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Livro “Mais do que Casas” propõe 60 soluções para habitar em 2074

Ilustração de blossomstar em Freepik

Livro “Mais do que Casas” propõe 60 soluções para habitar em 2074

13 de novembro de 2025

O livro “Mais do que Casas”, apresentado hoje, no Porto, compila 60 propostas para responder à crise habitacional, apontando caminhos como o da reversão da VCI, naquela cidade, e a criação de modelos de habitação evolutiva adaptáveis à família.

O lançamento do livro homónimo, coeditado com o MUDE – Museu do Design, e do Guia de Intervenção/Orientações marcam o culminar do programa "Mais do que Casas", promovido pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP) no âmbito das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.

A publicação é o resultado de dois anos de trabalho colaborativo que envolveu 25 instituições de ensino superior de Arquitectura, Arquitectura Paisagista e Belas Artes, e uma ampla comunidade académica composta por 1750 estudantes e 280 docentes.

Em declarações à Lusa, o director da FAUP, João Pedro Xavier, salientou que o projecto nasceu na escola, dando continuidade a uma longa tradição de envolvimento em questões sociais, como no processo Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) - um programa estatal de construção habitacional surgido após a Revolução dos Cravos - em que professores e estudantes tiveram um papel exemplar.


Confrontado com o agravamento "exponencial" do sector da habitação, considerou que 50 anos depois, era o momento certo para encontrar soluções ou indicar "vias possíveis" para as alcançar, envolvendo toda a comunidade académica do país para propor soluções para o horizonte de 2074.

Lamentando que a habitação se tenha tornado numa mercadoria, o responsável defendeu que as reflexões, sintetizadas no livro e no Guia de Intervenção - que será enviado a instituições com responsabilidades nas áreas da habitação território e cidade - seriam "muito úteis" se lidas e estudadas pelos decisores e políticos, dado que a habitação é, na sua essência, uma questão política e económica.

Com curadoria de Teresa Novais e Luís Tavares Pereira, o livro, com mais de 400 páginas, condensa, entre outros contributos, 60 propostas que procuram dar resposta à pergunta “Como vamos habitar em 2074”, entre as quais uma proposta de reversão da Via de Cintura Interna (VCI) no Porto, transformando-a num corredor verde.

Em conversa com a Lusa, Teresa Novais explica que o trabalho desenvolvido pela Escola Superior Artística do Porto (ESAP) sobre a VCI - que classificou como uma "ferida que dividiu a cidade do Porto a meio" - sugere a sua transformação numa avenida que devolva o território às pessoas, integrando as linhas de água e os espaços verdes adjacentes para reverterem para a cidade.

Outro projecto inovador destacado é o modelo de habitação adaptativa, pensado para responder às realidades contemporâneas da família portuguesa.

Inspirado em modelos cooperativos de outros países europeus e nacionais, a proposta ensaiada em Leiria prevê edifícios residenciais em que a divisão dos espaços internos pode ser alterada conforme as necessidades dos moradores.

É possível adicionar ou retirar quartos à unidade habitacional conforme a composição da família muda, aproveitando áreas comuns ou flexibilizando espaços internos.


Guia de Intervenção/Orientações: 5 eixos

Teresa Novais sublinhou que, embora não seja novo (citando o exemplo da Quinta da Malagueira de Siza), este modelo está em desuso devido à actual legislação, sendo fundamental que o código da construção se adapte à contemporaneidade e às novas e variadas formas de viver.

Para a curadora, ambos os projectos exemplificam a urgência de repensar a cidade e a habitação em Portugal, promovendo a transformação das infraestruturas urbanas e dos modelos residenciais para maior inclusão, sustentabilidade e flexibilidade.

O Guia de Intervenção/Orientações proposto neste livro reúne recomendações em cinco eixos: Cidade e Cidadania, Cidade e Ecologia, Tecnologia e Sustentabilidade, Novas Cidades e Comunidades, e Cidade como Recurso.

O documento enfatiza a necessidade de participação colectiva, adaptação ecológica, circularidade na construção e modelos habitacionais flexíveis e inclusivos, articulando propostas que visam cidades resilientes e habitáveis no horizonte de 2074.

Lusa/DI