
Bruno de Carvalho Matos, Engenheiro Civil
As cidades do futuro
Face aos desafios que se colocam à gestão das cidades de forma crescente, abrangendo matérias como a circulação automóvel, a poluição, a habitação e o acesso a serviços (e.g. sistemas de transportes e vias de comunicação, fornecimento de água, energia e comunicações), urge encontrar uma solução integrada que interligue pessoas, espaços e objetos, capitalizando sobre novas tecnologias da informação como a internet of things (IoT) e a inteligência artificial (IA), que permitem, respetivamente, recolher e analisar dados para apoiar a tomada de decisão de forma mais rápida, eficiente e informada.
É neste contexto que surge o conceito de “cidades inteligentes (CI)” (do inglês, “smart cities”), que se pode definir como um ambiente urbano interconectado através de infraestruturas digitais (e.g. redes de comunicação, sensores, centros e plataformas de gestão de dados) e tecnologias avançadas (e.g. IoT e IA), implementadas para melhorar a vida no dia-a-dia das pessoas e empresas, garantindo o acesso à informação correta, da entidade correta, na forma correta e no momento correto.
Em particular, as CI potenciam benefícios como a eficiência energética, e.g.através de redes elétricas que equilibram a oferta de energia em função do consumo em tempo real ou de sensores que ajustam a intensidade da luz em função das necessidades de iluminação na via pública; a mobilidade sustentável, e.g.por meio de sistemas de transportes públicos que ajustam rotas e horários com base na procura ou de semáforos que regulam o fluxo de trânsito em tempo real, incluindo aplicações de mobilidade partilhada para carros; e a qualidade ambiental, e.g. através de zonas verdes e telhados ecológicos ou de sensores que analisam a qualidade do ar e alertam para ações corretivas.
Embora não exista um caso ideal de CI, podem ser destacados alguns exemplos de aplicação ao nível mundial como as cidades de Xangai, devido à sua sofisticada plataforma de dados que alimenta mais de 1000 serviços oferecidos na cidade; de Seul, que tem em curso um projeto onde todos os residentes estarão à distância de 10 minutos, a pé, de todos os serviços e comodidades (“cidade de dez minutos”); de Copenhaga, onde os semáforos desligam automaticamente para economizar energia e os espaços públicos são iluminados a partir de energia solar; e de Singapura, que detém uma rede de pagamentos contactless nos transportes públicos e um sistema de monitorização à distância de pessoas em estado de saúde mais debilitado. Em Portugal, os exemplos são mais escassos, existindo, contudo, pelo país, aplicações como sistemas de rega inteligentes, equipamentos de reconhecimento facial e contadores inteligentes em edifícios públicos, redes 5G e transportes públicos elétricos e não tripulados.
O desenvolvimento de CI enfrenta, contudo, diversos desafios, destacando-se os que se relacionam com a desigualdade digital, devido à falta de acesso (ou conhecimento) equitativo às novas tecnologias, o que pode acentuar as desigualdades sociais ao excluir partes da população dos benefícios das CI; a segurança e privacidade de dados, devido à recolha e tratamento de uma grande quantidade de informação e à possibilidade de ciberataques; a interoperabilidade de sistemas, considerando a complexidade na integração e compatibilização de diferentes plataformas e tecnologias; e os custos envolvidos, tanto de investimento quanto de manutenção, que podem ser demasiado elevados.
Para mitigar estes desafios, as medidas a tomar passam por implementar programas que assegurem o acesso universal às novas tecnologias e promovam a literacia financeira entre os cidadãos; por desenvolver normas regulamentares que garantam a proteção de dados e a privacidade dos cidadãos, assim como a compatibilidade entre diferentes sistemas e tecnologias; e por fomentar colaborações entre governos, empresas e comunidades para partilhar iniciativas, conhecimentos, custos e riscos na adoção de soluções inteligentes.
Por fim, é determinante a integração de tecnologias de informação avançadas e inteligentes no setor da construção e do imobiliário para o desenvolvimento de cidades mais resilientes, sustentáveis e centradas nas necessidades e preferências dos cidadãos. Além da vantagem económica, proveniente da otimização de recursos e da eficiência operacional, destacam-se os benefícios ambientais e sociais, que tendencialmente melhoram a qualidade de vida e incentivam à participação ativa dos cidadãos na gestão urbana.
Bruno de Carvalho Matos
Engenheiro Civil
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico