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Opinião

 

Ir por trás

17 de maio de 2021

Uma das coisas que mais nos devia envergonhar enquanto profissionais ligados ao imobiliário deveria ser a quantidade de gente sem princípios e sem escrúpulos que pululam nesta profissão. Infelizmente, como também sabemos, tal também acontece porque o sector consegue ser abrangente e lato o suficiente para receber todo o tipo de pessoas. E, neste leque de falta de critério e de escolha, acabam sempre por aparecer maus profissionais que conseguem ainda cravar mais um prego na credibilidade (ou falta dela) que o sector tem.

Confesso-vos que, neste momento, até dou de barato que talvez nem sequer precisemos de ser ultrarrigorosos em relação a quem trabalha o sector e como aqui chegam. Sei que há inúmeros negócios (os melhores) que se passam à mesa dos restaurantes mais fashion ou nas paredes fechadas de um qualquer escritório de advogados. Perdoem-me os mais fundamentalistas, mas estes são outros campeonatos que não colidem em nada com quem aposta na venda do mercado residencial puro e duro e quer apenas vender o T2 de 200 mil euros que tem em carteira.

Por outro lado, e pelo que me fui apercebendo, quem normalmente está sempre preocupado com invasões de advogados, hordas de espertalhões ou qualquer outra opção que, aos seus olhos, é menos clara, porque não existe uma licença AMI são, infelizmente e por norma, os primeiros a não respeitarem dentro de portas o que defendem para fora. Têm loja aberta, escritório com licença AMI e tudo o mais. Mas, se for preciso, enganam os consultores, não lhes pagam as comissões devidas e são os que tentam sempre fazer as coisas por debaixo do pano, num fenómeno típico de “faz o que eu digo, mas não faças o que eu faço”.

Sejam nos negócios de milhares ou nos negócios de milhões, seja com licença AMI ou apenas com acordo de cavalheiros há, não obstante, algo que qualquer um de nós não pode tolerar ou ser complacente: com os cowboys do imobiliário, os chico-espertos que se acham mais inteligentes que todos os outros.

Há, ao que parece, uma modalidade muito em voga hoje em dia, que é a de se fazer passar por cliente perante um colega para visitar o imóvel em causa. Há até quem se dê inclusivamente ao trabalho de ir já com o cliente para depois ir por trás e ultrapassar o colega, tentando angariar este imóvel para si, ficando com a comissão por inteiro e não a partilhando (e esquecendo-se que uma das melhores coisas que pode acontecer nestes negócios é a partilha). Isto, pardon my french, mas é de uma enorme filha da frutice. Felizmente, nalguns casos, o proprietário do imóvel avisa quem de direito ou recusa liminarmente esta situação porque já tem um contrato assinado e decide honrá-lo.

Mas infelizmente, como também sabemos, a falta de escrúpulos não é um exclusivo dos consultores. E acredito que haverá, certamente, casos em que o proprietário acede a estes avanços, porque o que lhe interessa é vender o seu imóvel no mais curto espaço de tempo, acabando por denunciar o contrato com quem teve inicialmente para abraçar este suposto caminho mais fácil.

Pelo que me contaram também, o IMPIC tem recebido algumas destas denúncias e até, ao que sei, actua em conformidade, autuando os prevaricadores em coimas que podem ir às largas centenas de euros. Mas, convenhamos, tudo isto é de um fraco consolo, quando, em retorno, os prevaricadores podem receber milhares pela coboiada feita à conta do esforço de terceiros.

Francisco Mota Ferreira

Consultor imobiliário