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Opinião

 

Da preguiça

20 de setembro de 2021

Ao que parece, há agora por aí uma modalidade, que começa a ter adeptos entre alguns consultores imobiliários, que passa por partilhar activos que não estão angariados pelo próprio. Para que não exista confusão em relação ao que estou aqui a dizer, não estou a falar do nosso parceiro, que tem o activo em causa e nos pede ajuda. Porque acha que, entre a nossa base de dados, pode estar um potencial cliente. Ou porque considera que o podemos ajudar nessa busca porque, por exemplo, trabalhamos numa marca com maior dimensão do que a sua.

Esta opção que vos descrevi em cima enquadra-se no que normalmente se considera como uma partilha normal entre consultores e é algo que, diria eu, é comum. E cada vez mais essencial e desejável na busca das melhores soluções para satisfazermos os nossos clientes. Porém, o que eu quero aqui partilhar convosco é uma modalidade que, por uma questão de facilitação, vou apelidar apenas de preguiça.

E o que é a preguiça no imobiliário? Ou quando é que sabemos que estamos perante um negócio de preguiça? Quando, por exemplo, recebemos um telefonema ou uma mensagem de alguém – que, por norma, não é das nossas relações de confiança, mas chegou até nós através de terceiros – e que nos propõe o seguinte: uma partilha de negócio de um activo, que esta pessoa sabe que está no mercado, angariado por outra agência que não a do consultor que está a falar connosco.

Este activo é pintado como algo bastante atractivo, que não foi ainda vendido pela outra agência ou o outro consultor por incúria, desleixo ou má vontade (ou outro qualquer argumento que possa estar mais à mão). Depois, por norma, passam-nos a mão pelo ego, dizendo que sabem que somos uma barra e que temos imensos contactos que podem ser um fit e daí a conversa connosco. E, quando perguntamos se o imóvel está angariado por ele, a surpresa acontece: não está, mas apenas porque não tem comprador. Ou porque não quer. Porque, a partir do momento em que este comprador exista, o consultor dispõe-se a ir angariar o imóvel para, helás, partilharmos a comissão.

Como nestas coisas, há a óbvia desconfiança do consultor – porque não nos conhece e apenas chegou aqui por uma lógica, vamos ser simpáticos, interesseira - a descrição do imóvel é apenas uma frase, mandada por WhatsApp ou mail, a dizer a tipologia, a área, a zona, o preço pedido e pouco mais.

Esta informação segue, por norma, sem fotos nem links. Não vamos nós ser como ele e ir atrás do imóvel que nos foi “apresentado” e fazer o trabalho que o “consultor” deveria ter feito em primeiro lugar:  que era, naturalmente, angariar o imóvel. E, não tendo cliente no imediato, procurar, entre colegas, partilhas de quem pudesse suprir esta necessidade.

Agora, não angariar o activo, partilhar uma informação que roça o miserável e achar que está a ser um porreiro, porque até divide a comissão connosco de um activo (que não tem), para mim isso só pode ser tontice ou preguiça. Prefiro acreditar que será apenas preguiça.

Francisco Mota Ferreira

Consultor imobiliário