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Eternas raves

28 de fevereiro de 2022

Associar a terceira idade à velhice e a uma vida condenada à espera da morte sempre foi algo que me fez uma enorme confusão. E embora esteja ainda longe de me considerar membro de pleno direito da melhor idade, é com gosto que vejo que, aos poucos, há quem arrisque e crie tendência que, espero, faça doutrina. Para que, quando a minha vez chegar, possa também usufruir desta mesma opção.

Falo-vos de Senior Coliving, um conceito que começou a ser implementado em países tão distintos como os EUA, a Dinamarca, Espanha ou até mesmo o Brasil e que começa agora a dar os primeiros passos em Portugal. E em que é que consiste? No fundo, visa rebentar com o paradigma de que as pessoas idosas no final das suas vidas têm como única opção o lar ou as residências sénior de luxo, porque os filhos não podem tomar conta deles ou apenas porque vivem sozinhos.

Numa modalidade de Senior Coliving, vários idosos, que idealmente até podem ser amigos há décadas, abedicam dos modelos de residência sénior tradicioanis e juntam-se para, na mesma moradia (que pode ou não ser de um deles), ter um espaço individual e diversos espaços comunitários. Quando o imóvel tem obras de adaptação profundas, a casa passa a ter pequenas habitações de uso particular (quarto, casa de banho e mini cozinha, por exemplo) ao mesmo tempo que são criadas divisões de usufruto comum, como salas de lazer, refeitório, lavandaria, numa óptica de incentivar o convívio entre os presentes mas, ao mesmo tempo, dar espaço para que estes possam ter os momentos de privacidade que tanto se gosta.

Em igual medida, existe também o Senior Cohousing, que se destingue do Coliving, porque as pessoas vivem em diferentes casas ou apartamentos autónomos, havendo a inclusão de unidades ou áreas comuns que são partilhadas por todos.

A tendência começou a ser mais conhecida em 2019 e já há, naturalmente, estudos que a sustentam. Os modelos de Coliving ou Cohousing aumentam a esperança e a qualidade de vida da população idosa, dão-lhes maior autonomia e permitem o aprofundar de sentimentos de partilha que, com a idade, tendem a ser subvalorizados.

As opções de Coliving ou Cohousing podem (ou não) ser uma solução mais onerosa para quem tomar essa decisão, dependendo se, por exemplo, a estas se associarem cuidados médicos permanentes ou uma gestão do espaço mais profissional. Actualmente, já sabemos que há experiências que juntam jovens universitários e população idosa no mesmo espaço com resultados benéficos para todos. Em relação ao Coliving ou o Cohousing, tenho para mim que pode ser a opção ideal para pessoas idosoas que, estando ainda em perfeitas condições de saúde e autonomia, se juntam com amigos para celebrarem os seus últimos anos como se fossem os primeiros. Quando a minha vez chegar, qualquer que seja a opção que venha a tomar, tenho a certeza que vou adorar o conceito de estar permanentemente em raves. Forever young!

Francisco Mota Ferreira

Trabalha com Fundos de Private Equity e Investidores e escreve semanalmente no Diário Imobiliário sobre o sector. Os seus artigos deram origem ao livro “O Mundo Imobiliário” (Editora Caleidoscópio).