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Ilustração do projecto

População aplaude “jardim do mundo” no Martim Moniz em Lisboa mas deixa alertas

6 de fevereiro de 2024

A requalificação da Praça do Martim Moniz, em Lisboa, pretende criar “um jardim do mundo” e propõe a reorganização da circulação viária, projecto que a população ontem aplaudiu na apresentação pública no Hotel Mundial, mas com alertas sobre situações de desrespeito pelo espaço público.

“É um projecto para quem vive, circula e visita este espaço e é respeitador de diferentes hábitos, usos e culturas”, afirmou a vereadora do Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa, Joana Almeida (independente eleita pela coligação "Novos Tempos" - PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança).

A autarca falava na sessão participativa para apresentação do projecto, que decorreu naquela unidade hoteleira, localizada na Praça do Martim Moniz, e que contou com a sala cheia, com cerca de 170 pessoas.

Vários cidadãos questionaram sobre a intervenção junto das pessoas em situação de sem-abrigo, a disponibilização de casas de banho públicas, a reabilitação da Torre da Péla e a configuração da ciclovia.

No âmbito do concurso público internacional para a requalificação da Praça do Martim Moniz, que decorreu de Março a Junho de 2023 e que recebeu 21 trabalhos, o vencedor escolhido pelo júri foi o projecto de Filipa Cardoso de Menezes & Catarina Assis Pacheco – Arquitectura Paisagista. No próximo mês de Março, há uma exposição na praça com todos os trabalhos candidatos.

“Durante décadas, esta praça foi alvo de inúmeras intervenções, umas mais conseguidas, outras menos, de projectos abandonados, de avanços, de recuos. Felizmente, o projecto que hoje é aqui apresentado resulta de um processo de participação pública”, disse a vereadora Joana Almeida, referindo que a população demonstrou “o desejo forte da criação de um novo jardim”.

Além de áreas verdes, os cidadãos reivindicaram “a promoção de uma diversidade de actividades, a melhoria da circulação rodoviária, eliminando-se o efeito ilha que esta circulação provoca na praça, a redução do ruído e a promoção de uma acessibilidade pedonal confortável e, ainda, o aumento da segurança”, realçou a autarca, considerando que o projecto vencedor para a requalificação da Praça do Martim Moniz reflecte “um enorme respeito pelas vivências próprias do espaço, que preserva e valoriza”.

O projecto dedica toda a área central da praça à criação de “um jardim vivido, com diversidade de espaços e usos”, para acolher os diferentes utilizadores do espaço, bem como atrair novos utilizadores, e “propõe a reorganização da circulação viária, de forma a libertar o máximo espaço público para usufruto dos peões”, sublinhou a vereadora do Urbanismo.

“Queremos que seja o projecto de toda a cidade, um jardim do centro histórico e um jardim do mundo, utilizado por todas e por todos”, declarou Joana Almeida, referindo que o projecto ainda pode sofrer alterações, estando prevista uma segunda apresentação pública em Junho deste ano, prevendo-se que a obra se realize “ao longo de 2026”.


Página do projecto de Filipa Cardoso de Menezes & Catarina Assis Pacheco – Arquitectura Paisagista


“O mundo inteiro cabe aqui”

Presente na sessão, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS), felicitou o projecto escolhido, defendendo que é “muito apropriado para o território”, esperando que se concretize “o mais rápido possível”.

“Preocupo-me, entretanto, com o uso da praça nestes dois ou três anos, em que isto vai demorar, e queria aqui dizer publicamente: Esta praça é gerida pela câmara municipal, em meu entender, pelo distanciamento, não é bem gerida. A junta está disponível para assumir a responsabilidade na gestão desta praça até a sua obra”, manifestou Miguel Coelho, sem obter resposta.

A arquitecta Catarina Assis Pacheco explicou que o projecto que está a ser desenvolvido pretende envolver todos os agentes que operam na Praça do Martim Moniz, referindo que a proposta parte de “ideias muito simples”, nomeadamente a “vontade de trazer de novo o verde para a praça”, tendo em conta “a aridez de toda a área envolvente”, com enorme carência de espaços verdes.

O projecto prevê “tirar uma das vias de trânsito”, concentrando a circulação automóvel no lado da Rua da Palma, com duas faixas para cada sentido e com uma rotunda a sul da praça, onde se ficarão instalados os terminais de transportes públicos, indicou a arquitecta Catarina Assis Pacheco, acrescentando que o pavimento em tons mais claros, reflectindo a ideia de ter menos carros na zona da Baixa, dar espaço ao peão e às bicicletas.

A arquitecta Filipa Cardoso de Menezes disse que “o grande protagonista da intervenção é o sol vivo, o maior agente de biodiversidade”, adiantando que o novo jardim vai ligar a “grande diversidade” de pessoas e de vegetação do mundo, com a escolha de espécies de vários continentes, permitindo aos utilizadores do espaço recordarem memórias através da vegetação.

“O mundo inteiro cabe aqui”, reforçou a mesma arquitecta, revelando que se prevê a criação de uma cisterna para reaproveitamento de água, o que será feito à custa da supressão de alguns lugares de estacionamento subterrâneos, entre “3% a 4% da capacidade do parque”.

Lusa/DI