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Opinião

 

Foi encontrado um oásis no deserto do imobiliário!

22 de janeiro de 2018

O mercado imobiliário tem crescido e está a atingir números só vistos antes da chegada da Troika. Para quem, como eu, já cá anda desde os gloriosos anos 80, as flutuações já são normais. Quando o otimismo se instala, a procura sobe, os negócios também, e as empresas de mediação florescem, tal como as flores expostas ao sol e regadas. Quando se dá o oposto, o processo inverte-se, e muitas das empresas de mediação desaparecem vítimas da falta de negócios, numa atividade onde muito se investe sem certezas de retorno.

De repente aparecem ideias mirabolantes que descobrem a “pólvora seca” e encontram um mediador em cada proprietário / vendedor do seu imóvel. Dizem os arautos da poupança que assim o consumidor poupa “milhares em comissões”!

Falo do que aconteceu em 2017 com o aparecimento de uma empresa, que, investiu “milhões” a criar e publicitar uma estrutura de apoio a quem recorresse aos seus serviços, em detrimento das empresas de mediação imobiliária, e que mesmo publicitando em plataforma própria, e nos principais portais imobiliários cobraria ainda menos que um solicitador!

Apesar disso, aconselhava com dados fiáveis o preço adequado, fazia a reportagem fotográfica, apoiava na parte burocrática, e até marcava as visitas que seriam feitas entre proprietário e comprador. Era uma Startup, financeiramente bem apoiada, com um negócio bem calculado, mas falhou redondamente ao esquecer princípios muito específicos desta atividade, que subvalorizou. Já fechou as portas!

No passado dia 17, o jornalista Pedro Andersson apresentou na SIC uma reportagem sob o título: “Como poupar nas comissões das imobiliárias”, usando os mesmos sound bytes e aconselhando: “Tente sempre vender pelos próprios meios”! Só faltou despejar um copo de água na cabeça, de resto é um filme já visto. Não abalará por demais o nosso trabalho, porque felizmente os clientes nos reconhecem, e cada vez mais recorrem aos mediadores por opção e segurança.

Mas esta convicção, não impede de denunciarmos o vil ataque a que fomos sujeitos com esta reportagem, onde se induz o espetador a ficar convencido que somos descartáveis, inúteis, e usurpadores de milhares de euros por quase nada!

É um rude golpe na actividade que nos últimos anos tem tido uma preocupação crescente de melhorar os seus serviços, investindo materialmente e em formação para acompanhar o mercado e suas exigências, e, de repente, em horário nobre, numa estação de referência, que também vive de anúncios de imobiliária, vê tudo isso desvalorizado, chegando-se ao ponto de aconselhar na peça: “Tente sempre vender pelos próprios meios”, defendendo mais tarde: “Eu, como jornalista, falei de opções…”. Pois, vê-se pelo exemplo!

Mas ainda piora: “Uma das despesas que encarece as casas é a comissão que tem de pagar às agências imobiliárias”! Uma afirmação, falsa que cria uma ideia distorcida e estigmatizante para a actividade. Inadmissível!

À luz desta mentira, o consumidor intuirá que fará sentido evitar-nos. Mas podemos fazer o exercício de acreditar que todos os produtos anunciados na SIC poderiam ser mais baratos, se essas empresas não tivessem que lhes pagar publicidade, que em televisão é muito cara. Seria uma boa ideia, não seria? Que acharia o jornalista que sobre evitar o nosso trabalho afirmou “Eu cheguei à conclusão que sim.” Diria o mesmo?

É velho o ditado sobre a pimenta no rabo de outrem, ser refresco para nós….

Francisco Bacelar

Presidente da ASMIP - Associação dos Mediadores do Imobiliário de Portugal.