Gaudí e a Sagrada Família - Foto da Basílica de Wolfgang Staudt em Wikimedia
Gaudí: 100 anos após a sua morte abrem-se as portas da santidade e da sua Basílica da Sagrada Família finalmente concluída
Antoni Gaudí (1852-1926), famoso arquitecto catalão e figura maior do Modernismo catalão está a caminho da santidade quase 100 anos após a sua morte. Arquitecto - entre muitas obras que embelezam a fascinante capital catalã - da ainda inacabada Basílica da Sagrada Família em Barcelona, foi declarado "Venerável" pelo Papa Francisco, o segundo passo no caminho para a canonização.
O Vaticano enalteceu a figura de Gaudí foi por suas "virtudes heróicas", de acordo com o Vatican News , o portal de notícias da Santa Sé.
"Seu foco era fazer da arte um hino de louvor ao Senhor e ele considerava sua missão tornar Deus conhecido e aproximar as pessoas Dele", afirma o portal.
A sua nomeação como "Venerável" pelo Papa Francisco reconhece oficialmente suas virtudes heróicas, ou seja, a maneira extraordinária como ele viveu a fé cristã no dia a dia.
Gaudí dedicou grande parte de sua vida à construção da Sagrada Família, que ele via como um verdadeiro acto de fé. Chegou a dizer que seu cliente era Deus, e por isso "não tinha pressa" — talvez por isso a obra ainda esteja em andamento mais de um século depois!
O processo de canonização, refira-se, inclui quatro etapas principais: Servo de Deus (já conquistado por Gaudí); Venerável (agora atribuído); Beato (requer a comprovação de um milagre); Santo (requer um segundo milagre após a beatificação)
Se for comprovado um milagre atribuído à sua intercessão, ele poderá ser beatificado. Um segundo milagre levaria à canonização oficial.
“Arquitecto de Deus”
Gaudí, que nasceu em 1852, assumiu a Sagrada Família em 1883, mudando radicalmente o projecto depois do seu primeiro arquitecto se ter aposentado. A construção da monumental igreja, um dos edifícios religiosos mais conhecidos do mundo, foi liderada por ele até sua morte em 1926. Após o seu falecimento no Hospital de la Santa Creu, o hospital para pobres de Barcelona, ele foi nomeado "arquitecto de Deus" pelo reverendo Manel Trens i Ribas. "'Servir a Deus através da arquitectura', este foi o lema de Antoni Gaudí durante os mais de 40 anos que dedicou ao Templo, os últimos 14 anos exclusivamente, tendo inclusive vivido no local durante os seus últimos meses".
A Sagrada Família: Fé, Pedra e Engenharia a Caminho da Eternidade
Quando Antoni Gaudí assumiu a construção da Basílica da Sagrada Família, em Barcelona, não estava apenas desenhando um templo católico — estava esculpindo fé em pedra. Movido pela graça de Deus, Gaudí via sua obra como uma verdadeira “Bíblia em pedra”, um catecismo visual acessível a todos, mesmo aos analfabetos. Cada fachada, cada escultura, cada torre foi concebida com profundidade simbólica e propósito espiritual.
Um projecto divino interrompido
A construção da Sagrada Família começou em 1882, mas quando Gaudí morreu tragicamente em 1926, atropelado por um veículo de transporte colectivo, apenas cerca de 25% do projecto estava concluído. O desaparecimento do arquitecto e visionário foi um duro golpe, mas a situação agravou-se ainda mais com a Guerra Civil Espanhola (1936–1939), que paralisou completamente as obras durante anos.
Nesse período, muitos dos planos originais de Gaudí foram destruídos ou perdidos. Ainda assim, graças a modelos tridimensionais e registos fotográficos, arquitectos e engenheiros conseguiram manter a fidelidade à visão original, embora adaptando técnicas e materiais às tecnologias modernas.
Um século depois, a conclusão está próxima
Hoje, quase um século após a morte de Gaudí, a basílica está cada vez mais próxima da conclusão. A previsão é que as obras terminem em 2026, exactamente 100 anos após sua morte — uma coincidência simbólica que emociona fiéis e admiradores da arquitectura ao redor do mundo.
Das 18 torres projectadas, 12 já estavam concluídas até Março de 2024. Cada torre carrega um significado bíblico: doze representam os apóstolos, quatro os evangelistas, uma é dedicada à Virgem Maria e a mais alta, com 172,5 metros, será dedicada a Jesus Cristo — tornando-se a torre de igreja mais alta do mundo.
A engenharia moderna ao serviço da visão de Gaudí
Uma das chaves para o recente avanço das obras foi a parceria com a empresa de engenharia Arup, conhecida por grandes projectos de arquitectura inovadora. Liderada pelo engenheiro Tristram Carfrae, a equipe da Arup ajudou a acelerar a construção das torres restantes usando uma técnica moderna e eficiente: painéis de pedra pré-fabricados.
Segundo Carfrae, o uso desses painéis permitiu manter a estética e os detalhes esculpidos com precisão, ao mesmo tempo em que reduziu o tempo de montagem e melhorou a qualidade estrutural. É um belo exemplo de como a engenharia contemporânea pode honrar um projecto histórico sem sacrificar sua essência artística.
A Sagrada Família é muito mais do que um ponto turístico ou uma icónica obra arquitectónica: é um testemunho vivo da persistência da fé, da arte e da engenharia. Combinando o legado de Gaudí com tecnologias do século XXI, a basílica aproxima-se, enfim, daquilo que ele sempre sonhou — uma obra feita para tocar o céu, tanto com sua altura quanto com sua espiritualidade.
