A pandemia como factor impulsionador dos resorts e condomínios privados de luxo
Ainda que a atual pandemia tenha criado inicialmente algumas incertezas, a verdade é que, ao contrário da recessão em 2008, a procura imobiliária ainda se mantém. O setor imobiliário tem vindo a crescer exponencialmente desde há alguns anos e, mesmo no pico da pandemia em Portugal, o preço de venda das casas em Portugal continental registou uma subida ligeira: de 0,5%, em abril relativamente a março, em que a variação mensal ficou nos 0,4%, segundo o Índice de Preços Residenciais da Confidencial Imobiliário. Valores que refletem uma tendência de estabilidade, em particular no mercado residencial nacional.
Motivos? Vários. Por um lado, falamos de um setor que nos últimos anos tem vindo a dar grandes passos em termos da transformação digital e que já se encontrava preparado para rapidamente fazer a transição, sem grandes esforços, para um modelo de atuação quase 100% digital. Plataformas digitais, visitas virtuais aos imóveis e contacto online com o cliente são apenas alguns dos exemplos de procedimentos que permitiram continuar a fechar negócios, mesmo à distância. Por outro lado, a situação dos proprietários de imóveis é completamente distinta à que se encontravam há 10 anos. Os proprietários não estão endividados ao extremo e continuam interessados em vender, ainda que sem a urgência de baixar os preços dos seus imóveis a qualquer custo. Por parte dos compradores, é certo que se denota alguma precaução na compra de casas, não tanto pela incerteza, mas pela esperança de que os preços dos imóveis possam vir a baixar. Algo que prevemos que não venha a acontecer, considerando o atual equilíbrio entre a oferta e a procura.
Ainda assim, perante um cenário desconhecido a curto / médio prazo, os profissionais do setor admitem que a compra de uma segunda residência possa vir a sofrer alterações, sobretudo comportamentais, e diretamente associadas ao contexto provocado pela crise pandémica. Poderão surgir novos nichos preferenciais no segmento dos compradores com maior poder económico, com propósitos residenciais ou de férias, como é o caso dos resorts e dos condomínios privados de luxo.
Os resorts e dos condomínios privados de luxo vão ser sinónimo, ainda que inconsciente, de segurança, tanto para os proprietários, como para o capital investido.
Do ponto de vista da perceção dos proprietários, os resorts e condomínios têm a característica de ser um espaço delimitado geograficamente, garantindo um certo isolamento social, ao mesmo tempo que asseguram o cumprimento rigoroso dos serviços de proteção e segurança, permitindo assim uma “mobilidade tranquila”. Além disso, proporcionam em regra todas as comodidades e serviços exigidos, dispondo muitas vezes de pacotes completos de atividades de lazer. A maior parte dos resorts e condomínios privados de luxo têm os seus próprios serviços, muito vezes disponibilizados 24h, desde estabelecimentos comerciais, mercados ou serviços médicos. Tudo no mesmo complexo. Espaços como campos de golf, campos de ténis e zonas abertas ao ar livre permitem ao proprietário aproveitar de uma experiência diferente e segura.
Por outro lado, é de salientar que os investidores nestes imóveis costumam ser profissionais e empreendedores de prestígio, o que transforma estes espaços em locais de networking, onde é habitual estabelecer-se redes de contactos, mantendo assim uma conectividade necessária.
Do ponto de vista do capital investido, falamos de imóveis que tendencialmente não se desvalorizam. O investimento numa casa localizada num resort ou condomínio de luxo será quase seguramente uma garantia de que esta não perderá o seu valor, mesmo perante uma nova crise. Em muitos casos, pode mesmo ser uma fonte de rendimento, uma vez que a aquisição destes espaços vem normalmente acompanhada da possibilidade de serem mantidos e alugados pela entidade gestora do complexo urbanístico, como imóvel de férias para terceiros. E acredito que a procura neste sentido será maior a partir de agora, considerando que por segurança, muitos preferirão fazer as suas férias em complexos seguros que ofereçam uma oferta completa de serviços básicos e atividades de lazer.
A pandemia mudou a sociedade, mudou as relações interpessoais e vai mudar, muito provavelmente, o setor imobiliário. A indústria imobiliária poderá continuar numa tendência estável, como temos vindo a assistir até ao momento, mas com novos perfis e requisitos por parte da procura e certamente novas formas de atuação na relação consultor – cliente. É uma nova realidade, a que todas as empresas terão de se adaptar.
Constanza Maya
Head of Operations and Support Engel & Völkers de Portugal, Espanha e Andorra
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico