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Construção - IA

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Inteligência Artificial na Construção: O futuro já começou, mas nem todos o percebem

28 de agosto de 2025

Há expressões que ouvimos tantas vezes que se tornam quase banais. Inteligência Artificial é uma delas. Muitos associam-na a imagens futuristas, algoritmos “milagrosos” ou promessas de produtividade sem limites. Mas quando trazemos o tema para a realidade da Construção Civil, com os seus prazos apertados, orçamentos rigorosos e riscos imprevistos, a história é mais complexa e mais interessante.

Nos últimos anos, a Inteligência Artificial deixou de ser apenas uma tendência para se tornar rotina em várias empresas do sector. É verdade que os grandes grupos têm capacidade para incorporar soluções sofisticadas, desde o design generativo em projectos de BIM até à análise de imagens de drones para monitorizar o progresso da obra. Porém, a realidade das pequenas e médias construtoras é distinta. Muitas encontram-se ainda numa fase experimental, testando ferramentas de forma dispersa, sem uma estratégia estruturada. E aqui reside o ponto essencial: a questão já não é “usar ou não usar IA”, mas sim “como utilizá-la com propósito”.

O objectivo não é substituir engenheiros, gestores ou técnicos. Pelo contrário: é libertar o seu tempo e energia para que se concentrem no que realmente importa, resolver problemas complexos. Se uma reunião de obra pode ser automaticamente gravada, transcrita e resumida em tópicos de acção, por que motivo haveríamos de desperdiçar horas nesse trabalho? Se um algoritmo pode analisar milhares de documentos de um concurso para identificar cláusulas de risco, por que insistir em processos manuais que originam erros e atrasos?

A experiência demonstra que a Inteligência Artificial tem impacto sobretudo em três dimensões:

- Eficiência operacional:     Automatizar tarefas repetitivas e burocráticas.

- Precisão na decisão:     Apoiar escolhas estratégicas com base em dados fiáveis, prevendo      derrapagens ou falhas de segurança.

- Velocidade de resposta:     Encurtar prazos, antecipar problemas e reduzir riscos.

Contudo, há um risco evidente neste entusiasmo. É fácil cair na armadilha de adoptar tecnologia pelo fascínio da novidade, sem pensar no problema concreto que se pretende resolver. A pergunta essencial deveria ser sempre: "Qual é o processo manual que mais nos custa tempo e dinheiro?" e só depois "Existe uma ferramenta de IA que possa otimizá-lo com um retorno mensurável?" Sem essa clareza, a IA torna-se apenas mais uma ferramenta dispendiosa, que gera pouco valor e frustração nas equipas.

A analogia mais usada é com a ascensão da internet nos anos 90. Muitos subestimaram a sua relevância. Hoje, ninguém concebe gerir uma empresa sem acesso digital. O mesmo sucederá com a Inteligência Artificial. A diferença é que a curva de adopção está a ser muito mais rápida.

Por isso, talvez o debate mais urgente na Construção não seja tecnológico, mas cultural. Estamos preparados para trabalhar de forma data driven? As nossas equipas estão capacitadas para lidar com sistemas inteligentes no quotidiano? Temos a disciplina para recolher dados de qualidade que alimentem esses sistemas? E, sobretudo, conseguimos transformar informação em acção estratégica?

A Inteligência Artificial não é uma solução mágica para todos os problemas do sector. Mas é, sem dúvida, uma oportunidade para redefinir a forma como gerimos projectos, pessoas e recursos. Como em todos os momentos de viragem, o futuro não esperará por quem ficar parado. O primeiro passo não precisa de ser um investimento avultado; pode simplesmente começar por identificar um pequeno processo ineficiente e testar uma solução focada. A revolução começa com um problema, não com a tecnologia.

Nuno Mourão
Director Comercial e Marketing da In Loco – Property Investments e da Marinha Guincho SA