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Porto - Foto de Schnurzipurz-Pixabay

Projecto SOS Azulejo defende inventariação de património azulejar e mapa nacional

3 de julho de 2023

A coordenadora do Projecto SOS Azulejo, Leonor Sá, defendeu a inventariação do património azulejar em todo o país para reforçar o seu conhecimento e salvaguarda, ultrapassadas as décadas de destruição sistemática.

“Não podemos proteger aquilo que não sabemos exactamente que temos. É mesmo a medida mais básica, inventariar o património”, sublinhou a responsável, em entrevista à agência Lusa, a propósito de um balanço de 16 anos de actividade do projecto criado pelo Museu de Polícia Judiciária (PJ) - Instituto de Polícia Judiciária e Ciências Criminais, em Lisboa.

A iniciativa nasceu oficialmente em 2007, numa altura em que “a delapidação azulejar era dramática”, mas que se reduziu substancialmente desde essa altura, nos furtos e, sobretudo desde a aprovação da lei 79/2017, que interditou a demolição das fachadas azulejadas e remoção de azulejos históricos e artísticos a nível nacional.

Foram as propostas apresentadas pelo Projecto SOS Azulejo a partir de 2015, na Assembleia da República, que levaram ao debate de uma questão que até então estava totalmente fora do debate público e até académico, segundo Leonor Sá.


Estação de S. Bento - Porto

Considerado um caso único a nível mundial devido às suas características particulares e variadas, o azulejo tem 500 anos de produção nacional e ganhou tradição em Portugal na arquitectura, revestindo inúmeras igrejas e palácios nobres, entre outros edifícios da paisagem urbana do país.

Ultrapassadas as décadas – sobretudo a partir dos anos 1980 – de furtos, demolições e remoção de dezenas de milhares de azulejos por todo o país, o projecto continua ativo e a chamar a atenção das autarquias, através dos seus parceiros, para a necessidade de preservação.

Uma das resoluções aprovadas no parlamento, em 2017, recomendou a protecção e valorização do património azulejar português através de várias medidas, entre elas a inventariação, “a medida basilar de qualquer intervenção de salvaguarda”.

A conservadora do Museu da Polícia Judiciária considerou que seria “muito interessante” fazer uma quantificação do património azulejar que existia e comparar com a situação actual, “para perceber o que se perdeu”.


Museu do Azulejo - Lisboa antes do terramoto - Foto Yelkrokoyade Wikimedia

“Temos vindo a tentar incentivar os municípios que não têm esses inventários a realizá-los. São muito poucos os que já os têm”, indicou a coordenadora do projecto à Lusa, sublinhando ainda a necessidade de que “sejam realizados com os mesmos critérios”.

O objectivo seria “unificar esses inventários municipais e criar um mapa nacional do azulejo, com muitas vantagens para a sua preservação e promoção, dentro do património cultural do país”.

Embora considere que “o património azulejar português continua em risco parcial”, Leonor Sá fez um balanço positivo dos resultados alcançados, com a redução progressiva dos furtos de azulejos históricos e artísticos, e as já raras demolições que violam a lei em vigor.


Património azulejar da IP

“Resiliência, é um dos segredos. É ficar contente com cada centímetro que se consegue avançar e ganhar ânimo para conquistas futuras”, comentou, sobre uma iniciativa que surgiu na esteira de outros projectos anteriores dedicados à protecção de património de museus e igrejas do país pela PJ.

Apesar de o arranque do projecto se ter dado em 2007, o processo de obtenção de parcerias começou seis anos antes, e actualmente são oito as entidades envolvidas: a Associação Nacional dos Municípios Portugueses, a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), universidades de Lisboa e de Aveiro, Politécnico de Tomar, PSP e GNR.

Em 2013, o Projecto SOS Azulejo foi distinguido com um Prémio da União Europeia para o Património Cultural - Europa Nostra, dedicados ao património cultural europeu.

Lusa/DI