
Foto Secil
Venda da Secil à Molins deixa cimento em Portugal sob controlo estrangeiro
O grupo de investimento Semapa anunciou a venda da Secil – Companhia Geral de Cal e Cimento ao grupo espanhol Molins por 1,4 mil milhões de euros, num negócio que deverá ficar concluído no primeiro trimestre de 2026. A operação representa uma das maiores transacções recentes no sector industrial português e altera de forma estrutural o panorama do mercado do cimento em Portugal.
Em comunicado, o presidente executivo da Semapa, Ricardo Pires, sublinhou que a alienação da Secil “reforça a capacidade de investimento do grupo”, no quadro da estratégia de diversificação do portefólio, que inclui activos como a Navigator. Já o CEO da Molins, Marcos Cela, destacou a aposta em soluções “circulares e de baixo carbono” e confirmou a integração dos 2.900 trabalhadores da Secil no grupo espanhol.
Secil: um ativo central do setor
A Secil é um dos principais grupos cimenteiros de origem portuguesa, com uma actividade que vai além da produção de cimento, abrangendo toda a cadeia de materiais de construção. Em Portugal, opera unidades industriais de referência, como Outão (Setúbal) e Maceira-Liz (Leiria), além de centros de cal, betão e agregados. O grupo tem ainda presença internacional em mercados como Tunísia, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Países Baixos, Líbano e Brasil.
Até agora, a Secil era detida quase a 100% pela Semapa, mas com esta venda passa para controlo espanhol, reduzindo ainda mais a presença de capital nacional num sector estratégico.
Um mercado altamente concentrado
O mercado português do cimento é tradicionalmente altamente concentrado, dominado por dois grandes produtores integrados:
Cimpor – Cimentos de Portugal, líder de mercado, com cerca de 58% a 60% da quota, e fábricas em Alhandra, Loulé e Souselas;
Secil, segunda maior produtora, com mais de 35% da produção nacional, agora vendida à Molins.
Com a operação anunciada, o sector passa a estar praticamente na totalidade sob controlo estrangeiro. A Cimpor pertence integralmente à Taiwan Cement Corporation (TCC), que em Março de 2024 concluiu a compra dos restantes 60% que estavam nas mãos do grupo turco OYAK, assumindo o controlo total da empresa.
Capital estrangeiro domina produção nacional
A venda da Secil à Molins consolida uma tendência de fundo: os dois maiores produtores de cimento em Portugal passam a ser controlados por grupos internacionais, asiáticos e europeus, respectivamente. Restam apenas operadores de menor dimensão ou regionais, sem capacidade integrada de produção de clínquer, com um peso residual no mercado.
Num contexto de transição energética, descarbonização da indústria e pressão sobre custos e investimento tecnológico, o sector do cimento em Portugal entra assim numa nova fase, marcada por capital estrangeiro, forte concentração e desafios ambientais, num mercado considerado estratégico para a economia e para a construção.
DI/Lusa














