Encruzilhada
As piores estimativas relacionadas com a evolução da pandemia e o seu impacto no sector do turismo estão a confirmar-se. Após alguma recuperação (diminuta) nos meses de Julho e Agosto, os meses de Outubro e Novembro permitem hoje antecipar que uma recuperação mais consistente apenas se iniciará após a distribuição massiva da vacina, o que não acontecerá muito provavelmente antes do final do primeiro trimestre de 2021. Ou seja, mais de 1 ano a operar em época (muito) baixa, consumindo centenas de milhões de euros às unidades hoteleiras e empresários nacionais.
O desafio é assim o de tentar preservar a capacidade instalada até a recuperação se iniciar, o que permitirá manter no médio prazo a competitividade do destino e voltar aos desempenhos dos últimos anos. Para que tal aconteça, entre muitas outras medidas, importa atuar já nas seguintes temáticas:
- Capacidade de alocação de capitias próprios: o consumo de capital nos últimos meses foi muito significativo. Não obstante uma maior capitalização das empresas quando comparamos com a crise económica e financeira de 2008-2012, não será possível colmatar esta situação recorrendo apenas a capitais próprios … mas também não é expectável que apenas estes sejam suficientes (e estejam disponiveis) para fazer face à situação. No entanto, a sua existência é fundamental para trazer a jogo o setor financeiro.
- Comportamento do setor financeiro: é neste momento e na nossa opinião a questão central. Nem todas as empresas, projectos ou regiões são iguais, não podendo este setor ser remetido para uma gaveta denominada PERIGO IMINENTE. As moratórias chegarão necessáriamente ao fim – não pode ser de outra maneira – mas, com a ajuda de capitais próprios, desenvolvimento de business plans onde, não só a linha de receitas mas também a de custos podem ser revisitadas, acreditamos ser possível que a maioria das empresas possam resistir. Estamos a falar de um setor que cresce consecutivamente há mais de 70 anos e cuja trajectória previsivel é positiva.
- O Estado: o turismo contribuiu decisivamente para a recuperação e crescimento económico de Portugal nos últimos anos. O posicinamento do país e a qualidade dos seus empresários não podem ser objeto de abandono durante o período de transição. Não poderá o turismo contribuir para a recuperação se ele próprio não estiver preparado e com capacidade para contribuir; instrumentos que permitam manter os postos de trabalho e as unidades hoteleiras competitivas, coordenados com o setor financeiro e recorrendo ao envelope financeiro de que Portugal vai dispôr parecem caminhos evidentes. Mas céleres e que cheguem rápido às empresas; a alocação de capitais próprios e o recurso a financiamento adicional vai também depender destas medidas.
Existem natualmente outras temáticas da qual depende a evolução do setor, destacando-se a incerteza sobre o comportamento do transporte aéreo a nível global. Importa trabalhar desde já em políticas que permitam manter as ligações áereas a Portugal num contexto de muito menos aviões disponiveis e foco nas rotas mais viáveis por parte dos players mundiais. Todos os destinos pensarão o mesmo, mas a verdade é que dependemos do transporte aéreo mais do que a maioria dos destinos (somos mais periféricos e com um mercado interno muito limitado) pelo que esse investimento será nuclear para os próximos dois ou três anos.
Não serão tempos fáceis, longe disso, mas alguém duvida que em 2025 ou 2030 Portugal pode manter ou reforçar o posicinamento e dinâmica existente no início de 2020?
Eduardo Abreu
Neoturis
* Texto escrito com o novo acordo ortográfico