Orçamentos para obras com prazos cada vez mais curtos devido à elevada incerteza
As empresas de construção estão a dar orçamentos com validade cada vez mais curta devido às incertezas geradas pela escalada dos preços das matérias-primas, energia e materiais e às disrupções das cadeias logísticas, avançou a AICCOPN.
“Perante os atuais níveis de incerteza, é necessário reconhecer que a orçamentação é uma tarefa muito complexa, porque as empresas são confrontadas diariamente com oscilações de preços, escassez de produtos ou prazos de fornecimento anormalmente longos, pelo que se verifica uma tendência de encurtamento dos prazos de validade dos orçamentos”, afirmou o presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) em declarações à agência Lusa.
Segundo Manuel Reis Campos, “a este problema acresce, ainda, a falta de mão de obra qualificada, identificando-se a necessidade de 80 mil trabalhadores no setor, pelo que é inevitável que esta conjuntura tenha reflexos na atividade do setor e, consequentemente, afete a capacidade das empresas para assegurar os seus custos operacionais e manter os preços orçamentados”.
“Em bom rigor, com os níveis de incerteza que enfrentamos já é difícil orçamentar para o momento actual, quanto mais indicar prazos de validade mais longos”, enfatizou, referindo que “esta é uma realidade que é transversal à generalidade do setor e não exclusiva para alguns segmentos”.
De acordo com o presidente da AICCPN, que lidera também a Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI), os atuais problemas ao nível de orçamentação “têm, sobretudo, na sua base a anómala subida dos preços das matérias-primas, da energia e dos materiais de construção e as disrupções das cadeias globais de produção e logística”.
“Estamos perante subidas sem precedentes, com os preços dos combustíveis a manterem-se em máximos históricos e materiais essenciais para o setor, como o aço em varão para betão e o alumínio, registam crescimentos, no final de março, na bolsa de metais de Londres, de 47% e 58%, respetivamente, em termos homólogos”, salienta.
Segundo precisa o dirigente associativo, se for antes considerada a variação face ao final do terceiro trimestre de 2020, estes aumentos são na ordem dos 103% e 102%, respectivamente.
Manuel Reis Campos apontou ainda à Lusa as dificuldades criadas à actividade das empresas pelos actuais “problemas nos abastecimentos dos produtos que dependem das cadeias globais de produção e distribuição”.
Ainda assim, diz, e “sem prejuízo de alguns atrasos e problemas operacionais, de uma forma geral, as empresas têm conseguido ultrapassar os constrangimentos e as situações de paragem de obras são pontuais e de conhecimento público”.
Relativamente à criação, defendida pelo líder da AICCOPN, de um fundo para cobrir “aumentos significativos” nos custos de produção das obras públicas, sob pena de poderem vir a ficar “desertos” muitos concursos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), Reis Campos afirma ser “uma questão que está a ser articulada com o Governo e que depende, também, do Orçamento do Estado que está em discussão”.
“É uma das medidas que integra o pacote de soluções pragmáticas que foi apresentado ao novo executivo e é essencial para assegurar o regular funcionamento do mercado e salvaguardar os contratos em curso e a celebrar no âmbito do ambicioso plano de investimentos que é imprescindível executar ao longo dos próximos anos”, sustentou.
De acordo com uma estimativa divulgada na terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), os custos de construção de habitação nova dispararam 11,6% em Março em termos homólogos, mais 3,0 pontos percentuais do que no mês anterior, traduzindo sobretudo a subida dos preços dos materiais.
Segundo o Índice de Custos de Construção de Habitação Nova (ICCHN) do INE, o preço dos materiais e o custo da mão de obra apresentaram, respetivamente, subidas de 15,3% e de 6,4% face ao período homólogo (10,3% e 6,3% em fevereiro), destacando-se o aumento do preço dos aços, produtos cerâmicos, gasóleo, vidros, aglomerados e ladrilhos de cortiça e madeiras e derivados de madeira, “todos com crescimentos homólogos acima dos 20%”.
LUSA/DI