Speedy Gonzales
Apareceu por estes dias nas notícias um estudo do Idealista que adianta que mais de um quarto das casas é vendido em menos de uma semana e que cerca de um terço das casas demora entre um e três meses a ser vendidas. Este estudo adianta ainda que 12% das casas estiveram no mercado entre uma semana e um mês, 31% entre um e três meses, 24% entre três meses e um ano e 6% mais de um ano. Dito de outra forma, mais de metade dos imóveis anunciados (55%) demoram entre um mês e um ano a serem transacionados.
Longe de mim querer questionar os estudos que surgem, pelo que irei assumir que os dados que dele constam são fiáveis e não baseados em achismos. E a primeira conclusão, irónica obviamente, que retiro da conclusão deste estudo é a de que, finalmente, percebi que, quando os consultores anunciam aos sete ventos que o imóvel angariado foi vendido em menos de sete dias, afinal era verdade.
A segunda conclusão, mais séria, vai ao encontro do que muitos consultores que conheço têm partilhado comigo: não há imóveis para venda e quando os há, o mercado (a procura) rapidamente os absorve. Pelo que, cada vez mais, - e contra todos os sinais evidentes de que Portugal vai passar algumas dificuldades a médio prazo - deverá existir uma aposta clara na reabilitação de imóveis e na construção, aliada, obviamente, a mecanismos mais céleres nas burocracias para reabilitar ou construir.
Claro está que há zonas do País mais apetecíveis que outras e este estudo revela isso mesmo, ao adiantar que Faro está no topo das escolhas, com 52% dos imóveis anunciados a serem vendidos em menos de uma semana. Por curiosidade, diga-se que Lisboa está nos 20% e Porto nos 39%.
Há outro dado, diria eu, praticamente invisível, quando se observam as conclusões deste estudo e que se prende com isto: afinal, há dinheiro em Portugal e os sintomas de crise não chegaram ainda a todo o lado.
Não me interpretem mal pf. Acho, sinceramente, que temos a tendência de culpar o estrangeiro por tudo e por nada, quando vemos que, afinal, na maior parte dos casos, são os Portugueses que consomem: são a maioria dos que compram imóveis, carros ou outros bens; são a maioria dos que enchem os hotéis nas férias ou fins-de-semana prolongados, são os atafulham os restaurantes da moda, que vêem-se a braços com reservas até 2025.
Os resultados estão à vista e o sector, pelos vistos, precisa de se mexer. Metam, por isso, os olhos em Speedy Gonzales, personagem da Warner Brothers, tido como corajoso, esperto e muito veloz, que faz tudo para conseguir um pedaço de queijo. Aqui no caso, aplicado ao sector, terão que se mexer bem rápido para terem a próxima angariação. Mas as semelhanças com Speedy Gonzales ficam por aqui. Ao que consta, o simpático rato mexicano não entrava em tramoias ou esquemas para conquistar o merecido prémio.
Francisco Mota Ferreira
Trabalha com Fundos de Private Equity e Investidores e escreve semanalmente no Diário Imobiliário sobre o sector. Os seus artigos deram origem aos livros “O Mundo Imobiliário” (2021) e “Sobreviver no Imobiliário” (2022) (Editora Caleidoscópio)