Já circula o velhinho ‘eléctrico’ para a Praia das Maçãs
A circulação do Eléctrico de Sintra foi retomada desde o dia 27 de junho, após intervenções na linha. Há 119 anos que o eléctrico existe e, hoje, mais do que nunca, é um verdadeiro ex-libris de uma das regiões portuguesas mais visitados por turistas.
“O icónico Eléctrico de Sintra liga a serra ao mar num percurso que vai da Estefânia, no centro de Sintra, até à Praia das Maçãs, ao longo de quase 13 quilómetros. Numa viagem de cerca 45 minutos os passageiros podem usufruir de um singular passeio turístico” - conta-nos o sítio da autarquia. Que consta a ‘estória’ desta relíquia em movimento:
“A ideia de ligar Sintra a Colares e, posteriormente, à Praia das Maçãs surgiu em 1886. Durante vários anos foram feitas sucessivas tentativas para a concretização deste projecto que fracassaram uma a uma”.
“Só em Novembro de 1898 foi dado um passo de gigante, quando a Câmara Municipal de Sintra concedeu a Nunes de Carvalho e Emídio Pinheiro Borges, pelo prazo de 99 anos, a concessão para construir e explorar um caminho de ferro a vapor entre Sintra e a Praia das Maçãs, mais tarde substituída pela tracção eléctrica”.
“Em Agosto de 1902, na zona da Estefânia, começou a construção desta linha e em Março de 1903, são encomendados à firma americana J. G. Brill Company, 13 eléctricos, sendo sete carros motores e seis atrelados”.
“Desde o início prossegue o relato - , a vida dos eléctricos foi sempre atribulada. Em 1914 é constituída a Companhia Sintra-Atlântico, que substituiu a anterior empresa que entretanto falira”.
“A 31 de janeiro de 1930 os eléctricos chegam à pitoresca vila das Azenhas do Mar, atingido assim a sua máxima extensão de 14,600 metros. Os eléctricos de Sintra tinham entrado no seu melhor período, impulsionados pelo dinamismo do seu administrador, Camilo Farinhas, que dirigiu a Sintra-Atlântico até ao ano da sua morte, em 1946”.
“A decadência surgiu a partir de finais dos anos 40, com o desenvolvimento dos transportes mecânicos. A partir de 1953, os eléctricos passam a funcionar somente durante o Verão e, em 1955, é encerrado o troço Praia das Maçãs-Azenhas do Mar. Em 1958 o mesmo acontece ao troço entre a Vila Velha e a Estação de Sintra, devido ao alargamento da Volta do Duche e do incremento do tráfego automóvel nesta zona de Sintra.
“Funcionando unicamente nas épocas estivais entre Sintra (Estação) e a Praia das Maçãs, os eléctricos vão adquirir um estatuto muito especial, tornando-se num autêntico ex-libris de Sintra, conhecendo um novo período de ouro”.
“Em aAgosto de 1967, a Sintra-Atlântico é comprada pelo grupo de camionagem Eduardo Jorge. Com esta nova administração o investimento nos eléctricos reduz-se ao mínimo da sua sobrevivência, esperando pelo fim da sua concessão pois, a exploração há muito tinha deixado de ser rentável. A degradação das infraestruturas e material circulante tornam-se visíveis, fruto do desinvestimento por parte da empresa concessionária”.
“Este panorama nada animador - prossegue a descrição - prolonga-se até 1974, ano em que os eléctricos funcionam pela última vez até Sintra. Em julho de 1975 é autorizada a substituição dos eléctricos por autocarros”.
“Apesar de todas as adversidades, a vontade de colocar os eléctricos novamente nos carris não acabou e a 15 de Maio de 1980, foi oficialmente reiniciada a circulação dos eléctricos nesta linha mas, somente entre o Banzão e a praia”.
“Entre 1996/97 foi recuperado o troço entre a Ribeira e a Praia das Maçãs e a 30 de Outubro de 1997, a Ribeira viu novamente a chegada dos eléctricos. A 4 de Junho de 2004, precisamente no ano do seu centenário, os eléctricos chegam de novo a Sintra, mais propriamente até à zona da Estefânia”.
“De novo em funcionamento - conclui o relato - este “património sobre carris” e muitos anos depois, é com grande alegria que se voltou a ver os carros eléctricos a circular cheios de passageiros”.