Tendências que estão a marcar a disrupção no sector turístico e hoteleiro
Mais viagens do que nunca, novos mercados de origem, desejo de experiências únicas, crescimento do turismo de luxo e necessidade de adaptar os destinos turísticos para satisfazer as expectativas dos turistas. Estas são as cinco tendências chave que estão a marcar a disrupção no setor turístico e hoteleiro, e que constam do estudo "The state of tourism and hospitality 2024", elaborado pela McKinsey & Company.
O relatório destaca que, num contexto de maior procura por parte dos consumidores, viajar deixou de ser um mero interesse e passou a ser uma prioridade. Cerca de 66% dos mais de 5.000 consumidores inquiridos para o relatório afirmam que estão mais interessados em viajar agora do que antes da COVID-19, tendência que se observa em todas as faixas etárias, mas cuja percentagem aumenta à medida que a idade diminui. Além disso, os consumidores indicaram que estão a planear mais viagens em 2024 do que as realizadas em 2023.
Os dados da McKinsey mostram também que, após a pandemia, o turismo doméstico ganhou um maior protagonismo, o que levou a uma recuperação mais rápida face aos destinos internacionais, representando neste momento 75% do mercado global de gastos em viagens. Este fenómeno sugere uma tendência para a normalização pré-pandemia até ao ano 2030. Além disso, estima-se que o gasto em viagens seja de 8.600 milhões de dólares em 2024, representando aproximadamente 9% do PIB global deste ano.
O estudo da consultora mantém os Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, China e França como os cinco países com maior emissão de turistas do mundo, reunindo 38% do gasto em turismo a nível global. No entanto, os mercados de origem estão a evoluir, fazendo com que regiões como a Europa de Leste e o Sudeste Asiático, com um crescimento anual esperado na ordem dos 7% até 2030, e a Índia, com um crescimento médio esperado até 2030 de 9%, sejam os países onde se irá observar um maior crescimento de turistas.
"A recuperação do turismo chegou com muita força, e à medida que viajantes de um maior número de mercados de origem se aventuram a explorar novas fronteiras e experiências únicas, criam-se novas oportunidades para as empresas do setor e para os destinos captarem novos 'consumidores' e adaptarem as suas estratégias a um panorama em constante mudança", explica Javier Caballero, sócio da McKinsey & Company.
Maior gasto para experiências diferenciadoras e a redefinição do turismo de luxo
O turismo de experiências está a tornar-se cada vez mais relevante, destaca o estudo da McKinsey, que sublinha a crescente procura dos viajantes por experiências diferenciadoras e a sua disponibilidade para gastarem uma parte significativa do orçamento da viagem nessas mesmas experiências, em detrimento do alojamento e do transporte. Esta tendência é mais relevante quanto mais jovem é o turista. Este dado reflecte-se nas respostas à pergunta "se estão disponíveis para um capricho" em experiências quando viajam: 52% da Geração Z respondeu que sim, contra 47% dos Millennials, 39% da Geração X e 29% dos Babyboomers.Por sua vez, o turismo de luxo está a redefinir-se não só no produto, mas também em quem o consome.
Espera-se que a procura de turismo e hospitalidade de luxo cresça mais rapidamente do que qualquer outro segmento de viagem, sendo a Ásia o epicentro deste tipo de turismo e o principal mercado emissor. "Os viajantes de luxo não formam um grupo homogéneo, e muitos dos mitos tradicionais estão a mudar. A segmentação por idade, nacionalidade e património líquido revelam preferências em constante evolução. Muitos turistas 'de luxo' não são milionários, e a maioria tem menos de 60 anos", aponta Caballero.
A McKinsey realizou ainda uma análise sobre as actuais tendências deste tipo de turismo, um mercado global estimado em 1.500 milhões de dólares, com um crescimento anual de 6% desde 2015.O estudo refere que os atuais turistas de luxo procuram experiências personalizadas que se adaptem aos seus interesses individuais, como imersões culturais autênticas e uma maior ligação com os destinos que visitam, com 78% destes viajantes dispostos a pagar mais por experiências diferenciadoras, personalizadas e exclusivas. Além disso, o bem-estar pessoal e o impacto ambiental tornaram-se prioridades importantes.
Os viajantes de luxo preferem opções que promovam a saúde e a sustentabilidade com a tecnologia a assumir um aspeto relevante. Este perfil de turista utiliza ferramentas digitais para planear e gerir as suas viagens, o que obriga as empresas a melhorar as suas capacidades tecnológicas para oferecer serviços sem interrupções. A análise da McKinsey afirma que 85% dos turistas de luxo utiliza aplicações móveis para organizar as suas viagens, e 75% prefere hotéis com inovações tecnológicas avançadas.
Para Javier Caballero, "as empresas de turismo centradas neste segmento devem melhorar as plataformas digitais e as aplicações móveis para oferecer uma experiência sem interrupções e personalizada. Isto inclui o uso de inteligência artificial para personalizar as recomendações e serviços, assim como implementar práticas sustentáveis que reduzam o impacto ambiental das viagens".
Novos destinos e adaptação de acordo com as expectativas dos viajantes
Os Estados Unidos, Espanha, China, França, Arábia Saudita, Turquia, Itália, Tailândia, Japão e Índia continuarão a ser os países preferidos pelos viajantes. Actualmente, recebem 45% de todo o valor gasto em viagens, incluindo turismo interno. No entanto, os turistas estão a apostar em novos destinos, como, por exemplo, Laos e Malásia, que aumentaram 20% e 17%, respectivamente, no gasto dos turistas internacionais comparativamente a nos anteriores. Neste contexto, a UNWTO (Organização de Turismo Mundial) prevê que em 2030 o número de turistas alcance os 1.800 milhões, 20% superior aos 1.500 milhões registados em 2019.
Com base nesta previsão é fundamental que os destinos se preparem em seis dimensões, conforme destaca o relatório da McKinsey: recrutar e formar trabalhadores suficientes; aproveitar a utilização de dados e a tecnologia para gerir o fluxo de turistas; ser estratégico em que segmentos se quer atrair turistas; descentralizar a infraestrutura e as pontos de interesse para uma distribuição maior por número de cidades/locais; preservar o património cultural e natural; e explorar múltiplos mecanismos de financiamento, como patrocínio de eventos ou colaborações público-privadas.
O estudo destaca ainda que, entre os novos destinos turísticos, já há países que estão a desenvolver estratégias inteligentes na criação de procura turística. É o caso do Vietname, que registou um aumento significativo de 40% no gasto turístico nos cinco anos anteriores à pandemia; do Peru, que está a promover locais arqueológicos menos visitados, ao mesmo tempo que se promove como um destino culinário de primeira categoria através da promoção de restaurantes peruanos no estrangeiro; ou do Ruanda, que está a investir em infraestrutura para se tornar um importante centro de trânsito africano."Quer seja a investir em infraestrutura, a criar ofertas atrativas para os mercados emergentes, ou a promover destinos menos conhecidos com motivos de interesse únicos, a flexibilidade e a inovação serão chave para prosperar nesta nova era do turismo global", conclui o sócio da McKinsey.