Investimento imobiliário em Portugal teve uma quebra de 50% em 2023 - afirma a Savills
No final de 2023, o mercado de investimento imobiliário português somou um total de 1,6 mil milhões de euros, número que representa uma quebra de 50% face ao ano transacto. Este cenário revela que, segundo a consultora Savills, “Portugal seguiu a trajectória do continente europeu, que registou um decréscimo acentuado nos volumes de investimento. Factores como as elevadas taxas de inflação, o aumento do custo da dívida e desencontro de expectativas do preço de venda entre compradores e vendedores, estão na base da quebra da actividade”.
Acrescenta ainda a Savills para explicar o balanço de 2023: “Os processos de tomada de decisão mais lentos, directamente influenciados pelos riscos de uma realidade macroeconómica instável, resultaram numa diminuição natural de transacções afectando, em particular, operações com tickets de investimento mais elevados ou que envolvem activos secundários com maior risco associado”.
Em 2023, à excepção do segmento de retalho e de hospitalidade, todos os restantes observaram descidas expressivas nos seus volumes de investimento relativamente a 2022. O segmento de retail com um volume total de investimento 42% acima do observado em 2022 e representando 38% do volume de investimento total, destaca-se enquanto segmento mais resiliente em 2023. Centros Comerciais e Retail parks, stand-alones, superfícies de distribuição alimentar e lojas de rua foram os formatos que captaram um maior interesse dos investidores. A venda do Portfolio Amália à LCN Capital Partners por 150 milhões de euros e, já na recta final do ano, a venda de 5 retail parks pela Mitiska ao suíço Partners Group por um valor estimado de 100 milhões de euros, protagonizaram as duas maiores transacções do ano.
Por sua vez, o investimento em ‘hospitality’ cifrou-se nos 571 milhões de euros, demonstrando que o claro interesse e aposta dos investidores neste segmento foi decisivo para atenuar os números da actividade de investimento no real estate em 2023. Com os principais indicadores de desempenho a ultrapassar os números pré-pandemia, o sector assumiu-se como fundamental para o dinamismo da economia nacional, atraindo um forte interesse de investidores internacionais. A venda do Portfolio Hotéis Dom Pedro por 250 milhões de euros à Arrow Global constituiu-se como a maior transacção do ano.
Merece realce para a consultora o facto de que, pela primeira vez, “o investimento nos denominados segmentos alternativos ter ultrapassado o volume de investimento observado em segmentos estrela e mais tradicionais, como é ocaso do segmento de escritório. Para tal resultado, contribui o investimento cifrado em mais de 100 milhões de euros em residência de estudantes localizadas em Lisboa e Porto”.
Origem do capital
Em 2023 foram fechadas 79 transacções de investimento, 54% das quais assinadas por investidores nacionais que representaram 30% do volume total de investimento imobiliário, com fundos de investimento imobiliário, family offices e investidores privados a direccionarem o seu capital para a aquisição de activos nos segmentos de retalho, hospitality e escritórios.
Já o capital ‘cross-border’ totalizou um volume de investimento de 1,1 mil milhões de euros, principalmente direccionado para os segmentos de hospitality, retalho, healthcare e student housing.
Como será 2024?
Para a Savills, “A recuperação do mercado de investimento em 2024 está directamente interligada com o momento em que se iniciar a descida as taxas de juro, conduzindo a uma maior estabilidade dos indicadores económicos e ao aumento dos índices de confiança dos agentes.
As previsões apontam para seis descidas de juros de 25 pontos base em 2024, a iniciar no final do 1º trimestre, o que conduzirá certamente os investidores a adoptarem novas estratégias que integrem um cenário macrofinanceiro mais favorável. Uma diversificação do risco direccionada para segmentos alternativos deverá ser a estratégia a utilizar pelos investidores, a par do crescente interesse nos segmentos de hospitality e retail.
Paulo Silva, Head of Country, Savills Portugal, analisa deste modo os resultados apresentados pelo estudo: "Os volumes do investimento imobiliário registados em Portugal encontram-se em linha com declínio médio de 50% na Europa, resultado dos desafios relacionados com o contexto inflacionário, do aumento das taxas de juro e da correcção (em alta) das rendibilidades exigidas pelos investidores. Por outro lado, um ajustamento de preços mais lento face à realidade de outros países europeus dificultou também a canalização do investimento para o mercado nacional. Para 2024 e após o período de eleições legislativas que se aproxima, espera-se uma estabilização do mercado, nomeadamente a partir do segundo semestre do ano, com os investidores a adoptarem estratégias de diversificação da sua carteira de forma a controlarem o seu nível de exposição ao risco. Apesar dos desafios existentes, Portugal deve tirar partido dos seus pontos fortes para atrair investimento estrangeiro, que foi responsável por mais de 85% do sector na última década."