AML: aumento de preços irradia de Lisboa para as periferias
A falta de acesso à habitação na Área Metropolitana de Lisboa “é mais premente” na zona norte, mas o aumento dos preços está a expandir-se a todos os municípios e a acentuar-se nos limítrofes, revela o estudo “Diagnóstico das Condições Habitacionais Indignas na Área Metropolitana de Lisboa”, feito por uma equipa na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa e apresentado há dias.
É na zona norte da Área Metropolitana de Lisboa (AML) que “os preços são mais elevados” e, dentro dela, três municípios (Lisboa, Cascais e Oeiras) apresentam uma “inacessibilidade habitacional” para uma “larguíssima maioria dos agregados” (70%), sendo que os restantes estão “em forte risco” de caminhar para aí.
“Nestes municípios, nem no escalão de rendimentos mais elevado (>32.500€/ano) os agregados têm possibilidade de encontrar uma habitação adequada disponível sem despender mais de 40% do seu rendimento”, alertam os autores.
Por outro lado, “os municípios de Vila Franca de Xira, Alcochete, Barreiro, Palmela, Seixal, Sesimbra e Setúbal são os que apresentam uma menor percentagem de agregados em situação de inacessibilidade habitacional, muito embora estes representem, em todos os casos, mais de 40% dos agregados com residência fiscal nesses municípios”.
O estudo revela ainda que há um “alastrar do aumento dos preços dos municípios centrais da AML para os mais afastados da capital, tanto ao nível da venda como do arrendamento” e que os maiores aumentos se registam em municípios limítrofes da Área Metropolitana.
“O que indica que a dinâmica de subida extraordinária dos preços da habitação, que teve início em Lisboa, já se expandiu para abranger a totalidade do território metropolitano, estando actualmente mais acentuada, em particular no caso da venda, nos municípios menos acessíveis face à capital”, lê-se no documento.
Em jeito de conclusão, os autores do estudo afirmam que “continua a verificar-se uma subida significativa de preços em toda a Área Metropolitana”.
160 mil alojamentos vagos na AML
O estudo concluiu que 50.417 famílias da AML vivem em condições habitacionais indignas, que 45% delas vivem nos municípios de Lisboa, Amadora e Oeiras e que “o eixo Cascais‐Loures concentra quase três quartos do total das condições habitacionais indignas”.
Desses 50 mil agregados, mais de metade vivem em situação de insegurança e insalubridade e cerca de 20% em condições de precariedade. Lisboa e Sintra destacam-se no número de habitações degradadas.
O estudo estima ainda que quase dois terços das famílias (62%) não tenham acesso à habitação nas actuais condições de mercado – ou seja, não encontrarão habitação adequada sem despender mais de 40% do seu rendimento. E - destacam os investigadores - o terço em falta está em risco de deixar de ter acesso.
Segundo o estudo, o primeiro levantamento das condições habitacionais indignas realizado à escala metropolitana, cerca de um quinto das famílias têm um encargo superior a 400 euros com renda de casa (sem outras despesas) ou prestação (excluindo seguros, condomínios, etc.), o que representa o dobro da média nacional.
Entre os outros dados revelados está a indicação de que a AML é “a região do país em que a relação entre o número de alojamentos por agregado é menor”.
Se no seu território está cerca de um quarto do total de alojamentos existentes em Portugal, também é nele que se concentram quase 30% dos agregados.
Isto quando “continuam a existir cerca de 160 mil alojamentos vagos” na AML, com o município de Lisboa a liderar o número destas habitações.
Nos últimos três anos – constata a equipa –, o valor mediano das vendas por m2 de habitação na AML aumentou 38,4%, “um aumento superior ao verificado no país (36,5%)”; simultaneamente, nos últimos quatro anos e meio, o valor mediano das rendas por m2 de habitação na AML aumentou 53%, “uma subida muito mais elevada do que o já de si forte aumento verificado no país (42%)”.
Os autores alertam que se tem verificado “um alastrar do aumento dos preços dos municípios centrais da AML para os mais afastados da capital, tanto ao nível da venda como do arrendamento”.
Lusa/DI