Fundação CulturSintra compra Paço dos Ribafria, no centro histórico da vila, por 5,5 M€
A Fundação CulturSintra vai adquirir o Paço dos Ribafria, importante imóvel quinhentista no centro histórico, por 5,5 milhões de euros, destinado a um projecto museológico e actividades culturais, avançou o presidente da autarquia.
Segundo explicou Basílio Horta (PS), é “um Paço muito importante, renascentista”, e “o único palácio renascentista daquela natureza que há no concelho”, portanto, “tem um valor histórico e cultural muito grande”.
“A família Mello, estava a vender o palácio e nós começámos as negociações já há bastante tempo, há cerca de dois anos”, acrescentou o presidente da câmara, revelando que a CulturSintra, fundação de direito privado instituída pelo município em 1996 vai adquirir o imóvel por 5,5 milhões de euros, dos quais 500 mil euros para o valioso recheio.
O Paço dos Ribafria remonta ao século XVI, encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público, e é o único edifício de arquitectura nobre particular da vila de Sintra que ainda mantém a sua estrutura quinhentista.
A construção do imóvel, inserido no centro histórico, dentro da área classificada Património Mundial pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), foi promovida no período da Renascença por Gaspar Gonçalves, que provinha de origens humildes, mas que por merecer a confiança da Casa Real, detinha uma apreciável fortuna.
Segundo uma nota do Gabinete do Património Mundial de Sintra, Diogo Gonçalves desempenhava funções de almoxarife do Paço Real, que terá sido importante para o desenvolvimento da carreira pública do seu irmão Gaspar, iniciada ao serviço de D. Manuel I, que em 1518, lhe concedeu o importante cargo de porteiro-mor da Câmara Real, quando o monarca passava largas temporadas em Sintra.
Gaspar Gonçalves, na sequência das novas funções que desempenhava junto do rei, mandou erguer – na década de 1530 – a sua casa próxima do Palácio Real na vila de Sintra, admitindo-se que tenha encomendado a obra ao arquitecto e mestre de obras Pêro Pexão.
“As influências da renascença italiana aliadas ao gótico final, sob o signo do manuelino, articulam-se para unir os três volumes paralelepipédicos dispostos em forma de U e permitem ao conjunto um resultado harmonioso de rara beleza estética por estas paragens sintrenses”, refere-se na nota.
A Coroa instituiu, em 1541, o morgadio de Ribafria, e o rei D. João III concedeu a Gaspar Gonçalves carta de brasão e o título de Senhor de Ribafria, que iniciou as obras da Torre dos Ribafria, num vale junto ao sopé da serra, e em 1569 recebeu, já durante o reinado de D. Sebastião, o cargo de Alcaide-mor de Sintra.
No século XVIII, a propriedade foi legada a Sebastião José de Carvalho e Melo, conde de Oeiras e Marquês de Pombal, que promoveu obras de beneficiação e modernização.
O que vai acontecer...
De acordo com Basílio Horta, o imóvel vai ter para já obras de manutenção e “depois obras de requalificação” para “tornar o palácio visitável porque tem um recheio muito bom”, também adquirido pela fundação, e a câmara possui em armazém “muitas obras de arte” que serão expostas no Paço dos Ribafria, em exposições temporárias.
Além da visitação e de iniciativas culturais, como concertos e conferências, o imóvel será também “a porta de entrada no concelho”, disponibilizando “toda a informação” a quem visita Sintra e irá servir de “relações públicas”, para receber um chefe de Estado ou um primeiro-ministro em deslocação oficial ao município.
“Este palácio dá para recepções grandes […] A família Mello fazia ali conferências. Eu, aliás, fui a algumas, seguidas de jantar, que eram muito interessantes. Nós, essa tradição vamos mantê-la. Vamos ter as Conferências de Sintra ali. Espero que ainda no meu mandato haja pelo menos uma Conferência de Sintra, que terá lugar ali”, adiantou o presidente da autarquia.
Basílio Horta salientou que o imóvel será adquirido pela Fundação CulturSintra por dispor de “meios para poder fazer” a “aquisição a pronto”, “sem necessidade de recorrer a bancos” e por ter “uma situação financeira muito confortável”.
A fundação já gere a Quinta da Regaleira, a Quinta da Ribafria e a Casa Francisco Costa, adquiridas pelo município, e o presidente da autarquia admitiu que, “na altura própria, quem comprar o bilhete para a Regaleira compra também para os Paços dos Ribafria” e “visita os dois palácios”.
“É um activo muito significativo para o nosso concelho”, que “está no coração do património mundial”, frisou.
A escritura pública de aquisição do Paço dos Ribafria vai ser assinada na sexta-feira pelo presidente do conselho directivo da CulturSintra, Bruno Parreira (PS), também vice-presidente da autarquia, naquele que será o primeiro imóvel adquirido pela fundação, “com vista à promoção de actividades culturais e à realização de um projecto museográfico”.