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2022 – Um ano que seria para consolidação... “not anymore”

15 de março de 2022

No início de cada ano, é habitual responder junto da imprensa com quem costumamos colaborar sobre quais as perspectivas para esse ano. Este ano reli o que tinha escrito para 2020 (tiro ao lado!) e 2021 (ponderado mas pouco arriscado o prognóstico), e pensei que efectivamente não poderia haver mais surpresas uma vez que ainda estávamos no rescaldo da pandemia – essa grande surpresa a que todos nos adaptámos ao longo de dois anos – e achei que  finalmente teríamos um ano de consolidação e adaptação, e assim escrevi para o Jornal Económico: “o mercado imobiliário em 2022 irá ajustar-se a uma nova realidade decorrente desta fase pós-pandemia. Duas variáveis de 2021 vão influenciar decisivamente o mercado: o fim das moratórias e o fim dos golden visa nos grandes centros urbanos e litoral.”

O triste desenvolvimento actual da guerra Russo-Ucraniana, ao qual todos temos assistimos nas últimas duas semanas veio juntar mais variáveis à equação da recuperação económica do sector que vão desequilibrar a balança. Será mais um biénio complicado para o sector da construção que irá ter repercussões para o sector imobiliário.

Ao longo de 2020 e 2021, as estatísticas mostraram o contínuo crescimento do sector imobiliário, tendo sido um dos maiores motores do crescimento económico português. Vemos que os imóveis têm sido vendidos sem grandes interrupções ao longo de 2020/21 e assim continuarão – nada é mais seguro que ter o dinheiro investido num bem imobiliário...desde que bem comprado! Daí a importância de termos que equilibrar os preços da construção e melhorar a celeridade dos processos – muito depende do sector imobiliário hoje em dia.

A preocupação surge do lado do sector da construção e como isso se pode traduzir numa escalada de preços - a situação tem sido muito flutuante nos últimos dois anos - há incertezas relativamente aos preços e a cada novo orçamento que recebemos para obra, um aumento inesperado (ficamos sempre espantados com a diferença de preço de alguns materiais) devido ao aumento constante dos custos de materiais. E o pior é que este aumento não é sempre na mesma área – ou é o aço ou o pvc, o alumínio ou a madeira e por aí em diante - tudo materiais essenciais que têm tido aumentos de custo de produção, transporte e escassez de matéria-prima - o que tem gerado muitas dificuldades nas obras em curso com os preços fornecidos no início da obra a subirem a cada semana que passa. 

Portugal importa da Rússia sobretudo combustíveis, metais e produtos químicos – todos elementos-chave na construção. O aço, plástico, borrachas entre outros são materiais que teremos que importar de países que também vão sofrer com esta nova situação e consequentemente aumentarão os seus preços. Logo, se já havia uma escalada de preços devido à pandemia, essa tendência acentuar-se-á com a actual situação política russo-europeia. E quando no início do ano se poderia prever uma tendência de regularização de preços e estabilização do mercado... voltámos tudo atrás com mais incertezas na balança.

Embora se mantenha a percepção que as pessoas avançam com os investimentos no sector imobiliário, (sentindo-se um interesse contínuo apesar de pandemia e da guerra: os imóveis têm sido vendidos sem grandes interrupções ao longo de 2020/21) os preços tenderão a aumentar na construção com reflexos para o imobiliário – este aumento de preços não será acompanhado de um aumento de poder económico o que pode gerar um abrandamento nas vendas - nada é mais seguro que ter o dinheiro investido num bem imobiliário...desde que bem comprado!

A escassez de mão-de-obra e de materiais tem sido uma das principais preocupações do sector e assim continuará em 2022. Muitas empresas do sector irão passar sérias dificuldades, em mais um ano de incertezas – o terceiro desde que começou a pandemia e tudo ficou de pernas para o ar.

Um apelo que se pode colocar para mitigar esta situação é a melhoria dos processos administrativos - as dificuldades que se colocam são sobretudo ao nível da morosidade e burocracias sempre presentes nos processos de licenciamento, que tornam os investimentos mais difíceis de estimar, uma vez que o prazo de aprovação de um projecto não é facilmente calculado.

Rapidez nas aprovações permite colocar no mercado imóveis atempadamente e gerar uma dinâmica na economia muito necessária. São precisas mais casas no mercado, a preço – para tal é necessário que haja dinâmica nas aprovações e também correcção nos preços dos actuais terrenos e prédios à venda, pois do sector da construção não se poderá esperar uma normalização de preços.

Mariana Morgado Pedroso

Directora Geral Architect Your Home Portugal