Imobiliárias de nicho
Fui há uns tempos espicaçado pelo João para escrevermos um artigo em conjunto. O resultado, que pode ser lido nas próximas linhas, decorre deste desafio e da visão que ambos temos e partilhamos sobre o sector imobiliário. O tema que escolhemos foi a nossa perspetiva sobre as imobiliárias de nicho e a importância, a meu ver crescente, que este tipo de negócios está a ter no sector, mais em concreto para a credibilização do mesmo.
Tenho defendido em diversos fóruns que, embora o imobiliário seja um sector onde qualquer pessoa pode aqui chegar, (e há uma imensa maioria que, por diferentes motivos vem aqui parar), em proporção são poucos os que têm a capacidade de resistir às exigências cada vez maiores do imobiliário.
É também por isso que, cada vez mais, acredito que é fundamental a especialização neste sector. E é também por isso que, para mim, a realidade das imobiliárias de nicho serão, possivelmente, um dos caminhos possíveis para a credibilização dos seus profissionais.
Acompanhem-me neste raciocínio: cada vez mais é pedido ao consultor imobiliário que seja especialista em vários temas: que quando está a vender uma herdade perceba também, por exemplo, de clima, de agricultura ou de solos; quando está a trabalhar com clientes de vários milhões que tenha a sofisticação suficiente para acompanhar os seus clientes nos seus desejos e anseios; quando trabalha na venda de empresas consiga entender conceitos económicos mais abrangentes e já agora também que perceba a realidade que o rodeia, no País e no mundo.
O caminho passa, cada vez mais por uma especialização na função de consultor. Este não tem que perceber de tudo, mas deverá perceber (e muito) daquilo que o move e, no limite também o que move o seu cliente. Em Portugal, as imobiliárias de nicho ainda são algo bastante incipiente, mas que, aos poucos, têm feito o seu caminho. E no Brasil João, como é que este tema é percecionado?
No Brasil, Francisco, o cenário é marcado por uma viragem significativa rumo à especialização. Aqui, as imobiliárias de nicho não são apenas uma tendência emergente, mas uma realidade consolidada, que tem demonstrado eficácia na resposta às demandas específicas de diferentes segmentos do mercado.
Este movimento em direção à especialização está alinhado com a diversidade cultural e geográfica do país. Cada região possui características únicas, o que abre espaço para que as imobiliárias se especializem, por exemplo, em propriedades litorais, fazendas produtivas, imóveis corporativos de alto padrão ou mesmo habitações urbanas populares, de alto padrão e luxo.
No entanto, há que enfrentar desafios importantes, como a melhoria na qualidade dos serviços e a imagem do sector. Muitas agências ainda carecem de formações mais robustas para os seus agentes e de estratégias de marketing mais sofisticadas, adaptadas às exigências do público moderno.
A digitalização oferece uma oportunidade de remodelar a maneira como os profissionais comunicam e atendem os clientes, mas requer investimentos contínuos em tecnologia e formação. O potencial de crescimento e de melhoramento é imenso, e a especialização e a profissionalização dos agentes imobiliários podem servir de catalisadores para uma transformação positiva no mercado imobiliário brasileiro, elevando a qualidade geral e a credibilidade do sector.
Este compromisso com a melhoria contínua e a especialização reflete uma tendência também emergente em Portugal, onde as imobiliárias estão a reconhecer os benefícios de se dedicar a nichos específicos, para sobreviverem ás grandes redes. As experiências e aprendizagens de cada mercado podem ajudar a fortalecer as práticas locais e as estratégias internacionais para os profissionais de imobiliária em ambos os países.
Francisco Mota Ferreira
francisco.mota.ferreira@gmail.com
Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio).
João Abelha
Founder & CEO - Date a Home Brasil
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico