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Entrevistas

Miguel Marinho Soares, director comercial da LovelyStay

Alojamento Local permanecerá uma das actividades imobiliárias mais rentáveis no país

3 de março de 2023

Apesar do ataque ao Alojamento Local no programa Mais Habitação apresentado pelo Governo, Miguel Marinho Soares, director comercial da LovelyStay, assegura que este ataque foi claramente uma medida impensada e que ignora graves consequências para o turismo.

Refere ainda que o problema da habitação em Portugal é um problema de oferta, e que não é resolvido com a demonização do AL. A LovelyStay queé especializada em gestão de alojamento turístico e que espera em 2023 registar um volume de negócios acima dos 25 milhões de euros - mais 40% do que o ano passado e a expectativa é de contratar pelo menos mais 30 novos talentos até ao final do ano. Apesar das novas medidas do governo, o plano de contratação continua em vigor, de acordo com Miguel Marinho Soares, pelo menos para já, enquanto não se sabe ao certo como vai ser o futuro do sector.

Quais as consequências para o AL depois do anúncio feito pelo Governo sobre a suspensão de novas licenças de AL?

Mesmo com estas novas medidas, o Alojamento Local permanecerá uma das actividades imobiliárias mais rentáveis no país. O que é preocupante é que o mesmo governo que atraiu tantos investimentos nacionais e internacionais, com o propósito de renovar propriedades e criar um sector turístico mais atractivo, é o mesmo governo que viola agora as legítimas expectativas dos seus investidores, descredibilizando o sector que mais tem contribuído para a requalificação e crescimento urbanos.

Considerando que apenas 2% dos fogos habitacionais são AL em Portugal, e que as novas licenças já estavam suspensas em Lisboa desde 2019 e, mesmo assim os preços de arrendamento e compra de propriedades só aumentaram, é possível compreender que o problema da habitação em Portugal é um problema de oferta, e que não é resolvido com a demonização do nosso sector. Afinal, haverá poucas pessoas à procura de habitação no Chiado quando comparadas com as que procuram - e não as encontram - em Almada ou Coimbra, onde a AL não é o problema. Mais uma vez, o governo apresenta medidas populistas vazias que confundem a capital com o resto do país, estando este último numa clara desvantagem.

E sobre a contribuição extraordinária dos imóveis afectos ao AL?

Ainda não sabemos ao certo de quanto será ou como será aplicada. A única coisa de que temos a certeza é de que este ataque ao alojamento local foi claramente uma medida impensada e que ignora graves consequências para o turismo. Em contas muito rápidas, só no ano passado a LovelyStay gerou um rendimento bruto de 18,5 milhões de euros só em alojamento. Considerando que para além de pagarem pela dormida, os hóspedes gastam ainda dinheiro em transportes, restaurantes, souvenirs, museus, pontos turísticos e muito mais, só a nossa empresa gerou para a economia portuguesa mais de 65 milhões de euros em 2022. Assim, ignorar o impacto que o AL tem na economia portuguesa contribuirá para o enfraquecimento do poder de compra nacional e não o contrário.

Quantos postos de trabalho podem estar em causa com estas medidas?

Mais do que as centenas de trabalhadores que podem vir a perder os seus empregos, existem dezenas de milhares de proprietários que têm o AL como a sua principal fonte de rendimento e que podem vir a ser negativamente impactados. Uns como outros alimentam uma densa rede de colaboradores indirectos constituída por profissionais de limpeza, de manutenção, motoristas, arquitectos, carpinteiros, contabilistas, advogados e muitos mais. Hoje a LovelyStay tem mais de 80 funcionários e a expectativa é de contratar pelo menos mais 30 novos talentos até ao final de 2023. Apesar das novas medidas do governo, o plano de contratação continua em vigor, pelo menos para já, enquanto não sabemos ao certo como vai ser o futuro do sector.

Quantos AL podem desaparecer com estas medidas?

Pensamos que o impacto será maior no crescimento do sector do que na sua composição actual, embora se espere que os imóveis menos rentáveis optem pela estabilidade do arrendamento convencional. A verdade é que a nossa actividade continua a ser muito rentável - condição necessária para amortizar os investimentos feitos na compra, remodelação e decoração dos imóveis – e, a bem verdade, a maioria dos ALs não podem ser facilmente convertidos em habitação permanente a partir do momento em foram concebidos como unidades hoteleiras - pequenos demais, sem espaços de arrumação, equipados de diferente forma. Tal como aconteceu durante a pandemia, esta ligeira diminuição da oferta de alojamentos irá beneficiar aqueles que permanecerem no mercado, causando uma subida dos preços pagos pelos turistas que deixarão de conseguir encontrar acomodação de qualidade com facilidade.

Qual o impacto no turismo?

O impacto é enorme e completamente negativo. É importante ter no mercado diferentes opções de alojamento, tais como AL e hotéis. E estes nem sempre se encontram em concorrência directa, sendo o público-alvo e as suas preferências completamente díspares. O país investiu tanto em trazer turistas para Portugal, e agora que estamos numa fase excelente, após dois anos tão difíceis, parece ter-se esquecido de que o Alojamento Local tem sido uma alavanca fundamental para a economia portuguesa, antes, durante e após a pandemia. Para não falar de que esses mesmos turistas se encontravam agora perfeitamente posicionados para descobrir novas zonas e cidades, e não apenas Lisboa, Porto e Algarve. São esses municípios, como Setúbal, Braga e Coimbra, os que serão mais afectados pelo afastamento do investimento externo que requalificaria os seus edifícios, ao mesmo tempo que criaria as estruturas necessárias para bem-receber mais hóspedes nas suas cidades.