Já deveria ter sido implementado um portal imobiliário das empresas de mediação
Paulo Caiado, Presidente da APEMIP - Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal revela ao Diário Imobiliário que já se deveria ter regulamentado o acesso à actividade imobiliária e implementado um portal imobiliário das empresas de mediação. Admite que um desafio que irá marcar o ano de 2022 diz respeito ao aumento no custo na construção, a falta de mão-de-obra e o aumento do custo dos materiais.
Como o mercado imobiliário enfrentou 2021 e a pandemia que afectou o mundo e o imobiliário português?
O mercado imobiliário enfrentou 2021 com muita resiliência. A construção manteve-se sempre em actividade e os projectos foram-se desenvolvendo. A par disso, a procura também não desceu e o sector adaptou-se à nova realidade, principalmente através das novas tecnologias, que ajudaram na divulgação e concretização de negócios. Por isso, as transacções aconteceram e a partir de meados do ano intensificaram-se. Terminamos o ano com vendas quase a atingirem números pré-pandemia. Basta analisar os últimos dados divulgados pelo Banco de Portugal, onde os empréstimos para habitação a particulares aceleraram em Outubro, com um acréscimo de 4,4% face ao período homólogo, tendo subido para 96.300 milhões de euros em relação a Outubro de 2020 (contra 4,3% em Setembro).
Também podemos dizer que os preços das casas estabilizaram. Além disso, o valor dos imóveis continua a ter uma componente de grande solidez e não se prevê que venha a descer. Neste sentido, de acordo com os dados recolhidos e analisados pelo gabinete de estudos da APEMIP, no segundo trimestre de 2021, entre Abril e Junho, foram transaccionados 52.855 alojamentos familiares, o que correspondeu a um crescimento homólogo de 58,3%. Ainda no mesmo período, o valor das vendas ascendeu a 8,5 mil milhões de euros, um crescimento de 66,5% face a idêntico período de 2020 (5,1 mil milhões de euros, no 2.º trimestre 2020. Perto de 6,9 mil milhões de euros correspondem a alojamentos existentes e 1,6 mil milhões de euros a transacções de alojamentos novos.
Quais os pontos positivos e negativos deste ano para o sector?
Um ponto positivo foi, sem dúvida, a resiliência do sector, tal como já referi. O mercado imobiliário teve a capacidade de se adaptar e recuperar, num momento de crise pandémica. A questão da própria pandemia foi um aspecto negativo, uma vez que veio colocar a insegurança e a instabilidade geral em todo o mundo e todos os sectores de actividade.
Outro ponto negativo diz respeito ao aumento no custo na construção, a falta de mão-de-obra e o aumento do custo dos materiais. Já para não falar no custo dos terrenos e ainda no tempo muitas vezes excessivo nos licenciamentos, agravado com as inúmeras taxas e impostos inerentes neste sector.
O que podia ter sido feito e não foi?
Regulamentar o acesso à actividade imobiliária, dando deste modo contributo à qualificação e notoriedade tão merecidas no sector. Ter já sido possível a implementação de um portal imobiliário das empresas de mediação.
E para 2022? Perante uma nova vaga com uma nova variante do vírus, quais as principais preocupações e as possíveis consequências para o mercado imobiliário?
O próximo ano inicia-se com um impasse relativamente à gestão do país, com um orçamento chumbado e eleições à porta. Temos ainda o desafio da pandemia. Apesar de vivermos momento de grandes incertezas, esperamos que o mercado imobiliário continue a consolidar o seu crescimento até aos níveis da pré-pandemia.
Outro desafio que irá marcar o ano de 2022 diz respeito ao aumento no custo na construção, a falta de mão-de-obra e o aumento do custo dos materiais. Já para não falar no custo dos terrenos e ainda no tempo muitas vezes excessivo nos licenciamentos, agravado com as inúmeras taxas e impostos inerentes neste setor. Esses factores têm consequências no sector e que irão influenciar o desempenho do mercado no próximo ano.
Além disso, é fundamental que o tão desejado Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) possa contribuir para melhorar estruturalmente as necessidades habitacionais e não criar maior pressão no custo de construção.