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Livro “Mais do que Casas” propõe 60 soluções para habitar em 2074
O livro “Mais do que Casas”, apresentado hoje, no Porto, compila 60 propostas para responder à crise habitacional, apontando caminhos como o da reversão da VCI, naquela cidade, e a criação de modelos de habitação evolutiva adaptáveis à família.
O lançamento do livro homónimo, coeditado com o MUDE – Museu do Design, e do Guia de Intervenção/Orientações marcam o culminar do programa "Mais do que Casas", promovido pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP) no âmbito das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
A publicação é o resultado de dois anos de trabalho colaborativo que envolveu 25 instituições de ensino superior de Arquitectura, Arquitectura Paisagista e Belas Artes, e uma ampla comunidade académica composta por 1750 estudantes e 280 docentes.
Em declarações à Lusa, o director da FAUP, João Pedro Xavier, salientou que o projecto nasceu na escola, dando continuidade a uma longa tradição de envolvimento em questões sociais, como no processo Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) - um programa estatal de construção habitacional surgido após a Revolução dos Cravos - em que professores e estudantes tiveram um papel exemplar.
Confrontado com o agravamento "exponencial" do sector da habitação, considerou que 50 anos depois, era o momento certo para encontrar soluções ou indicar "vias possíveis" para as alcançar, envolvendo toda a comunidade académica do país para propor soluções para o horizonte de 2074.
Lamentando que a habitação se tenha tornado numa mercadoria, o responsável defendeu que as reflexões, sintetizadas no livro e no Guia de Intervenção - que será enviado a instituições com responsabilidades nas áreas da habitação território e cidade - seriam "muito úteis" se lidas e estudadas pelos decisores e políticos, dado que a habitação é, na sua essência, uma questão política e económica.
Com curadoria de Teresa Novais e Luís Tavares Pereira, o livro, com mais de 400 páginas, condensa, entre outros contributos, 60 propostas que procuram dar resposta à pergunta “Como vamos habitar em 2074”, entre as quais uma proposta de reversão da Via de Cintura Interna (VCI) no Porto, transformando-a num corredor verde.
Em conversa com a Lusa, Teresa Novais explica que o trabalho desenvolvido pela Escola Superior Artística do Porto (ESAP) sobre a VCI - que classificou como uma "ferida que dividiu a cidade do Porto a meio" - sugere a sua transformação numa avenida que devolva o território às pessoas, integrando as linhas de água e os espaços verdes adjacentes para reverterem para a cidade.
Outro projecto inovador destacado é o modelo de habitação adaptativa, pensado para responder às realidades contemporâneas da família portuguesa.
Inspirado em modelos cooperativos de outros países europeus e nacionais, a proposta ensaiada em Leiria prevê edifícios residenciais em que a divisão dos espaços internos pode ser alterada conforme as necessidades dos moradores.
É possível adicionar ou retirar quartos à unidade habitacional conforme a composição da família muda, aproveitando áreas comuns ou flexibilizando espaços internos.
Guia de Intervenção/Orientações: 5 eixos
Teresa Novais sublinhou que, embora não seja novo (citando o exemplo da Quinta da Malagueira de Siza), este modelo está em desuso devido à actual legislação, sendo fundamental que o código da construção se adapte à contemporaneidade e às novas e variadas formas de viver.
Para a curadora, ambos os projectos exemplificam a urgência de repensar a cidade e a habitação em Portugal, promovendo a transformação das infraestruturas urbanas e dos modelos residenciais para maior inclusão, sustentabilidade e flexibilidade.
O Guia de Intervenção/Orientações proposto neste livro reúne recomendações em cinco eixos: Cidade e Cidadania, Cidade e Ecologia, Tecnologia e Sustentabilidade, Novas Cidades e Comunidades, e Cidade como Recurso.
O documento enfatiza a necessidade de participação colectiva, adaptação ecológica, circularidade na construção e modelos habitacionais flexíveis e inclusivos, articulando propostas que visam cidades resilientes e habitáveis no horizonte de 2074.
Lusa/DI















