Marinha Grande vai valorizar património da Fábrica de Vidros
O património da Fábrica de Vidros da Marinha Grande, no distrito de Leiria, “é dos mais importantes monumentos industriais do país”, defende o investigador Jorge Custódio, que no sábado apresenta um programa de valorização para aquela herança.
Ao longo de 2022, o professor, arqueólogo e historiador, especialista em arqueologia industrial, mergulhou em múltiplos arquivos para estudar o património da antiga fábrica de vidros Guilherme Stephens.
O resultado é apresentado no sábado, juntamente com uma proposta para valorizar um legado que “é único em Portugal - não há mais nenhum, a não ser as ruínas da antiga Real Fábrica de Vidros de Coina, no Barreiro”, e que se projecta internacionalmente pela visão do inglês Guilherme Stephens - refere o investigador.
“Ele conhecia a industrialização que estava a decorrer no seu país e, além do mais, era um leitor de Adam Smith [filósofo e economista]. Sabia o que estava a fazer na Marinha Grande, a ponto de dizer nos seus levantamentos uma coisa espetacular: que estava a criar uma estrutura técnica para as fábricas de vidro que não existia na Europa”.
O estudo revelou “muitas, muitas surpresas”, tendo Jorge Custódio identificado 35 edifícios do antigo complexo industrial.
“Há dois conjuntos fundamentais na fábrica de vidros antiga, que hoje é património municipal: o conjunto sul e o conjunto norte”. A sul, o património era já do domínio público e aberto à cidade, integrando a Casa da Cultura - Teatro Stephens, o Museu do Vidro, a Biblioteca e Arquivo municipais, e a Escola Profissional.
O conjunto norte pertenceu à antiga fábrica JM Glass, de Jorgen Mortensen, e foi adquirido em 2018 pela Câmara Municipal da Marinha Grande.
“Com esse resgate”, salienta o arqueólogo, a autarquia “teve um papel essencial” para a coesão “de tudo o que estava partido a partir de 1992, quando encerrou a Fábrica Escola Irmãos Stephens (FEIS)”.
“Ao reunir todo este conjunto - incluindo o Parque da Cerca - num todo, pelo menos reconstitui a memória histórica que é essencial à identidade e memória da Marinha Grande” e salvaguarda “um autêntico monumento industrial - e talvez dos mais importantes monumentos industriais do país”.
Para o investigador, essa aquisição afigura-se fundamental para a essência do Programa de Valorização do Património Municipal da Fábrica de Vidros que apresentará no sábado.
“A melhor solução para este projecto será um plano geral de arquitectura. Mas tem de ser olhado como um todo e não como mera soma das partes”.
Porque, sublinha, “desde 1994 até 2022 tem havido algumas pequenas alterações que não vão no sentido da salvaguarda e defesa objectiva” daquele património.
Jorge Custódio reserva para sábado outra informação sobre as propostas-programa que preparou e que, entre outras ideias, prevê a valorização do Museu do Vidro.
A investigação abrangeu levantamentos de campo do território fabril e a sua identificação histórica, integrando contributos seleccionados junto da comunidade da Marinha Grande, incluindo a recolha de memórias orais de alguns vidreiros da fábrica.
A Fábrica de Vidros da Marinha Grande remonta a 1747, quando a Real Fábrica de Vidros foi transferida de Coina para a Marinha Grande. Em 1758, produzia “vidro cristalino e vidraça”, mas acabou por fechar em 1767, segundo informação disponibilizada pela autarquia.
Dois anos depois, Guilherme Stephens (1731-1803), a convite do Marquês de Pombal, reabre a unidade. Após a morte de Guilherme, a fábrica ficou a ser administrada pelo irmão, João Diogo Stephens (1748-1826). Com a sua morte, a unidade passou para o Estado.
A FEIS fechou em 1992.
Em Dezembro de 2018, a Câmara da Marinha adquiriu a antiga FEIS, com uma área de 11 mil metros quadrados, passando a fazer parte do acervo municipal juntamente com outro do património Stephens, identificado por Jorge Custódio como conjunto sul.
O município e o investigador apresentam publicamente o Programa de Valorização do Património Municipal da Fábrica de Vidros no sábado, pelas 17:00, na Casa da Cultura - Teatro Stephens, no âmbito da comemoração do 35.º aniversário da elevação a cidade.
Lusa/DI