As criptomoedas e o medo do desconhecido
À medida que a nossa idade vai avançando vamos ficando ultrapassados. E não é só em termos de tecnologia, mas em relação ao que desconhecemos ou não compreendemos.
A caminhar a passos largos para o meio século de existência dou por mim a olhar a realidade que me rodeia com alguma curiosidade, bastante cepticismo e, também, com a clara noção que há coisas que já não são para mim e que não vou conseguir acompanhar por mais curioso que seja ou por mais esforço que coloque no meu empenho. No fundo, não estou a fazer nada de diferente do que muitos antes de mim fizeram, quando lhes mostraram as vantagens da internet, dos computadores, as viagens de avião, do carro a combustão ou da electricidade.
Se este século e meio mostrou algo foi a nossa imensa capacidade de criar, de inovar e de melhorar o mundo que nos rodeia. Às vezes, é certo, à conta de alguns abusos e excessos – hoje temos a noção que a conta ambiental é altíssima, mas convém também ter presente que sem o carvão não tinha existido a revolução industrial.
Olho, por isso, com alguma curiosidade para o mundo das criptomoedas. Percebo o potencial que este encerra e as vantagens inerentes na compra de activos com este tipo de moeda. Mas, de igual forma, aceito e compreendo perfeitamente que este é um caminho que vai ter que ser desbravado por quem vem depois de mim, que poderá explicar de uma forma mais clara (e com uma linguagem actual) todas as potencialidades das criptomoedas.
Sabemos que o dinheiro físico está a desaparecer e que em algumas cidades europeias já praticamente nada se faz com dinheiro na mão. Até uma simples compra de um café. Tivemos a noção dos passos que foram sendo dados nesse sentido. Passos pequenos que, aos poucos revolucionaram a forma como encaramos a compra de bens e serviços. Hoje em dia usamos o cartão ou o telemóvel para pagarmos as nossas despesas e já não é nenhuma tragédia sair de casa sem dinheiro no bolso.
É da natureza humana desconfiar da novidade e estranhar o que não conhece. E, embora já não seja para mim, tenho a certeza que as criptomoedas irão fazer o seu caminho. E ter sucesso.
Acredito que num futuro próximo será tão normal comprar um imóvel com este tipo de moeda como hoje fazemos a aquisição de um imóvel através de transferências bancárias sem que nenhum de nós agarre fisicamente milhares de euros para liquidar uma compra. A não ser que esse dinheiro venha de uma mala. Mas isso, como sabemos, seria outra história.
Francisco Mota Ferreira
Trabalha com Fundos de Private Equity e Investidores e escreve semanalmente no Diário Imobiliário sobre o sector. Os seus artigos deram origem ao livro “O Mundo Imobiliário” (Editora Caleidoscópio).