com um foco fundamental e a longo prazo, utilizar a nossa voz e influência para encorajar as empresas a criar modelos de negócio mais saudáveis e sustentáveis tem sido importante desde há muito tempo e está a tornar-se cada vez mais importante à medida que essas tendências se intensificam".