Teatro D. Maria II vai fechar para obras em 2023
O Teatro Nacional D. Maria II vai ser alvo de obras de recuperação num valor estimado de 9,8 milhões de euros, ao longo do ano de 2023, período durante o qual a programação vai percorrer todo o país.
As obras no histórico edifício situado no Rossio, em Lisboa, realizam-se no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e do investimento destinado à valorização, salvaguarda e dinamização do património cultural.
De acordo com a presidente do conselho de administração do Teatro Nacional D. Maria II (TNDM), Cláudia Belchior, durante o próximo ano será lançado o concurso público e o teatro será esvaziado, para iniciar as obras em 2023. A previsão é que o teatro reabra no início de 2024.
Durante o encerramento do TNDM, os espetáculos serão articulados com a Direção Geral das Artes e a recém-criada Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses.
As obras estruturais previstas para o edifício vão “mudar o paradigma dentro da instituição”, considerou Cláudia Belchior, destacando tratar-se de uma “obra muito ambiciosa”, que não se faz desde que o teatro reabriu em 1978 – depois de 14 anos de reconstrução, na sequência do incêndio que em 1964 destruiu todo o seu interior – e que não se voltará a fazer tão cedo.
O projeto está a cargo do arquitecto Francisco Pólvora, da BJF Arquitectos, gabinete de arquitectura responsável pelo desenho e desenvolvimento do projecto, que está há dois anos a trabalhar com uma vasta equipa de mais de 15 especialidades.
De acordo com Francisco Pólvora, o projecto de reconstrução manterá os traços originais, mas com grandes inovações, que passam por centralizar num único espaço vários serviços dispersos pelo teatro.
Esta área é a antiga sala de cenografia, localizada por cima da sala principal, a sala Garrett, que, devido ao elevado pé direito, terá uma mezzanine (com escadas laterais de acesso), onde vão estar quase todas as estruturas do teatro, e um jardim de inverno.
Recuperação da fachada
“A nossa preocupação foi tirar partido do pé direito e da estrutura elegante”, mantendo essa espacialidade, e a “oportunidade de criar um jardim de inverno, que estabeleça uma interface entre o interior e o exterior”.
Será, então, criada uma zona de trabalho à volta do novo jardim de inverno, que será forrado a pedra lioz, “como se a fachada do edifício entrasse no jardim”, explicou.
A zona da sala de costura vai ser completamente aberta e terá lanternins, que farão a iluminação e ventilação do espaço, sendo visíveis do exterior, a partir do largo da Igreja de São Domingos.
A abertura de janelas é, de resto, uma das apostas deste projecto que pretende trazer ao teatro não só mais luz natural e ventilação, como transparência.
Essa intenção está patente, por exemplo, na ideia de transformar as “zonas de arrumação” de adereços e figurinos, existentes nos caminhos de acesso à antiga sala de cenografia, em “vitrinas expositórias”, para serem visíveis por quem passa pelo teatro.
Além do sistema de iluminação cénica e de som, vão também ser intervencionados os sistemas de climatização, nomeadamente para melhor conservar o espólio guardado no arquivo e na biblioteca.
Um protocolo assinado com a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa permitiu fazer um rastreamento a laser e um levantamento cromático da sala e de outros espaços do teatro, com o objetivo de valorizar os elementos decorativos, designadamente na Sala Garrett.
Francisco Pólvora destacou ainda a recuperação que será feita da fachada do edifício e uma nova intervenção na iluminação com vista a uma maior eficiência energética.
Presente na conferência de imprensa, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, lembrou o passado recente de “dificuldades” que se refletem ainda na actualidade, sublinhando a importância de “assumir este tempo como de mudança positiva”.
Segundo a governante, “o Plano de Resolução e Resiliência é o maior estímulo para a cultura e um pilar fundamental” para o desenvolvimento do país.
As verbas serão aplicadas na promoção da transição digital e da digitalização, assim como na salvaguarda e dinamização do património, estando previstas, neste âmbito, intervenções em 46 museus e monumentos e em outros dois teatros nacionais.
Lusa/DI