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Arrendamento

 

RTP exclui moradores de Lisboa da discussão do arrendamento

5 de abril de 2017

A Associação Lisbonense de Inquilinos (AIL) e o Movimento Morar em Lisboa, reagiram ao facto da RTP os ter excluído do último programa Prós e Contra, que passou na última segunda-feira na RTP1 e onde se debateu a problemática do arrendamento, a escassez da oferta, o preço excessivo, a gentrificação e turistificação das cidades, com particular incidência em Lisboa e no Porto.

A AIL, liderada por Romão Lavadinho, uma associação dinâmica e interventiva nesta matéria realizou várias diligências junto da RTP no sentido de participar nesta discussão mas nunca obteve resposta. Já no dia 31 de Março a AIL enviou uma carta à RTP onde dizia que estranhava não ter sido convidada. "(...)Sabendo a RTP que a Associação dos Inquilinos Lisbonenses intervém como parceiro e representa os interesses dos utilizadores de habitação, muito estranhamos que a Associação não tenha sido também convidada a integrar o painel de modo a equilibrar, melhorar e decerto contribuir para tornar mais interessante o conteúdo do debate que se irá travar". A esta carta nunca recebeu resposta.

Em comunicado a AIL revela que "do programa ressaltou uma clara manipulação de argumentos e de esclarecimento das causas da actual situação de escassez de habitação que os intervenientes pretendem que seja resolvida através do mercado, quando existe grande distorção entre a oferta e a procura, ignorando deliberadamenbte que qualquer mercado para funcionar e servir os destinatários necessita de regras e de fiscalidade apropriadas.

A associação garante que a manter-se o actual estado de coisas, naturalmente que vai continuar a ser cada vez mais difícil, morar em Lisboa. "A mercantilização e financiarização do imobiliário, assente na especulação de preços, resulta numa acelerada gentrificação da cidade expulsando residentes de menores recursos, de mais idade, não só nos centros urbanos mas também já em outras zonas crescentemente cobiçadas pelos imobiliários. Estas orientações políticas levam a que grande parte da cidade esteja a ser exclusivamente destinada a servir os visitantes, à venda do património a residentes ocasionais beneficiários da isenção de impostos em Portugal e no seu país de origem, para gáudio dos operadores e especuladores imobiliários maioritariamente estrangeiros", revelam.

Segundo a direcção dos inquilinos, a RTP e o Programa Prós e Contras não estavam interessados no esclarecimento da situação, da gentrificação, do estado do arrendamento, das implicações do Alojamento Local.

Também o Movimento Morar em Lisboa, que nasceu com o objectivo de alertar o Governo para o facto de se estar a esvaziar o centro da capital portuguesa dos seus tradicionais moradores, enviou um comunicado sobre o assunto lamentando por não ter recebido convite para participar no programa da Estação Pública. O Movimento coordenado por Leonor Duarte, lançou no ínicio do ano uma Carta Aberta onde apela ao direito de se poder morar em Lisboa. A petição conta já com 3.541 assinaturas. "Foi com muita estranheza que verificámos que o Movimento Morar em Lisboa não foi contactado para participar num Programa que visa escutar opiniões Prós e Contras à gentrificação da cidade de Lisboa. Como poderá ser constatado, a Carta Aberta sobre a grave crise da habitação e dirigida por este Movimento aos governantes, conta como signatários 30 organizações, 39 especialistas e investigadores e tem o apoio público de mais de 3 500 cidadãos (...)", lê-se no comunicado.

Também o Movimento não recebeu qualquer resposta ao facto de ter enviado carta à RTP a questionar o facto de não terem sido convidados. "O que assistimos no desenrolar do debate foi a uma profunda tentativa de escamotear a realidade, procurando demonstrar que é assim que tudo está bem, que a reabilitação e o turismo são as soluções para as cidades, que o negócio imobiliário floresce a olhos vistos, que temos cada vez mais investidores isentos de impostos, que a expulsão de habitantes é uma consequência sem grande relevância porque a cidade já estava em declínio de população", esclarece a direcção do Movimento.

O Movimento Morar em Lisboa revela mesmo que foi patente a total ausência de contraditório, "embora o Sr. Secretário de Estado tenha aqui e ali tentado contrariar um ou outro aspecto, concluindo-se que o objectivo deste programa era apenas manipular a opinião pública, justificar a especulação imobiliária e a gentrificação da cidade".