É de lamentar que se tenha desinvestido na reabilitação com tanto património construído por reabilitar
José Cardoso Botelho, CEO da Vanguard Properties, admite que para 2022 os principais focos de preocupação face ao prolongamento da pandemia, mantém-se o tema da falta de mão-de-obra, manutenção de alguma disrupção das cadeias logísticas e consequentemente dos preços, e o tema do licenciamento urbanístico.
Para o maior promotor imobiliário do país, em 2021, o sector da construção a par da promoção mostraram ser os mais resilientes da economia nacional, o que deverá ser motivo de evidente orgulho e relevância tendo em consideração a importância no PIB nacional.
Como o mercado imobiliário enfrentou 2021 e a pandemia que afetou o mundo e o imobiliário português?
A Vanguard Properties e vários dos nossos colegas do setor, enfrentámos 2021 com elevada confiança, dedicando máxima energia e recursos para que o ano fosse de crescimento do sector. E, com efeito, alcançámos não apenas nós, mas também o setor, resultados muito positivos a todos os níveis, desde logo, no crescimento das vendas a clientes nacionais e estrangeiros. Contribuiu para este resultado, um acréscimo da equipa de vendas e maior presença no on-line.
Apraz-nos registar que o sector da construção a par da promoção mostraram ser os mais resilientes da economia nacional, o que deverá ser motivo de evidente orgulho e relevância tendo em consideração a importância no PIB nacional.
Quais os pontos positivos e negativos para o sector?
Os pontos positivos foram claramente o acréscimo da procura nacional e estrangeira e maior disponibilidade dos bancos para financiar novas operações de investimento em condições quase iguais à fase pré-pandémica. Os negativos, entre outros, foram as sucessivas vagas da pandemia gerando incertezas e dificuldade de viajar, crescente escassez de mão-de-obra, variação inaudita nos preços da construção, atrasos nalgumas entregas de matérias-primas e, atrasos adicionais nos processos de licenciamento e de emissão de licenças. Por fim, deverá ser ressaltado o contributo negativo das alterações ao programa dos ARI’s (Golden Visa).
O que podia ter sido feito e não foi?
Claramente, a flexibilização dos processos de concessão de vistos de trabalho por parte do SEF, bem como agilização dos processos de residência. No primeiro caso, é uma necessidade premente para a nossa economia, considerando a falta de mão-de-obra. No segundo, é uma questão de ética e de responsabilidade, especialmente para quem já investiu e cumpriu as obrigações assumidas para com o Estado Português.
Terminar com o AIMI e clarificar o tema da taxa de IVA aplicável à reabilitação dentro das ARU são outras das situações que podiam ter sido revistas e não foram. Refira-se ainda a necessidade de reforço nas principais edilidades (departamentos urbanísticos), visando a agilização do licenciamento.
Por fim, considerando os atrasos no licenciamento e nas obras, aumentar o prazo para conclusão das obras e recuperação do IMT.
E para 2022? Perante uma nova vaga com uma nova variante do vírus, quais as principais preocupações e as possíveis consequências para o mercado imobiliário?
Os principais focos de preocupação face ao prolongamento da pandemia, mantém-se o tema da falta de mão-de-obra, manutenção de alguma disrupção das cadeias logísticas e consequentemente dos preços, e o tema do licenciamento urbanístico.
É de lamentar que, havendo tanto património construído por reabilitar, nos últimos anos tenha decrescido o investimento nesta área, o que não faz o menor sentido, nem será a melhor forma de atingirmos os objectivos enunciados no “Green Deal”.
Por fim, a introdução de novos requisitos ao nível de sustentabilidade, acumulados com os enormes aumentos do custo de produção, poderá inviabilizar a construção para determinados segmentos.