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Entrevistas

Manuel Reis Campos, presidente da CPCI - Confederação Portuguesa da Construção e Imobiliário

Falta mão-de-obra na construção. CPCI estima cerca de 80 mil trabalhadores

25 de janeiro de 2024

Manuel Reis Campos, presidente da CPCI - Confederação Portuguesa da Construção e Imobiliário admite que apesar da falta de mão-de-obra, em 2024 a produção na construção deve crescer 3% e a situar-se, em valor, nos 21.212,9 milhões de euros.

Em entrevista ao Diário Imobiliário, garante que o arranque em 2024 de uma quantidade significativa de projectos com recursos às verbas europeias disponíveis no PRR e cuja execução terá que estar concluída até ao final de 2026, vai assumir um papel preponderante para a evolução da actividade das empresas do sector da construção e do imobiliário.

O que se pode esperar para o mercado imobiliário em 2024?

O mercado imobiliário foi, no ano de 2023, o mais afectado pelos efeitos da elevada inflação e pelo rápido crescimento das taxas de juros, cujos impactos se fizeram sentir com maior expressão no número de alojamentos transaccionados, que se estima tenham observado uma redução de 20,9%, o que corresponderá a uma diminuição em cerca de 35 mil imóveis transaccionados. No entanto, apesar desta redução do número e montante das transacções de imóveis, não se verificou uma redução da actividade das empresas do sector em resultado, designadamente da quantidade de obras em curso, do aumento, até Novembro, de 5,4% do número de alojamentos licenciados em construções novas, e da manutenção do nível de procura por habitação, bem patente na manutenção da tendência de valorização dos imóveis, com o índice de preços na habitação a aumentar 7,6%, em termos homólogos, no 3.º trimestre do ano. Neste âmbito, importa ainda salientar, que a habitação é o vector com maior dimensão no PRR – Plano de Resiliência e Recuperação, destacando-se, a existência de 269 Municípios já com as respectivas Estratégias Locais de Habitação aprovadas em conformidade com os princípios do programa 1.º Direito, cujos efeitos se irão sentir com maior impacto a partir do corrente ano. Deste modo, tendo em consideração a evolução dos indicadores em 2023 e os factores acima indicados, a estimativa para 2024 prevê um crescimento entre 1% e 3% do valor bruto da produção deste segmento de mercado.

Quais as tendências para este ano que podem dinamizar a construção e o imobiliário?

O efectivo arranque em 2024 de uma quantidade significativa de projectos com recursos às verbas europeias disponíveis no PRR e cuja execução terá que estar concluída até ao final de 2026, vai assumir um papel preponderante para a evolução da actividade das empresas do sector da construção e do imobiliário. A execução financeira do PRR, que tem fundos europeus, no montante 22.216 milhões de euros, é inferior ao expectável, apresentando, no final de 2023, o valor dos pagamentos a beneficiários directos e finais em 3.639 milhões de euros, montante que corresponde a uma taxa de implementação de apenas 16%, pelo que terá, obrigatoriamente de registar uma aceleração na sua execução. Efectivamente, no que concerne ao mercado das obras públicas, até ao final do mês de novembro, apuraram-se aumentos de 70,9%, em termos homólogos, do montante dos concursos de empreitadas de obras públicas promovidas para cerca de 5.580 milhões de euros, e de 30,6% no montante dos contratos de empreitadas, celebrados e registados no Portal Base, que totalizaram apenas 2.968 milhões de euros.

E as maiores dificuldades que o mercado pode enfrentar?

A economia mundial atravessa um período de grande instabilidade, em face do aumento das tensões geopolíticas internacionais, com duas guerras a decorrer em simultâneo, na Europa e no Médio Oriente, com efeitos consideráveis no comércio internacional e nos principais parceiros económicos de Portugal, ao que acresce ainda os efeitos dos níveis elevados das taxas de juro definidas pelo Banco Central Europeu, com impactos expressivos nos custos de financiamento das empresas e dos particulares. A estes constrangimentos, acrescem ainda dificuldades sectoriais, das quais se destacam a falta de mão-de-obra, estimada em cerca de 80 mil e a evolução do preço das matérias-primas, da energia e dos materiais de construção.

Quais as perspectivas da CPCI para 2024?

Actualmente, Portugal está perante um abrandamento económico na Zona Euro e confrontado com um período de instabilidade política, que não é benéfica para o desenvolvimento e crescimento económico de qualquer país. Deste modo, são necessários de consensos e entendimentos suprapartidários, de longo alcance, em particular, em torno das grandes obras públicas, que se encontram inclusivamente já calendarizadas, de modo, a acelerar a tão desejada convergência económica e social com os restantes países da União Europeia e desta forma recuperar a nossa posição no seio da União Europeia.

Para 2024, prevê-se, deste modo, que o sector da construção contribua decisivamente para a evolução da actividade económica nacional, com a produção total, em termos reais, no ponto médio do intervalo de previsão, a crescer 3% e a situar-se, em valor, nos 21.212,9 milhões de euros.

https://www.diarioimobiliario.pt/Perspectiva-se-um-2024-em-duas-velocidades-para-o-sector-imobiliario