Com inflação acima dos 7% e taxas de juro inexistentes, ter dinheiro no banco não é opção. E aqui entra o imobiliário
Na passada semana ouvimos o Presidente da República dizer que, na actual e atribulada conjuntura internacional, temos que nos promover como o País que oferece estabilidade. Sem dúvida que são declarações de certa forma oportunistas, especialmente num cenário de guerra e com uma economia que, a recuperar da pandemia, tem que enfrentar um novo impacto brutal no abastecimento e preço dos combustíveis. Mas não deixa de ser verdade.
Efectivamente, nos últimos anos, Portugal tem sido o destino escolhido por muitos estrangeiros que procuram um País seguro, com qualidade de vida e um custo de vida aceitável. E é isso que nós proporcionamos, e bem. Para além de termos uma oferta imobiliária que permite que famílias com diferentes orçamentos e estilos de vida possam encontrar a casa que procuram.
É de prever que este movimento se mantenha nos próximos anos. A consolidação do trabalho remoto tem cada vez mais um impacto significativo na decisão das famílias mudarem para Portugal. O nível de vida que um americano, holandês ou inglês consegue ter em Portugal com um ordenado do seu país de origem, é sem dúvida muito superior ao que teria nesse mesmo país.
Só os nossos políticos parecem não entender os grandes benefícios deste movimento para a economia portuguesa. É que a compra de uma habitação não representa apenas a entrada do valor da mesma. Tem um factor de multiplicação em todos os consumos associados. Os estrangeiros que escolhem Portugal para viver, compram bens e serviços, são responsáveis pela criação de postos de trabalho directos e indirectos. São fundamentais para a nossa economia. Por isso, não se entende como os mais recentes governos têm alterado a legislação para captação de investimento estrangeiro para o imobiliário e aumentado os impostos sobre imóveis residenciais. É um contrassenso.
Também do lado dos compradores nacionais, o mercado imobiliário tem beneficiado da conjuntura económica mundial. Se pensarmos nas alternativas para aplicação de capitais e poupanças, com a Bolsa de valores a caír cerca de 25% nos últimos 6 meses, chegamos à conclusão que só o imobiliário oferece segurança e rentabilidade.
Com inflação acima dos 7% e taxas de juro inexistentes, ter dinheiro no banco não é opção. Imagine ter hoje €500.000,00 de poupanças. Se não fizer nada, daqui a um ano terá menos €35.000,00 em poder de compra. Ou seja, perdeu quase €3.000,00 por mês.
E aqui entra o imobiliário, nomeadamente os novos lançamentos. Se hoje assinar um contrato promessa de compra e venda de um imóvel pelos mesmos €500.000,00, vai dar uma entrada agora e reforços de sínal ao longo da construção. Mais de metade do valor (dependendo dos casos) fica para a entrega do imóvel e assinatura da escritura que pode ocorrer em 2 ou 3 anos. Mas tem uma certeza, aquele valor que contratou será sempre o mesmo, não vai alterar. E o montante que destinou para a aquisição do imóvel não se vai deteriorar com a inflação ao longo destes dois ou três anos. É como se fosse um seguro contra a inflação.
É esta a explicação pela qual tantos portugueses entraram no mercado imobiliário nos últimos anos e se espera que continuem.
Apesar de esta conjuntura estar a beneficiar o lado da procura, quer por nacionais, quer por estrangeiros, há um impacto negativo do lado da oferta. A subida forte dos custos de construção.
Esta subida iniciou-se com a pandemia e agravou-se ainda mais com o cenário de guerra e a subida dos preços dos combustíveis. A escassez de alguns materiais e os atrasos na entrega, têm tido um impacto significativo no preço dos materiais e mão de obra na construção. Esse impacto tem sido gradualmente reflectido no preço dos imóveis em lançamento e construção. E esta é a questão que mais incerteza traz ao mercado. Será que os preços das matérias primas, mão de obra e transportes vão continuar a subir? Como sou um optimista, acho que não. Que chegámos ao ponto mais alto, mas também sabemos que os preços têm muita elasticidade para subir e uma enorme rigidez para descer. Sem dúvida que o mercado dos usados tem beneficiado com esta situação.
Rafael Ascenso
Director Geral da Porta da Frente Christie’s
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico