O investimento em Data Centers: Portugal não passa ao lado!
Começo com uma verdade repetida tantas vezes no último ano e meio: a pandemia causou uma grande disrupção nas nossas vidas! Basta relembrar apenas duas questões mais evidentes que passaram a marcar o nosso dia-a-dia: a massificação do teletrabalho, em que as reuniões virtuais e o trabalho online e em rede passaram a ser a regra; e o crescimento em flecha do e-commerce, que ganhou uma maior importância devido à impossibilidade de nos deslocarmos às lojas nos períodos de confinamento. Relembro estas duas, em especial, porque estão suportadas na tecnologia e na internet, sendo óbvio para todos que o consumo de dados aumentou consideravelmente desde o início da pandemia.
Mas como entra o investimento imobiliário neste cenário? Fundamentais para toda a infraestrutura que suporta esta rede são os Data Centers. De forma simples, os Data Centers são edifícios preparados para alojar todo o equipamento necessário às atividades de processamento, armazenamento e transmissão de dados. Apesar de os Data Centers serem estruturas dificilmente identificáveis devido às suas localizações e edifícios que passam despercebidos, praticamente todos nós usamos funções que estas infraestruturas possibilitam (como sejam uma transferência bancária na app do nosso banco ou uma videochamada, por exemplo). Os Data Centers têm, assim, um papel fundamental nesta onda da digitalização e estão a emergir como uma classe de ativos imobiliários cada vez mais procurada por investidores.
A JLL lançou recentemente um estudo a nível global – o H1 2021 Data Center Outlook – que confirma isso mesmo, realçando o crescente apetite dos investidores em todo o mundo por este tipo de ativos na sequência de um crescimento da procura de espaços para instalar Data Centers, bem como da existência de um vasto pipeline de construção a nível global. Mais detalhadamente, este relatório destaca três grandes tendências no âmbito da dinâmica ocupacional dos Data Centers: crescimento da procura ao nível corporativo, com as empresas a pretenderam mais capacidade para adaptarem os seus negócios aos novos modelos de trabalho; a sustentabilidade; e o aumento na atividade em fusões e aquisições (M&A) e investimento no setor, particularmente na Europa e Ásia Pacífico. Do lado de quem gera oferta (sejam promotores/investidores ou os próprios ocupantes/operadores), é interessante ver como a preocupação com a sustentabilidade, tão discutida nos dias de hoje, está bem patente nesta nova vaga de procura e investimento em Data Centers, o que leva à criação de novos projetos e soluções operacionais inovadoras. Face ao grande consumo energético, há hoje em dia, por exemplo, preocupação em garantir que o fornecimento de energia é originado em fontes renováveis.
E como é que Portugal se posiciona na corrida para captar investimento neste “novo” tipo de imobiliário? O nosso país está muito bem colocado para beneficiar deste movimento e também aqui esta tendência não nos está a passar ao lado. Com o crescimento acelerado nos habituais mercados europeus para Data Centers (os designados FLAP – Frankfurt, Londres, Amesterdão e Paris), os promotores e investidores imobiliários, bem como os operadores de Data Centers, começam a centrar a sua atenção em mercados como o português. A Portugal, em particular, chegam vários cabos submarinos de dados, que ligam a África e ao continente Americano. A Sines, por exemplo, chega o recentemente inaugurado cabo de transmissão de dados EllaLink, que liga a Fortaleza, no Brasil. E é precisamente para Sines que ainda há poucos meses foi anunciado um grande investimento para a criação de até cinco Data Centers, num total de 450 MW, o que promete mudar o paradigma no país.
Ou seja, o futuro também já cá chegou. O mercado de Data Centers está a verificar um grande crescimento a nível global e este é um mercado com grande potencial também para Portugal, que tem atraído a atenção de novos investidores e operadores.
João Pedra Soares
Senior Consultant de Development e Capital Markets na JLL
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico