CONSTRUÍMOS
NOTÍCIA
Entrevistas

Eduardo Abreu, Director geral da Neoturis

Eliminação dos golden visa não transmite estabilidade para um país que necessita de investimento estrangeiro

28 de dezembro de 2022

Eduardo Abreu, Director geral da Neoturis, admite que 2023 é um ano mais difícil de antever que o normal, é um mercado que tem que estar pronto a reagir numa base diária e com políticas muito bem definidas.

O responsável avança ainda que tendo como pano de fundo a evolução da guerra na Ucrânia e as estratégias dos bancos centrais para combate à inflação (com sucessivos aumentos de taxas de juro de referência) a situação económica dos europeus degradar-se-á nos próximos meses e com isso o orçamento para viagens pode sofrer uma redução. Consoante a duração ou profundidade da estagnação ou recessão económica, maior ou menor o impacto nas viagens para Portugal. De qualquer forma também a viagem de europeus para fora da Europa se ressentirá e alguns desses fluxos poderão compensar parte da redução prevista.

Em relação às transações de unidades hoteleiras ou empreendimentos turísticos o a procura continua a existir por parte de investidores com origem internacional, tendo sido fechadas várias operações ao longo do ano; porém, ainda existe algum desencontro entre os valores pretendidos pelos proprietários e os oferecidos pelos investidores.

Que balanço faz do mercado imobiliário de 2022 e do turismo?

No que se refere à procura turística por Portugal, o ano de 2022 foi extraordinariamente positivo, até porque existiam fundadas dúvidas antes do ano se iniciar sobre a velocidade de recuperação do mercado. Com os valores de 2022 já quase fechados podem antecipar-se valores em linha com 2019, o melhor ano de sempre. Nem todos os empreendimentos turísticos conseguirão bater 2019, mas muitos já o ultrapassaram em termos de número de dormidas e/ou de receitas.

É, no entanto, obrigatório referir na mesma frase que o aumento de receitas veio acompanhado com um aumento significativo dos custos operacionais. A energia, os recursos humanos e os produtos (nomeadamente alimentares) consumidos nos hotéis registaram aumentos muito significativo. Ou seja, nem toda o aumento de receitas pode ser transposto para o aumento do EBITDA da operação.

Em relação à vertente imobiliária, duas notas: a venda de segundas residências manteve um ritmo muito interessante e positivo ao longo de 2022 – nomeadamente nos eixos Lisboa/Cascais e Tróia/Melides e no Algarve. Novos mercados – como o norte-americano – têm vindo a contribuir também para esse desempenho, sendo hoje um activo real de Portugal a capacidade de diversificar a origem da procura a partir dos mercados tradicionais.

Em relação às transações de unidades hoteleiras ou empreendimentos turísticos o a procura continua a existir por parte de investidores com origem internacional, tendo sido fechadas várias operações ao longo do ano; porém, ainda existe algum desencontro entre os valores pretendidos pelos proprietários e os oferecidos pelos investidores. As várias políticas de proteção às empresas em 2020 e 2021, aliado ao bom ano de 2022, mantêm os proprietários com perspectiva de maximização de valor e sem necessidade absoluta de vender.

Quais os desafios que mais afectaram o mercado?

Na vertente operacional os principais desafios são, sem dúvida, a escassez de recursos humanos e o aumento dos custos operacionais, com destaque para a energia. Outro dos desafios, no sentido positivo, é a necessidade constante de melhoria da qualidade do produto num contexto de competitividade crescente, com novos hotéis, conceitos bem desenhados e operadores profissionais e eficientes.

Ao nível do mercado de investimento, nomeadamente a partir do primeiro trimestre com o início da guerra na Ucrânia, verificou-se uma crescente prudência (ou conservadorismo) por parte dos investidores nas avaliações de activos. A subida das taxas de juro e a percepção de maior dificuldade de financiamento são as preocupações e pontos de interrogação em cima da mesa, assim como, da parte de alguns, a expectativa que uma recessão mais profunda e prolongada na Europa permita que entrem no mercado a valores mais descontados.

O que se pode esperar para 2023?

2023 é um ano mais difícil de antever que o normal. Tendo como pano de fundo a evolução da guerra na Ucrânia e as estratégias dos bancos centrais para combate à inflação (com sucessivos aumentos de taxas de juro de referência) a situação económica dos europeus degradar-se-á nos próximos meses e com isso o orçamento para viagens pode sofrer uma redução. Consoante a duração ou profundidade da estagnação ou recessão económica, maior ou menor o impacto nas viagens para Portugal. De qualquer forma também a viagem de europeus para fora da Europa se ressentirá e alguns desses fluxos poderão compensar parte da redução prevista.

É assim um mercado que tem que estar pronto a reagir numa base diária e com políticas muito bem definidas e informadas ao nível do yield management; assim como, temos sentido essa tendência na nossa actividade, a necessidade de rever e redesenhar processos internos, extrair receita de activos adormecidos nos empreendimentos e avaliar de forma aprofundada as opções de outsourcing de várias actividades.

Diríamos assim que 2023 pode ser um ano com indicadores de procura similares a 2022 (com uma diferença de - 10% no máximo), mas onde as receitas dos empreendimentos não irão estar ao mesmo nível que no segundo semestre, em particular entre Junho e Setembro, de 2022.

No que se refere a investimento em segundas residências é expectável a manutenção de índices de procura. Alguma retração dos mercados tradicionais poderão ser compensados com novos mercados de origem e motivações diferentes de procura (para estadas mais longas, investidores que acreditam na procura posterior para nómadas digitais, …).

O que não pode acontecer, é a eliminação dos golden visa num período de estagnação ou recessão económica. Não parece que transmita a mensagem certa, nem a estabilidade necessária para um país que necessita de investimento estrangeiro.

https://www.diarioimobiliario.pt/2022-pode-ser-o-melhor-ano-de-sempre-do-imobiliario-mas-em-2023-pode-abrandar