Sustentabilidade na Construção: Uma tendência incontornável
O ambiente construído, só na União Europeia, é responsável por 40% dos consumos energéticos e por 36% das emissões totais de gases de efeito de estufa.
Somente em Portugal existem 3 milhões de casas de primeira habitação e 30% das famílias (valor muito superior à média europeia) em situação de pobreza energética, ou seja, com dificuldades em conseguir conforto térmico, sendo apenas ultrapassado, na Europa, por países como a Lituânia, Bulgária e Chipre.
O parque imobiliário nacional tem assim um imenso potencial para o combate às alterações climáticas, através da redução dos consumos e emissões, enquanto se aumentam os padrões de segurança e conforto dos seus utilizadores. Deste modo, aumentando o seu desempenho energético e ambiental, as edificações podem favorecer significativamente o cumprimento de metas como a neutralidade carbónica até 2050, ao abrigo da estratégia do “World Green Building Council”, que por sua vez contribui para o “Acordo de Paris”.
Neste sentido, existem atualmente instrumentos facilitadores da eficiência energética e descarbonização, com medidas aplicáveis a edifícios novos e existentes, ao nível europeu, como o “Pacote de Energia Limpa”, e ao nível nacional, como o “Roteiro para a Neutralidade Carbónica (RNC)”, o “Plano Nacional Energia e Clima (PNEC)” e a “Estratégia de Longo Prazo para a Renovação de Edifícios (ELPRE)”.
Contudo, é reconhecido que as medidas têm sido insuficientes e ineficazes, carecendo de uma política fiscal mais adequada, que beneficie a aplicação de materiais e tecnologias mais sustentáveis, e de uma maior consciencialização e sensibilização ambiental das pessoas e empresas, através de mais campanhas e políticas de proximidade. É também necessário assegurar mais incentivos financeiros para a promoção da eficiência energética dos edifícios, muito além de casos como o programa “Edifícios mais Sustentáveis”, tirando partido de verbas previstas para este âmbito, por exemplo, no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que superam os 600 milhões de euros. Por efeito, a economia nacional também beneficiaria destas ações, que estimulariam a atividade de um setor determinante para o PIB, principalmente por via das PMEs, pela sua importância no tecido empresarial e na geração de emprego.
Uma tendência crescente, justificada não só pelo impacto ambiental positivo, mas também pelo retorno financeiro, tem sido as certificações internacionais de sustentabilidade para edifícios, destacando-se o segmento de escritórios, tais como BREEAM, LEED e WELL. Apesar do investimento adicional, que tendencialmente não ultrapassa 5% do total, mostra-se que este acréscimo é facilmente ultrapassado no futuro com custos operacionais mais reduzidos, rendas superiores, menores tempos de comercialização e taxas de disponibilidade mais baixas, ao permitir espaços energeticamente mais eficientes e confortáveis para os seus utilizadores.
Muito além da certificação, a sustentabilidade deve ser uma prioridade, marcando presença em cada fase do ciclo de vida dos ativos construídos, com as entidades ligadas à operação e manutenção assumindo um papel preponderante, e, sobretudo, nas empresas do setor da construção e imobiliário, que devem promover as melhores práticas ao nível dos empreendimentos bem como das próprias organizações, de forma integrada, nas dimensões ambiental, social e económica.
O caminho para um futuro mais verde e resiliente está na ordem do dia, com os padrões de sustentabilidade a assumirem-se cada vez mais como requisitos incontornáveis para a gestão dos empreendimentos e das organizações, aumentando assim os custos de oportunidade de não investir em construção sustentável, que poderão abranger desde a depreciação do valor dos ativos e empresas a penalizações devidas a emissões de carbono excessivas.
Posto isto, estarão os stakeholders da cadeia de valor da construção e imobiliário preparados e recetivos para desempenhar o seu papel neste percurso longo e desafiante para a transição climática, beneficiando estratégias de longo prazo em detrimento de interesses de curto prazo?
Bruno de Carvalho Matos
Engenheiro Civil Sénior MRICS PMP MSc e MBA pela Católica | Nova
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico