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Opinião

 

O Setor Imobiliário e o Futuro

2 de abril de 2020

Vivemos um período da nossa história sem precedentes. Aos sinais de crise iminente, associa-se o desconhecido, aquilo para o que ninguém tem respostas.

Michael Levitt, bioquímico de Stanford e Prémio Nobel da Química em 2013, contraria o que muitos cientistas e epidemiologistas têm afirmado. Levitt acredita que o cenário global da pandemia COVID-19 não será tão desastroso como o já vivido em países como Itália e Espanha, em particular em áreas onde forem respeitadas as medidas de distanciamento social.

O que é certo é que o impacto na economia global parece desenhar-se desastroso. Cada dia que passa há sinais de abrandamento da economia e até situações de pré-colapso de alguns setores, em particular o do turismo. 

Portugal não será exceção.

No setor imobiliário, devemos ter presente que foi o turismo e a extraordinária ferramenta do golden visa que repuseram o país no centro das atenções, como lhe é devido.

No turismo, a situação é já dramática, com unidades encerradas, trabalhadores em lay-off, devendo-se suceder uma onda de despedimentos em massa. A recuperação acontecerá, mas timidamente, dependente ainda de uma indústria da aviação que sairá depauperada deste processo. Relativamente ao golden visa, a ímpia machadada de quem “não gosta” do instituto já foi proferida pelo governo, ao pretender excluir a sua aplicação aos territórios da grande Lisboa e do grande Porto. Como se a coesão territorial se pudesse fazer à conta de políticas públicas que usem o dinheiro, a sensibilidade e a vontade dos particulares e dos investidores. Os resultados estão já à vista, com uma quebra significativa de processos. Trata-se de mais um contributo na estratégia de empobrecimento do País, que nos é ofertada pelo poder público. Espera-se, agora, que não se faça nada. Que se deixe estar como está. A ver se melhora.

Assim, os próximos tempos serão de crise profunda e de recuperação, que vai acontecer, embora lenta.

Assistimos, nos últimos dias, ao desfilar de um rol de opiniões de “treinadores de bancada” a afirmar que a bolha rebentou. Apesar do que fica dito acima, vai agradar provar que nem havia bolha, nem nada rebentará. A indústria do imobiliário, agora mais forte, mais profissionalizada que nunca e com um património humano de primeira linha, já se levantou de situação piores, mais adversas e que a arrasaram quase por completo, como na recente crise do subprime.  

O que sucederá nos próximos tempos, será antes uma correção imediata dos preços de produtos usados. Positiva. Sabemos bem que, longe de qualquer bolha, se encontravam sobrevalorizados pela inexistência de oferta de produto novo e pela inexistência de um mercado de arrendamento. Este último, tem vindo a ser aniquilado por uma incontinente produção legislativa, que destruiu a confiança em quem nele podia apostar.

A par desta suavização nos preços dos usados, acontecerá uma forte correção, necessária, de práticas especulativas de alguns proprietários de terrenos para construção e de edifícios para reabilitar. Aqui, acredita-se, que será mais violenta.

Quanto ao mercado de produtos novos, não parece que venha a sofrer grandes alterações, à parte de um período difícil pelo qual passará, mas com excelentes condições de superação.

Responsavelmente, especulações, a esta data, sobre a perda de importância do setor dos escritórios, face ao teletrabalho, do retalho e a explosão dos preços na logística decorrente do e-commerce, são meras conjeturas, que apenas o tempo permitirá compreender.

Pedro Vicente

Administrador, Habitat Invest

* Texto escrito com o novo acordo ortográfico