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Quanto maior o obstáculo maior a satisfação em vencer

23 de dezembro de 2020

Com quase quatro décadas de exercício da atividade de mediação imobiliária passei várias crises, financeiras, sociais e políticas, mas nenhuma que provocasse tanta incerteza como a atual.

O ano começou com os ventos quentes de um mercado pujante, fluidez de negócios, de oferta e de procura q.b., para manter os negócios em níveis positivos e a valorização dos ativos em alta.

Perante a realidade Covid-19, alguns ‘velhos do Restelo’ apressaram-se a ditar a hecatombe para o setor. Contudo, mesmo perante esta nova vaga pandémica, e não obstante a quebra, pelo menos para já está a ser bem menos acentuada que a maioria dos prognósticos iniciais.

O motivo desta resiliência, nos negócios e nos preços, ainda não é bem evidente, mas prova já que o nosso mercado imobiliário está a demonstrar solidez e maturidade, e pode ser um motivo de esperança no futuro, já que uma quebra, arrastaria inexoravelmente o resto da economia.

Significa isto que passaremos entre os pingos da chuva, e passado este período, com o advento da vacina, estaremos próximos dos ‘amanhãs que cantam’? Não, também não acredito nisso, e mesmo sendo otimista, não posso imaginar tal cenário, até porque quando terminarem as moratórias ainda em vigor, cairemos numa nova e triste realidade onde algumas empresas não serão capazes de sobreviver, e com elas todo o tecido económico e social que suportam, provocando ondas de choque de dimensão e magnitude ainda difíceis de antever.

Mas será isso o ‘fim do mundo’ imobiliário, tal como o conhecemos? Também não, e a minha experiência nestas décadas dedicadas à atividade imobiliária, fornecem-me a garantia bastante.

Por mais penosas que tivessem sido as crises que atravessei, especialmente a de 2008 com milhares de casas retomadas pelos bancos, o certo é que quer o mercado financeiro, quer as famílias, se adaptaram e reorganizaram de forma a, pelo menos, não repetirem erros do passado.

É certo que nem todos, e certamente isso será evidente nos próximos tempos com alguns incumprimentos, no entanto, não tenho dúvida que em muito menor escala que no passado, e sobretudo devido à pandemia e não por falta de cálculo, quer a emprestar, que a pedir emprestado, num sinal inequívoco de que os erros servem para aprender, e não repetir.

Será assim também com esta crise, absolutamente inesperada, e que ninguém previa. Para a ultrapassar será fundamental que todos, mas mesmo todos, procuremos o rumo certo. Para a esmagadora maioria será dando continuidade ao que sempre fez, mas muitos outros precisarão de procurar alternativas de emprego, de negócio e de futuro.

No passado, boa parte das oportunidades surgiu em épocas de crise, quando os seus mentores viram o ‘furo’ de, por exemplo vender lenços, quando todos choram, como nos lembra esta célebre metáfora.

Temos de ser realistas: Teremos um 2021 difícil, com certeza que sim, mas se nos pusermos apenas a carpir mágoas, será bem pior, pelo que é importante começarmos já a pensar no que cada um de nós pode fazer para contornar as suas próprias dificuldades, e uma vez definido o plano e o objetivo, metermos os pés ao caminho com firmeza bastante, sabendo que por muito difícil que esteja a ser, seria bem pior se mantivéssemos a inação. A soma de todos estes esforços individuais, bem aplicados, dará um resultado mais positivo e no fim todos lucraremos com isso.

Este tipo de atitude e pensamento proativo será também decisivo no mercado imobiliário. Se, neste momento, se continuam a fechar negócios, apesar de tudo o que já se disse e previu nesta matéria, basta extrapolar isto no tempo e concluir que daqui a um ano cá estaremos, mas com estrada feita e a satisfação de termos vencido mais esta provação que nos surgiu no caminho.

Como tristezas não pagam dívidas, pessoalmente acredito na superação, e sobretudo no pensamento positivo como primeiro ato para vencer obstáculos, tal como costumo pensar comigo mesmo: quanto maior o obstáculo maior a satisfação em vencer.

Um Santo e Feliz Natal e Próspero Ano Novo para todos.

Francisco Bacelar

Presidente da ASMIP - Associação dos Mediadores do Imobiliário de Portugal.

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico