Fuga para a periferia: oportunidades da tendência para a Construção
Certas tendências foram aceleradas com a pandemia. Depois de vários meses de adaptação (e reinvenção), as alterações nas exigências dos consumidores estão-se a fazer sentir e, agora, o Imobiliário e a Construção, tal como grande parte dos setores, estão a enfrentar um paradigma diferente. Hoje, observamos uma movimentação das pessoas dos grandes centros urbanos para a periferia, o que faz surgir alguns impactos na fileira sobre os quais vale a pena pensar.
O período de confinamento iniciou, para muitos, uma nova forma de trabalhar. O remoto passou a ser palavra de ordem em várias casas e aspetos específicos das habitações - ou a falta deles - ganharam muito destaque. Desde a necessidade de ter um local próprio para teletrabalhar, até à vantagem de uma varanda ou pátio exterior, foram várias as condições que levaram ao aumento da procura de áreas maiores, fora da cidade e perto de áreas sossegadas e envolvidas pela natureza. Comporta, Sintra e Cascais, que oferecem, em simultâneo, mar e serra, são exemplos de locais bastante atrativos para quem quer investir em imobiliário premium, por toda a sua tranquilidade e segurança. E tudo isto abre a porta ao desenvolvimento da fileira.
Creio que a vontade de ter uma casa confortável, e não apenas adaptada ao quotidiano pré-COVID-19, evidenciou-se nos últimos meses, já que várias famílias usaram a experiência da pandemia para iniciaram a busca por um local mais favorável. As pessoas começaram a valorizar pormenores que, até aqui, nem reconheciam como relevantes e isso está a abrir oportunidades interessantes não só ao mercado da reabilitação, mas também à construção nova.
Além disso, e no seguimento da transformação das necessidades do público, a própria forma de consumo dos bens veio criar uma vantagem interessante para a fileira. Pensemos na vertente dos negócios: o comércio online intensificou-se grandemente e as transformações no retalho não se fizeram esperar. Se, antes, os grandes centros logísticos já se encontravam fora das cidades, por precisarem de instalações espaçosas, agora, existe uma oportunidade de expansão inédita, e os armazéns mais pequenos começam também a sua fuga para a periferia, graças à procura impulsionada pelo e-commerce. As oportunidades de construção e remodelação são infindáveis, já que os consumidores procuram, mais do que nunca, respostas rápidas e cómodas associadas à facilidade da compra.
Porém, convém ter em conta que o poder financeiro dos portugueses não aumentou – muito pelo contrário – e, por isso, não se pode falar numa deslocação total para fora dos centros urbanos. Esta é uma tendência que foi acelerada pelas repercussões originadas pela COVID-19, e que me faz acreditar que o setor poderá crescer com esta nova “onda” de investimentos.
Ao que tudo indica, aquilo que se pode esperar daqui para a frente é a persistência desta evasão, tanto no mercado residencial, como no comercial, bem como um acompanhamento competente da mesma por parte da fileira. Por isso, não será de espantar que a nova “casa portuguesa” esteja, com certeza, adaptada às novas necessidades dos consumidores, com as compras do quotidiano a serem feitas em lojas online, distribuídas a partir de armazéns localizados fora dos centros e recolhidas em pontos “click and collect”.
Nuno Garcia
Director-geral da GesConsult
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico