O valor seguro da emigração portuguesa
Será que é precisa uma pandemia para se perceber a importância dos emigrantes portugueses além-fronteiras?
Esta pandemia tem vindo a causar diversos estragos na economia mundial, europeia, e, como não poderia deixar de ser, na portuguesa.
No início tudo parecia estar bem e todos estavam convencidos que iam aguentar o que o futuro parecia reservar. Porém, no fim de Abril, tudo começou a mudar: todas as economias, e, no nosso caso, as europeias, perceberam que tinham que começar a ganhar músculo. Que tinham que começar a mexer. Que a economia não podia continuar parada.
Em Portugal, por ser um país muito dependente do turismo e da imensa comunidade emigrante que vive além-fronteiras, foram dois temas que começaram logo no início de Maio a serem muito badalados e assunto de fortes e acesas conversas. Tanto a nível interno e, como não podia deixar de ser, como a nível internacional. E para os mais distraídos, bastará talvez, apenas lembrar o exemplo da Grécia que, de forma quase abrupta, abriu o acesso às suas praias para salvar o que restava da economia e (tentar) recuperar o turismo.
Neste cantinho à beira-mar plantado também compreendemos que o acesso às praias tinha que ser reposto. Não apenas para bem da economia nacional, mas também como algo essencial para todos mantermos a nossa sanidade mental após estas longas semanas de confinamento.
Ao mesmo tempo, percebemos também que, sem a visita dos emigrantes portugueses no verão, as tradicionais receitas de uma grande fatia da economia portuguesa – que, globalmente, começam no turismo, mas que atingem todos os segmentos económicos, começando nos cafés, e terminando nos simples cabeleireiros - seriam fortemente afetadas.
E, de repente, virámo-nos para os nossos concidadãos que vivem no estrangeiro e percebemos que, sem eles, perdemos uma importante fatia de receitas, numa altura em que todos os cêntimos contam. Em face do que ouvimos, lemos e vemos, impõe-se, por isso, perguntar: Lembrámo-nos dos emigrantes apenas agora e apenas por interesse?
Porque, se a memória não me falha, não nos lembrámos deles quando cessaram os benefícios na aquisição de imóveis com recurso ao sistema da poupança emigrante. Ou quando o Estado decidiu aplicar aos emigrantes uma tributação sobre 100% das mais-valias imobiliárias apuradas e não de apenas sobre 50% como acontece com os residentes.
Porque motivo só se olha para os emigrantes como "tábua de salvação nacional" quando interessa ao País?
Será que ainda ninguém percebeu o potencial que sempre existiu e que continua a existir na emigração portuguesa em termos de remessas e de investimentos imobiliários?
A emigração portuguesa tem e sempre teve uma enorme capacidade aforradora, e sempre teve a apetência por investir no imobiliário na sua pátria.
Se fossem melhor tratados a nível fiscal e se fossem mais acarinhados pelas políticas governamentais, garantidamente as remessas que, por si só, já têm uma expressão muito importante na economia portuguesa, teriam uma expressão muito maior.
Por último, acredito que o mercado imobiliário ganharia ainda mais, não só pelo volume ainda maior de investimento imobiliário, mas também porque, quando investe em imobiliário, a emigração portuguesa prefere colocar estes imóveis no mercado de arrendamento de longa duração, o que ajudaria certamente a equilibrar a disparidades absurda que se vive neste sector.
Vale a pena pensar nisto!
Ana Fonseca
Directora Geral, Parcial Finance Portugal
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico