O racional e o emocional na compra de uma casa
Costuma-se dizer que não há (ou não deveria haver) decisão mais racional e ponderada do que a compra da nossa casa. No final de contas, se não formos ricos e tivermos de recorrer à Banca para concretizarmos o nosso sonho, temos, seguramente, por garantia várias dezenas de anos de pesadelo, amarrados a uma prestação mensal, juros e toda a panóplia de condições por parte de quem tem a posição dominante nesta relação.
E mesmo com todos os prós e contras que nos levam a adquirir habitação própria e permanente, há factores que cada vez mais a realidade dos factos tende a baralhar as contas. Com o COVID e o confinamento, assistiu-se, progressivamente, ao movimento migratório das cidades para o campo. Casas maiores, mais amplas, com varandas terraço e espaço exterior, suplantam hoje qualquer opção por condomínio fechado. O factor segurança continua a ser tido em linha de conta, é certo, mas hoje em dia esta segurança traduz-se na liberdade de ter espaço onde o vírus tenha mais dificuldade em chegar e não, propriamente, o amigo do alheio, que passou a ser um risco, diria eu, suportável em face do cenário de um dia voltarmos todos a ter de regressar a um novo confinamento.
E se, racional e emocionalmente, as pessoas acabam por encontrar a solução possível, não deixa de ser curioso que há, presentemente, variáveis a ter em conta que nunca pensaríamos serem possíveis há uns anos atrás.
Naturalmente que, mesmo quem fez o movimento migratório para o campo, não deixou de estar ou querer as mesmas condições que tinha na cidade. Facilidade de acesso a bens essenciais, boas estradas, transportes e serviços. E espaço. Muito espaço. A este propósito, não deixa, aliás, de ser curioso, que o Governo, pela voz do ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, tenha recentemente referido que não basta tratar da electrificação da linha ferroviária (previsto no Plano Ferroviário Nacional), mas é igualmente necessário assegurar que a internet (e, já agora, o 5G) chega, rapidamente e em força, não só às grandes cidades, mas também ao interior. Porque a mobilidade, o teletrabalho e a realidade dos tempos que vivemos nos tornaram a (quase) todos capazes de cumprir as nossas obrigações, estando a 3 ou a 300 quilómetros do nosso escritório.
Por isso, quando estamos a ajudar um cliente na sua decisão de comprar um imóvel temos de ter em linha de conta todos estes novos racionais e todos estes novos emocionais. Porque já não basta oferecer a melhor relação qualidade/preço, os acabamentos mais fantásticos, a melhor vista, mas ir ao encontro do que os novos tempos assim o exigem. No resto, já se sabe, com todas as vicissitudes, o imobiliário saberá, como sempre, dar resposta aos desafios dos tempos que vivemos e das exigências dos clientes que nos procuram.
Francisco Mota Ferreira
Consultor imobiliário