Habitação é o voto para quem quer ganhar uma autarquia
Estamos a dois dias da realização das eleições autárquicas e são ‘queimados’ os últimos cartuchos por todos os candidatos às várias câmaras municipais de todo o país. Desde o primeiro dia de campanha, o lema praticamente de todos os que se candidatam, é a habitação.
Para os jornalistas é difícil acompanhar todos os programas eleitorais propostos, porém, a ‘bandeira’ tem sido a promessa da melhoria das condições na habitação. A Lusa tem feito esse trabalho nas últimas semanas e diariamente somos bombardeados com notícias das promessas dos pretendentes a um lugar nas autarquias onde concorrem.
Não é novidade que nestas eleições, ou em qualquer outra do passado, o imobiliário sempre ajudou a conquistar uma câmara municipal. Os presidentes e as respectivas equipas trabalham para mostrar obra feita e para dar às populações a oportunidade de reconhecerem os projectos concretizados, deixando até as inaugurações para perto da data das eleições, de forma a que os cidadãos não esqueçam dos feitos alcançados e saibam onde o dinheiro foi aplicado. Grandes obras se fizeram por este país fora, aproveitando os fundos europeus, muitas delas até sem grande utilidade e algumas já ao abandono mas que serviram de ‘bandeira’, para mostrar trabalho feito e também para aproveitarem uns fundos ‘fáceis’.
Não considerem uma crítica, pelo contrário, graças a muitas destas obras foi possível assistir a um grande desenvolvimento do interior. No entanto, não é novidade que estes fundos foram úteis para muitos, de várias formas.
Voltando ao tema da habitação e para quem acompanha este sector há tantos anos, já não é com surpresa que se assiste às promessas feitas para melhorar e resolver os problemas da habitabilidade, da gestão urbanística, das acessibilidades, etc. Mas como diz o José Pedro Vasconcelos, ‘Depois, vai-se a ver e nada’. Talvez as grandes obras se concretizem mas os verdadeiros problemas que envolvem a habitação continuam e cada vez mais acentuados, sobretudo para os portugueses.
Em nenhum Governo este foi um tema prioritário. A prova é que só agora se criou uma política de habitação, com o programa ‘Nova Geração de Políticas de Habitação’. Já veio tarde, com todas as dificuldades para se impor e ainda sem se perceber se vem mesmo colmatar as lacunas existentes no mercado imobiliário e da habitação.
Com todas as incertezas e dúvidas sobre a evolução e futuro da habitação, sobretudo, porque é um sector com vários segmentos, várias necessidades, muitos problemas e acima de tudo, muitos interesses. Promessas de habitação social, de rendas reduzidas, diminuição do IMI, são algumas das metas eleitorais de todos os partidos com candidatos às autárquicas.
Quem mais lucra, quem mais ganha com tudo isto, não só financeiramente, sabemos que são poucos e sempre os mesmos. Se para os candidatos a um lugar na câmara, a habitação é um assunto que lhe dá mais votos e não só, ninguém tem dúvidas. Agora quem fica quase sempre a perder, é a maioria dos portugueses que acreditando ou não nas promessas feitas, dificilmente vão ver os seus problemas de habitação resolvidos.
Fernanda Pedro
Directora do Diário Imobiliário