CONSTRUÍMOS
NOTÍCIA
Opinião

 

Os saldos

22 de julho de 2020

Vamos ser concretos: todos nós gostamos de saldos, certo? Chamemos-lhes pelo seu nome ou pelo dos seus primos: pechinchas, oportunidades, achados, promoções, descontos. Vivemos para isso, na nossa vida privada ou no nosso dia-a-dia. E também o procuramos para os nossos clientes, que adoram que alguém lhe apresente uma oportunidade única.

O problema dos saldos, no imobiliário, é o mesmo problema que temos quando vamos à procura de oportunidades para a nossa vida. Desde a compra daquela camisola que estava a um preço óptimo ao carro que era conduzido pela senhora idosa aos domingos para ir à missa, cedo descobrimos que o barato sai caro. A camisola ao fim de três lavagens está puída e cheia de borbotos e o carro da avozinha era afinal o Seat Ibiza quitado que fazia street racing na ponte Vasco da Gama.

Dito isto, convém esclarecer que nada me move contra a busca de achados (ou de camisolas com borbotos ou donos de Ibizas, for the sake of argument). A oportunidade bate-nos às vezes à porta e seríamos tolos não a aproveitarmos. O que acho, sinceramente, é que a promoção ideal que todos buscamos está ao quase nível do unicórnio ou do pote de ouro no fim arco-íris: não existe.

E o que é que isso tem que ver com a questão do imobiliário? Tem, quando para agradar um cliente comprador vamos atrás dos pedidos dele, por mais mirabolantes que estes sejam. Tudo certo e legítimo quando este pedido se enquadra na lógica normal do mercado. Tudo errado quando andamos à procura do tal unicórnio.

Querem alguns? T3 na linha de Sintra por 50 mil euros, prédio para restaurar no centro de Lisboa por 100 mil euros ou terreno na primeira linha da água em Cascais por 150 mil euros. (Os exemplos são, obviamente, exagerados e fictícios, mas se tiverem algo assim entre mãos mandem-me, por favor, um email para francisco.m.ferreira@parcialfinance.com).

Tudo isto se agrava quando o nosso cliente é estrangeiro e chega a Portugal a achar que pode encontrar pechinchas como estas para “investir” porque tem dinheiro no bolso e nós, que adoramos ser prestáveis para quem não fala a nossa língua (e quantas vezes ignoramos os “nossos” por causa disso mesmo?), multiplicamo-nos por sete para encontrar estes achados que, obviamente não existem. No fim, perdemos tempo, chateamos meio mundo (entre colegas, conhecidos e outros tantos) para não conseguirmos cumprir com o que o cliente pretende.

Moral da história? Seja cliente nacional ou estrangeiro, não tenham medo ou vergonha de lhe dizer que o que este especificamente procura não existe, mas que poderão apresentar algo que seja aproximado disso mesmo. Todos ganham e todos ficam felizes. E se o suposto cliente for embora porque não cumprimos com o que era pretendido, não há que ter mágoas: ele nunca foi nosso cliente e só nos estava a fazer perder tempo.

Francisco Mota Ferreira

Consultor Parcial Finance