Ai esse marketing
É comum ouvirmos imensas vezes dizer que ninguém se importa que falem bem ou mal do próprio porque, desde que falem, há sempre publicidade que está garantida. Mas será que isto é mesmo assim? Vou ainda mais longe. Será que, no que ao imobiliário diz respeito, o importante é sermos notados, nem que seja, por vezes, pelas figuras tristes que nos sujeitamos, na ânsia, objetivo e propósito de ficarmos conhecidos?
Quem tem e acompanha as redes sociais saberá, possivelmente, que um dos exemplos mais paradigmáticos do que referi anteriormente, pode ser visto, de forma recorrente na página de “O Agente Funini” onde são divulgados (expostos?) algumas iniciativas mais radicais, digamos assim, dos consultores imobiliários.
Confesso-vos que o gajo da comunicação e do marketing que há em mim tem sempre as maiores dúvidas em perceber se esta é uma estratégia vencedora. Num mercado altamente competitivo como é este do imobiliário, não quero acreditar que o consultor que se expõe ao ridículo ou a consultora que mostra mais o seu decote são os que terão mais sucesso na profissão. Serão possivelmente, os mais conhecidos (seguramente interpares) mas acho, sinceramente, que isso não se traduz em mais angariações, clientes, vendas, contratos ou parcerias. Corrijam-me, por favor, se eu estiver errado.
E depois, há outra coisa que me tira do sério (e que foi também explorada recentemente pela malta gira do 1º D - https://www.1direito.com/- se não sabem o que é sugiro que deem uma espreitadela no Instagram onde pode ser vista toda a criatividade desta dupla) que é os posts de autoelogio. Só interessa ao ego do(a) próprio(a) (e talvez da sua família) que o Antunes ou a Vanessa tenham conseguido vender um imóvel em 24 horas, com aquele relambório de agradecimentos que tresandam a graxa fútil e fácil.
Pessoalmente, acho que este tipo de publicidade não atrai negócios ou clientes, a não ser, talvez, aqueles que já sejam seguidores dos consultores em causa. E, por outro lado, tenho sempre a ideia que, neste mundo pequenino e mesquinho que por vezes é o do imobiliário, posts como estes atraem invejas e criam mal-estar entre as pessoas. Se acham que estou a inventar, vejam os comentários que normalmente aparecem e que também tresandam a falso: “máquina”, “és grande”, “sempre acreditei em ti” ou algo deste género, que parecem tirados do manual “Como dar graxa a fingir que gosto”.
Mas porque, hoje em dia, já não acompanho tanto o mercado residencial como antigamente, não quis deixar de confirmar se esta minha ideia e os meus reparos mais negativos eram assim tão descabida quanto isso. E, pelo que fui falando com alguns profissionais do sector, acabei por confirmar o que acima escrevi: malta, sigam para outra ok? Já não há pachorra para celebrações onanísticas que, como as referidas, só dão prazer a quem as celebra.
As redes e quem as frequenta procuram cada vez mais conteúdos diferenciadores, a história por trás da História e o que é que os nossos posts (ou escritas) podem acrescentar a quem nos lê. Pela minha parte, eu tento fazer esse exercício. E acreditem que, ao fim de quatro anos a escrever todas as semanas sobre o sector, tenho a noção que nem sempre é fácil ter conteúdos que possam servir o interesse de quem vai tendo a paciência para me ir lendo por aqui.
É também por isso que deixo aqui uma sugestão: podem e devem ser excelentes consultores imobiliários e fortíssimos nas técnicas e táticas de venda e de captação de clientes. Mas não têm que ser barra, por exemplo, na escrita, nas redes sociais ou na criação de conteúdos. Como em tudo na vida, se não sabemos fazer, desistimos ou entregamos a quem sabe. No caso, acho que uma profissionalização cada vez maior dos consultores imobiliários, com a agregação de várias valências em outsorcing, só iria beneficiar o sector e dar-lhe a tão desejada credibilidade por parte de todos. Uma credibilidade que, como sabemos, tem tardado a chegar.
Francisco Mota Ferreira
francisco.mota.ferreira@gmail.com
Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio)
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico