Programa bilateral quer "revitalizar e recuperar" aldeias na fronteira
Portugal e Espanha avançam na cimeira ibérica que arranca hoje em Lanzarote, nas ilhas Canárias, com um projeto comum para "revitalizar e recuperar" aldeias na fronteira, disse a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa.
"A ideia é revitalizar, recuperar vida nestas aldeias, algumas que estão praticamente abandonadas e outras que perderam grande parte da sua população e da sua actividade", afirmou Ana Abrunhosa.
Segundo a ministra, o objectivo do programa é "trazer investimento empresarial, inovador e competitivo, para estas aldeias", "projectos inovadores que criem emprego", e levar para esses locais actividades "que normalmente é mais habitual ver noutras geografias".
Ana Abrunhosa defendeu que o crescimento do teletrabalho, por exemplo, criou oportunidades de ter nestas aldeias "actividade económica que normalmente elas não teriam", mas é preciso criar "as condições tecnológicas" e outras para isso se concretizar e estes puderem ser "territórios competitivos para além da agricultura, da pecuária ou da agroindústria", numa "diversificação da base económica e social" tradicional.
Essas condições passam por novas infraestruturas de telecomunicações, pela garantia de ligações a pequenos centros urbanos ou pela recuperação de património, segundo explicou a ministra da Coesão Territorial.
Está em causa "revitalizar casas para as pessoas viveram" e "património para empresas se instalarem, para espaços de 'coworking', para empresas ou associações darem formação " ou "recuperar património para projectos culturais entre ambas as fronteiras", afirmou.
Ana Abrunhosa adiantou que os detalhes do programa serão apresentados em breve em Penha Garcia, uma freguesia de Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, e uma das aldeias já selecionadas para integrar o projecto.
Tanto Portugal como Espanha já identificaram várias aldeias para este programa, disse a ministra, que acrescentou que o financiamento passará também por fundos europeus.
Os projetos serão diferentes para cada aldeia, porque se trata de valorizar as potencialidades de cada local, para "reter e captar talento nestes territórios que hoje estão a ser muito procurados, não só pelos nómadas digitais, mas por outras empresas que consideram estes territórios mais atractivos para desenvolverem as suas actividades", segundo a ministra da Coesão Territorial. Acrescentou que "são projectos que não podem envolver só os municípios" e contarão com uma "multiplicidade de parceiros".
O programa enquadra-se dentro da estratégia de desenvolvimento nas regiões de fronteira anunciada por Portugal e Espanha em 2020, na cimeira ibérica da Guarda.
Na cimeira deste ano, que arranca hoje em Lanzarote, e dentro da mesma estratégia transfronteiriça, Portugal e Espanha vão ainda assinar um acordo para criar o "campus rural transfronteiriço", que permitirá a estudantes do ensino superior dos dois países fazer estágios e trabalhos de investigação em territórios rurais e despovoados.
Desde que foi anunciada em 2020, a Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço de Portugal e Espanha tem sido protagonista dos acordos saídos das cimeiras bilaterais.
A estratégia abrange 1.551 freguesias, cerca de metade das freguesias portuguesas, e abarca uma área correspondente a 62% do território nacional.
Do lado espanhol, inclui 1.231 municípios, correspondentes a 17% da superfície de Espanha.
Portugal e Espanha partilham a maior fronteira terrestre da União Europeia, um território marcado, na sua maioria, pelo despovoamento.
Lusa/DI