
Carlos Moedas durante a cerimónia de entrega das chaves - Foto CML
Câmara de Lisboa entregou 50 habitações com renda acessível em Marvila
A poucos meses das eleições autárquicas, a Câmara de Lisboa acelera a entrega simbólica de chaves como se a habitação acessível se construísse com cerimónias e discursos. Ontem foram 50 famílias em Marvila, num investimento com fundos do PRR, mas o momento serviu sobretudo de palco político: o presidente Carlos Moedas e o ministro Miguel Pinto Luz trocaram elogios, exibiram números e reiteraram promessas — num tom claramente marcado pela contagem decrescente para as urnas. A habitação, problema estrutural e de décadas, volta assim a ser tratada como vitrina de propaganda em tempo de pré-campanha.
A ajuda do PRR
A Câmara Municipal de Lisboa entregou ontem 50 chaves a famílias que vão residir em casas com renda acessível em habitações municipais na freguesia de Marvila, após um investimento de 9,3 milhões de euros.
As habitações inserem-se em dois novos blocos habitacionais, com tipologias T1, T2 e T3, localizados na zona do Vale Formoso de Cima, na freguesia de Marvila, cuja construção teve início em 2023, mas cujo projecto remonta ao anterior Executivo.
A empreitada representou um investimento de cerca de 9,3 milhões de euros, comparticipado com verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Segundo a Câmara de Lisboa, as habitações integram um projecto camarário “mais amplo” para a zona do Vale Formoso de Cima, que inclui também a construção, em curso, de um outro edifício destinado a renda acessível, com 105 fogos com tipologias de T0 a T4.
«Este é vosso direito...» - proclama Carlos Moedas
Numa cerimónia realizada durante a tarde, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), acompanhado pelo ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, entregou as chaves das casas a 50 famílias, destacando o trabalho que a autarquia tem feito na matéria.
“Esta é a vossa casa, este é o vosso direito”, disse o autarca, considerando que “entregar uma chave é mudar uma vida, é mudar uma família”.
A esse propósito, no final da cerimónia, em declarações aos jornalistas, Carlos Moedas destacou o trabalho que foi feito na área da habitação no actual mandato, referindo que foram entregues 2.744 chaves.
“Conseguimos entregar 2.744 chaves quando, durante 10 anos, quase não se construiu em Lisboa e, portanto, é preciso ver que houve uma década de estagnação, em que se construíam 17 casas por ano, imaginem”, apontou.
O autarca salientou ainda o facto de Lisboa ter 12% de habitação municipal, manifestando a intenção de aumentar esse número.
“Há poucas cidades europeias que têm esta percentagem. Nós temos mais de 12% e vamos continuar a ter mais. Continuamos a aumentar o nosso esforço porque é muito importante”, assegurou.
O rigor e a verdade dos números
O actual presidente da Câmara de Lisboa não é, porém, explícito quanto ao número de projectos de renda acessível concebidos e aprovados duante o seu mandato, que teve início em 2021.
Muitas das chaves que estão agora a ser entregues aos futuros inquilinos resultam de projectos de Habitação de Renda Acessível em Lisboa que transitaram do mandato anterior de Fernando Medina.
Segundo a própria Câmara Municipal, em informação recolhida pela Rádio Renascença, mais de 80% das habitações entregues no actual mandato resultam de projectos que tiveram início sob a anterior administração socialista.
Portanto, apesar da retórica actual em vésperas de consulta eleitoral, uma parte substancial – mais de quatro quintos – das casas entregues agora são fruto de investimentos e obras já em curso durante a anterior gestão.
Lusa/DI